Caminhos e descaminhos do paradoxo Brasil

Somos, porém, parcela discreta no volume de renúncias fiscais - R$ 285 bilhões neste ano e até R$332 bilhões em 2020. Do bolo, utilizamos apenas 9% para, com base na Constituição Brasileira, com vistas a reduzir as desigualdades regionais.  

Equipe InfoMoney

Publicidade

Wilson Périco é presidente do CIEAM – Centro da Indústria  do Estado do Amazonas e vice-presidente da Technicolor para a América Latina. 

 Precisamos analisar com franqueza os problemas que afetam o país. Por isso merece atenção a discreta a inclusão dos incentivos fiscais da Zona Franca de Manaus nos dados recolhidos pelo IFI (Instituto Fiscal Independente), do Senado Federal. Enfim, não demonizaram o Amazonas nem duvidaram de seus acertos na modelagem fiscal aqui adotada. Estamos entre os 16% do total de renúncias fiscais do Brasil, dos R$ 45 bilhões com prazo para acabar. E mais: somos o único beneficiário que teve aprovacão pela maioria mais do que absoluta do Congresso Nacional e que presta contas da isenção, segundo o TCU. Somos, porém, parcela discreta no volume de renúncias fiscais – R$ 285 bilhões neste ano e até R$

332 bilhões em 2020. Do bolo, utilizamos apenas 9% para, com base na Constituição Brasileira, com vistas a reduzir as desigualdades regionais. A Amazônia representa dois terços do território nacional.  Geramos investimentos no Sudeste, três vezes a soma dos investimentos locais – da na compra de insumos para o Polo Industrial de Manaus, e com esta fatia de incentivos é estimada a ge ação de 3 milhões de empregos em todo território nacional, sem um centavo de recursos públicos. Considerando a fatia utilizada, apenas pelo BNDES, nos últimos 6 anos, ora sob investigação política vislumbra/judicial, o problema do Brasil, evidentemente, não é apenas a ausência de uma política fiscal ou industrial.

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Outro dado interessante – e paradoxal –  é que dos 27 entes federativos, 26 Estados mais o Distrito Federal, apenas 8 devolvem, em arrecadação de tributos, valores superiores ao repasse compulsório que recebem. 3 Estados do Sul, 4 do Sudeste e 1 da região Norte, a região com os mais baixos indicadores de desenvolvimento humano. Todos esses Estados tem incentivos para alguma atividade: automobilística, autopeças, informática, fármacos, etc…Ora, nos parece que o problema do País não está na renúncia acusada para fomentar algum segmento ou região.

O problema do país é fundamentalmente gerencial, ou gestão desprovida de planejamento estratégico.  É a falta de uma política econômica transparente e que de a necessária segurança jurídica ao investidor.

Os acertos da ZFM, entretanto, não se esgotam em geração de emprego, oportunidades de investimentos internos e redução das desigualdades regionais. Repercute na representação diplomática do Brasil no Reino Unido, onde se concentram as discussões e decisões sobre os fundos relacionados ao Acordo do Clima, a posição da OMC isentando a Zona Franca de Manaus da condenação dos incentivos fiscais dados pelo Brasil ao setor automotivo e eletroeletrônico no Sudeste. 

Continua depois da publicidade

E o motivo é muito simples. Sem gastar um centavo, o Brasil pode exibir como troféu ambiental os serviços de proteção florestal oferecidos pela Zona Franca de Manaus. Temos a mostrar para o mundo “o melhor acerto de proteção florestal do Brasil”, segundo a diplomacia brasileira na Inglaterra, interessada em abris suas portas para a Suframa acolher e orientar investidores interessados em associar sua marca a esta modelagem industrial que protege a floresta. 

E o que pensam disso os investidores aqui instalados –  muitos há quase meio século – e ressabiados com tantas agressões descabidas de atores e redatores da desinformação ou má-fé? Em recente artigo publicado no portal Infomoney, o líder institucional da Honda no Brasil, Paulo Takeuchi, foi enfático: “Estamos produzindo oportunidades na Amazônia há  mais 50 anos, por isso, defendemos que a indústria presente na região  possa apoiar novas pesquisas na construção perseverante de novos paradigmas de desenvolvimento, na busca pela harmonia socioambiental no processo de geração de riqueza, com uso inteligente e sustentável dos recursos naturais”. Ele menciona a planta industrial de 2 rodas na Amazônia, a maior do planeta, no contexto das 72 unidades de produção espalhadas pelo mundo, apoiadas e evoluídas por 35 centros de P&D, pagos pela empresa.

  O problema, portanto, não é apenas a ausência de uma política fiscal, industrial, ou gestão transparente do erário. O problema se agrava no descaso com a política ambiental, e de Ciência e Tecnologia. Iremos a lugar algum com uma economia ambientalmente predatória e com esse inaceitável e crescente desprezo com a gestão dos recursos de pesquisa e desenvolvimento para o Brasil e, principalmente, para a Amazônia, onde as empresas instaladas recolhem bilhões para este fim. 

Pois bem, nós, os investidores da Amazônia, no contexto de nossa responsabilidade socioambiental,  entendemos que essa recursos – mais de R$ 2,3 bilhões nos últimos 5 anos aplicados em outras regiões e para outros fins –  devem ser aplicados na Amazônia, como manda a Lei e o bom-senso, na redução das desigualdades regionais e diversificação de novas modulações econômicas, de agregação de valor com inovação tecnológica.