Carrões e contratos milionários? Empresário de jogadores conta como ele (e os atletas) lidam com as finanças

Tadeu Cruz é empresário de mais de 30 atletas, entre eles o volante Rithely, do Sport Recife, o atacante Niltinho, da Chapecoense e o meia Scarpa, do Fluminense.

Diego Lazzaris Borges

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SÃO PAULO – O futebol movimenta muito dinheiro e mexe com as emoções dos torcedores mundo afora. Mas por trás de todo glamour e dos jogos emocionantes existem reuniões intermináveis de negociação, páginas e páginas de contratos e acordos que nem sempre são cumpridos na íntegra. Parte importante dessa engrenagem são os empresários de futebol, responsáveis por negociar os direitos dos atletas com os clubes em troca de um percentual, que inclui o valor do passe do jogador, os salários que serão pagos durante todo o período do contrato e até os direitos de imagem. A praxe é que eles recebam 10% de tudo. “Se o pacote total for de R$ 20 milhões nós ficamos com R$ 2 milhões”, revela Tadeu Cruz, empresário de atletas há mais de 10 anos, em entrevista ao InfoMoney.

Filho de Milton Cruz, que foi membro da comissão técnica do São Paulo por 22 anos, Tadeu é empresário de mais de 30 atletas, entre eles o volante Rithely, do Sport Recife, o atacante Niltinho, da Chapecoense e o meia Scarpa, do Fluminense. Ele diz que o percentual que ganha sobre os contratos já foi bem maior, quando os empresários ainda podiam deter o direito econômico sobre os jogadores. “Ganhávamos 20%, 30%, até 50%, dependendo da negociação”, afirma. Em 2014 a Fifa estipulou que apenas os clubes poderiam deter os direitos dos atletas.

E nem sempre estes 10% são recebidos facilmente. “Há pouco tempo um clube propôs pagar só 6% e fazer um contrato de 4 anos [o normal são 5 anos]”diz. Além disso, muitos demoram muito tempo para pagar. “Tem clube que parcela em 10 vezes, mas paga só a primeira e nada mais. Estou recebendo agora um contrato de 5 anos atrás, e o clube ainda parcelou a dívida em 36 vezes”, afirma. Segundo Cruz, os empresários costumam ser os últimos da fila quando o clube vai quitar as dívidas pendentes. “Primeiro eles pagam os jogadores, que são os caras que correm. Depois os funcionários e os impostos. A gente fica no final”.

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Apesar de alguns atrasos e pagamentos parcelados, o agente diz que a administração dos clubes tem melhorado no Brasil. “As coisas eram piores antes”, avalia. Para Cruz, a cabeça dos diretores está mudando e se tornando mais profissional. Prova disso são os clubes que tiveram melhor desempenho no campeonato brasileiro de 2016. “Um dos principais exemplos é o Palmeiras, com o Paulo Nobre, que é uma pessoa do mercado, um empresário de sucesso. Flamengo, Santos, Atlético Mineiro e a própria Chapecoense também estão com uma diretoria mais moderna”, elogia.

Antes de se tornar agente dos jogadores, Cruz também atuou nos gramados, nas categorias de base do São Paulo. No time dele foram revelados jogadores de renome, como o próprio Fábio Santos, o atacante Diego Tardelli e o zagueiro Edcarlos. “Foi uma safra boa”, comenta. Aos 22 anos ele decidiu se tornar empresário e foi o mais novo a passar na prova para “Agente Fifa” – antes os empresários que atuavam com atletas de futebol tinham que fazer a prova da entidade e tinham essa denominação. Para atuar como empresário de atletas ele estudou bastante. Fez faculdade de educação física e gestão do esporte e um MBA em Marketing Esportivo, além de uma pós-graduação da Fifa em gestão esportiva.

O primeiro jogador que ele negociou foi o próprio irmão, Tiago Cruz, que começou jogando no Pão de Açúcar – hoje Audax – e depois atuou na Itália e Espanha. Depois ele montou um escritório em sociedade com Bosco Leite, pai do jogador Kaka, que atualmente defende o Orlando City, nos EUA. Ambos eram responsáveis pelos contratos do meia. Desde o ano passado Cruz deixou a sociedade e segue cuidando da carreira de outros atletas.

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Carrões e pedidos de dinheiro

Os jogadores muitas vezes se deslumbram com os altos salários que começam a receber de uma hora para outra e começam a gastar muito. O empresário lembra o caso de um atleta de origem humilde que foi para Europa ganhando R$ 70 mil por mês, com casa e carro pagos pelo clube. “Cheguei na casa dele e mesmo tendo um carro do clube ele comprou uma Mercedes novinha. Estava com um relógio caro no pulso. E ainda reclamou porque eu não tinha tirado a família dele do bairro pobre em que moravam. Eu disse que a responsabilidade era dele e se parasse de gastar com essas coisas poderia comprar uma casa para a família”, lembra .

Outro caso que ele recorda é de um jogador que ganhava cerca de R$ 2 mil por mês e nunca reclamou de falta de dinheiro. Depois de acertar um contrato com um time maior e passar a ganhar R$ 20 mil por mês, ele lhe pediu ajuda financeira. “Ele queria R$ 5 mil. Eu questionei: ‘Ué, você ganhava R$ 2 mil e não pedia nada, agora está ganhando R$ 20 mil e não está sobrando? O que aconteceu?’”.

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Segundo ele, os carros esportivos e de luxo são os maiores objetos do desejo dos jovens boleiros. “Eles sempre querem comprar um carrão. Eu falo: não adianta gastar com carro, ele só vai depreciar. Compra uma casa que pelo menos ela tem a chance de se valorizar”. “Muitos atletas são de origem humilde. Vamos pensar no caso do Adriano, que cresceu em uma comunidade do Rio de Janeiro. De repente ele se vê no meio de festas de luxo, com Ferrari, Lamborghini na garagem, ganhando milhões. Isso mexe com a cabeça dos jogadores”, afirma.

No entanto, apesar das cifras recebidas por alguns atletas serem muito altas, Cruz lembra que o percentual de jogadores brasileiros que que ganha “supersalários” é pequeno. “Apenas 1% dos jogadores ganham mais do que R$ 50 mil. Mais de 80% ganham menos de R$ 5 mil por mês”, afirma.

Assessoria de investimentos

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Apesar das transações de jogadores normalmente envolverem um bom dinheiro, a vida financeira de um empresário de futebol precisa ser muito bem planejada. Isso porque não há um salário fixo e entre um bom negócio e outro muitas vezes podem passar vários meses sem entrar nenhum dinheiro na conta. “Tem mês que recebo R$ X, mas posso ficar 6 meses sem receber nada. Depois recebo R$ 3X e posso ficar mais um ano sem receber. Você não sabe quando vai ser a próxima tacada. Então não é fácil esse controle financeiro”, admite.

Por isso, ele procura fazer investimentos conservadores e que possibilitem renda ou retiradas mensais, sempre que precisar. “Gosto de investir em renda fixa, como CDB (Certificado de Depósito Bancário), LCI (Letras de Crédito Imobiliário) e LCA (Letras de Crédito do Agronegócio). Costumo dizer que lugar de correr risco é no meu trabalho, que eu conheço bem. Já com os investimentos eu prefiro ser mais conservador”.

Há alguns anos o empresário conheceu a Messem Investimentos, escritório credenciado à XP Investimentos, uma das maiores instituições financeiras do país. “Eles conseguem taxas de retorno muito maiores que o banco me oferecia e eu sempre fico dentro do limite do FGC (Fundo Garantidor de Créditos). Então isso me traz tranquilidade para investir e ter um rendimento bem mais alto do que antes”, conclui.

Diego Lazzaris Borges

Coordenador de conteúdo educacional do InfoMoney, ganhou 3 vezes o prêmio de jornalismo da Abecip