Ibovespa segura os 99 mil pontos, mas cai 1,2% e volta a patamares pré-reforma

Mercado se livrou de uma queda maior ainda, mas mesmo assim acendeu a luz de alerta a analistas em meio à aversão ao risco com temores de recessão global

Ricardo Bomfim

Ações em queda (Crédito: Shutterstock)

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SÃO PAULO – O Ibovespa fechou em queda nesta quinta-feira (15), mas o saldo poderia ter sido bem pior. Na mínima, o principal índice da B3 chegou a cair mais de 2%, a 98.200 pontos. 

Terminada a sessão, o Ibovespa teve queda de 1,2% a 99.056 pontos com volume financeiro negociado de R$ 21 bilhões. Com isso, o benchmark encerrou a sessão em seu menor patamar desde o dia 17 de junho, antes da aprovação da reforma da Previdência em primeiro turno na Câmara dos Deputados, quando ficou cotado em 97.623 pontos. 

A Bolsa sofreu hoje principalmente com um flight to quality – quando investidores vendem ações e buscam ativos mais seguros – global.

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O rendimento do título da dívida norte-americana de 10 anos caiu abaixo de 1,5% pela primeira vez em mais de uma década e o de 30 anos despencou para menos de 2% pela primeira vez na história. Ao mesmo tempo, o ouro sobe 0,38%. 

Os movimentos se seguiram a notícias de que o Banco Central Europeu (BCE) está preparando um pacote de estímulo para a reunião de política monetária de setembro. 

A principal pressão negativa no mercado brasileiro veio de Petrobras e Vale, que refletem o desempenho negativo das commodities. A petroleira foi a principal baixa entre as blue chips da carteira teórica e acompanhou a cotação do petróleo no mercado internacional. O barril do Brent caiu pouco mais de 1% e agora opera a US$ 58,33, ao mesmo tempo em que o barril do WTI recua 1,05% a US$ 54,65.

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Lá fora, seguem as notícias de que o presidente norte-americano Donald Trump e o líder chinês, Xi Jinping, estão em contato para tentar um acordo comercial. Todavia, à Fox, Trump disse que o acordo será nos termos dos EUA. 

Entre os países emergentes, o México reduziu suas taxas de juros de 8,25% para 8% ao ano. A expectativa dos economistas era de manutenção. 

Por aqui, o Banco Central brasileiro iniciou uma atuação inédita para evitar um rali do dólar. Serão feitos leilões diários de até US$ 500 milhões em dólar à vista ao mesmo tempo em que o BC ofertará swaps cambiais reversos.  

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Com isso, o dólar comercial caiu 1,24% a R$ 3,9878 na compra e a R$ 3,9903 na venda. O dólar futuro com vencimento em setembro caía 1,56%, cotado a R$ 3,994. 

De acordo com o diretor da corretora Mirae Asset, Pablo Spyer, a atuação do BC reflete a escassez de dólares na Argentina. “Os argentinos compraram muito dólar diante do risco eleitoral lá. Estão comprando tudo enquanto o peso tem liquidez, por isso no nosso banco central teve que começar a vender a moeda”, avalia. 

No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2021 recua quatro pontos-base a 5,44%, ao passo que o DI para janeiro de 2023 tem perdas de cinco pontos-base a 6,42%.

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As bolsas europeias fecharam em queda, tendo virado para baixa após a China anunciar que precisa tomar “contramedidas necessárias” ao plano dos Estados Unidos de impor uma tarifa de 10% a mais US$ 300 bilhões em produtos chineses. 

Pequim alega também que o plano de Washington viola um consenso alcançado entre Trump e Xi. 

Nos EUA, os índices Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq apresentaram leves altas, resistindo a toda a pressão vendedora que surgiu ao longo do pregão. 

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Dados dos EUA

Hoje foram divulgadas as vendas no varejo nos EUA, voltando a registrar uma variação mais forte nesta tarde. Em julho, o indicador americano subiu 0,7%, bem acima das expectativas de 0,3%. Sem automóveis, as vendas no varejo cresceram 1%, contra 0,4% esperados no consenso de mercado. 

Por outro lado, a produção industrial dos EUA em julho sofreu uma retração de 0,2%, abaixo das estimativas de expansão de 0,1%. A utilização de capacidade instalada caiu de 77,5% para 77,8% no país. 

Noticiário Corporativo

Os destaques entre as empresas são os resultados do segundo trimestre. A operadora de telefonia Oi (OIBR3) reportou um prejuízo dos acionistas controladores de R$ 1,5 bilhão no segundo trimestre, uma perda 24% superior a reportada no mesmo período do ano passado. Já o resultado das operações consolidadas apresentou prejuízo de R$ 1,6 bilhão.

A JBS (JBSS3) teve no segundo trimestre de 2019 um lucro líquido de R$ 2,2 bilhões, revertendo um prejuízo líquido de R$ 911 milhões registrado no mesmo período do ano anterior. No acumulado dos seis primeiros meses de 2019, a companhia teve lucro líquido de R$ 3,3 bilhões.

A Marfrig (MRFG3) reverteu no segundo trimestre um prejuízo de quase R$ 600 milhões registrados no ano passado e obteve lucro de R$ 86,5 milhões entre abril e junho deste ano, o terceiro lucro trimestral consecutivo guiado por melhora operacional.

A Natura (NATU3) viu o lucro do segundo trimestre mais que dobrar na base de comparação anual com fortes vendas e controle de custos. O lucro líquido saltou 109,4%, para R$ 66,6 milhões.

A Ultrapar (UGPA3) viu seu lucro líquido cair 47%, para R$ 127 milhões, no segundo trimestre de 2019 na comparação com abril e junho de 2018, em meio ao desempenho fraco de Oxiteno e Ipiranga.

A Via Varejo (VVAR3), dona das Casas Bahia e Ponto Frio, teve prejuízo líquido de R$ 154 milhões no segundo trimestre de 2019, revertendo lucro de R$ 14 milhões em igual período de 2018.

A Sabesp (SBSP3) reportou um lucro 2,5 vezes superior, atingindo R$ 454,4 milhões, influenciado pela melhora no resultado financeiro por conta dos ganhos com variação cambial sobre empréstimos e financiamentos.

As maiores baixas, dentre as ações que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 UGPA3 ULTRAPAR ON 16,88 -8,41 -35,70 227,99M
 SBSP3 SABESP ON 52,64 -5,93 +67,11 403,29M
 KROT3 KROTON ON 10,75 -5,78 +22,26 379,85M
 VVAR3 VIAVAREJO ON 7,69 -5,18 +75,17 490,73M
 BTOW3 B2W DIGITAL ON 42,06 -4,84 +0,10 144,13M

As maiores altas, dentre os papéis que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 JBSS3 JBS ON 28,62 +4,64 +146,96 747,90M
 RAIL3 RUMO S.A. ON 22,17 +0,91 +30,41 216,60M
 VIVT4 TELEF BRASILPN 51,67 +0,84 +18,49 150,17M
 BRFS3 BRF SA ON 38,16 +0,42 +74,01 214,63M
 ITSA4 ITAUSA PN 12,80 +0,39 +12,65 452,38M

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram:

 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1 Vol 30d1 Neg 
 PETR4 PETROBRAS PN EJ N2 24,23 -2,77 1,30B 1,12B 86.298 
 VALE3 VALE ON 43,89 -2,21 1,04B 933,98M 50.888 
 JBSS3 JBS ON 28,62 +4,64 747,90M 233,43M 60.449 
 BBDC4 BRADESCO PN 33,20 -0,69 742,69M 750,58M 34.455 
 ITUB4 ITAUUNIBANCOPN 35,00 -0,28 666,83M 807,67M 36.758 
 BBAS3 BRASIL ON 45,85 -0,09 495,29M 513,36M 28.245 
 VVAR3 VIAVAREJO ON 7,69 -5,18 490,73M 260,50M 65.310 
 ITSA4 ITAUSA PN 12,80 +0,39 452,38M 258,95M 37.113 
 B3SA3 B3 ON 43,35 -0,80 427,81M 370,90M 29.251 
 ABEV3 AMBEV S/A ON 18,78 -1,21 407,90M 464,22M 27.201 

* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)
IBOVESPA

Banco Central

A última vez em que o BC tinha leiloado dólares das reservas à vista tinha sido em 3 de fevereiro de 2009, ainda durante a crise do subprime no mercado imobiliário dos Estados Unidos. Com a decisão anunciada ontem, o BC muda a política de intervenções no câmbio. Até agora, o movimento era de leiloar contratos de swap cambial tradicional, que equivalem à venda de dólares no mercado futuro.

Feitas em reais, essas operações não afetam as reservas internacionais, mas têm impacto na posição cambial do BC e aumentam os juros da dívida pública. Agora, o BC atuará de maneira diferente. Venderá até US$ 550 milhões no mercado à vista e, ao mesmo tempo, comprará o mesmo valor em contratos de swap cambial reverso, que funcionam como compra de dólares no mercado futuro.

Caso a demanda por dólares à vista fique abaixo desse valor, a autoridade monetária completará a operação com contratos de swap tradicional.Ao justificar a medida, o BC explicou que os swaps cambiais tradicionais são demandados por investidores que querem se proteger da volatilidade no câmbio, mas que uma parte do mercado está demandando dólares à vista por causa da situação econômica.

“Considerando a conjuntura econômica atual, a redução na demanda de proteção cambial (hedge) pelos agentes econômicos por meio de swaps cambiais e o aumento da demanda de liquidez no mercado de câmbio à vista, o Banco Central do Brasil comunica que, para efeito de rolagem da sua carteira de swaps, implementará a oferta de leilões simultâneos de câmbio à vista e de swaps reversos”, informou a instituição em nota.

Na nota, a autoridade monetária esclareceu que as operações conjugadas de venda direta, swap tradicional e swap reverso não mudarão a posição cambial do banco. No entanto, o estoque de swap tradicional, atualmente em torno de US$ 70 bilhões, vai aumentar, assim como o valor das reservas internacionais vai diminuir menos de 1%.

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.