Sequestro do Ibovespa pela OGX cria “bomba” para mercado brasileiro

Com isso, o futuro da petrolífera de Eike tornou-se também o futuro do índice nacional: cada 10% que o papel se movimenta, representa 0,7% no movimento do índice

Felipe Moreno

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SÃO PAULO – O Ibovespa teve sua melhor semana desde 2011: alta de 7,47%, terminando a semana aos 53.749 pontos. O índice foi fortemente impulsionado pelos ganhos da OGX Petróleo (OGXP3), que tiveram alta de 73,33%, aos R$ 0,52, sua melhor semana da história.

A petrolífera, porém, é a terceira ação mais representativa do índice – com cerca de 5,6% de peso no Ibovespa, o que garante que ela. Esse número deve crescer ainda mais na segunda-feira, já que a alta de 26,83% nesta sexta-feira deverá fazer com que o peso da ação suba proporcionalmente, para cerca de 7,5%.

Com isso, o futuro da petrolífera de Eike tornou-se também o futuro do índice nacional: cada 10% que o papel se movimenta, representa 0,7% no movimento do índice. Uma queda de 40%, como ocorreu na sexta-feira passada – quando a petrolífera era apenas 1,5% do índice -, causaria uma queda de 2,80% no índice, portanto, de uma ação só. Nesta semana, o papel foi a grande força da bolsa.

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Há poucos anos atrás, o índice brasileiro era excessivamente concentrado em Petrobras (PETR3; PETR4) e Vale (VALE3; VALE5) – que, conjuntamente, representam cerca 20% do índice. Essa concentração continua existindo, mas as blue-chips ganharam uma nova “sócia”: a OGX. E uma sócia muito mais volátil, e portanto, muito mais “danosa” para o índice. 

Petrobras e Vale raramente oscilam mais de 3%, e quando o fazem, “controlam” o índice. A volatilidade histórica de PETR4, um ativo considerado volátil, nas últimas três semanas é de 76 pontos, enquanto a de VALE5 é de 60 pontos, enquanto a de OGXP3 é de 503 pontos – mostrando a diferença entre cada uma dessas empresas. 

Volatilidade da OGX é maior
A ação é uma “penny stock”, valendo centavos, mas é uma das mais negociadas na Bovespa – e, por isso, tem esse peso no índice. Por conta no ajuste de preço trimestralmente, dobra-se ou triplica-se a quantidade de ações OGXP3 presentes no Ibovespa a cada mês – potencializando esse movimento. A própria BM&FBovespa encoraja empresas que vem suas ações nessas cotações a fazer grupamentos.

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E isso faz com que fundos passivos, que seguem o Ibovespa, tenham que comprar boa quantidade das ações no mercado – os fundos do Itaú já se tornaram donos de 7% de todas as ações da empresa por conta disso. Nessa semana, a OGX impulsionou o Ibovespa para alta – mas há o risco de que isso mude. 

O exercício da put de US$ 1 bilhão é motivo de grande controvérsia: fontes distintas afirmam-se que ele pode parar na justiça ou que Eike pode não arcar com sua obrigação. Além disso, ele sinaliza que o caixa da companhia está cada vez mais fraco.

A simples possibilidade de que algo dê errado pode provocar uma queda muito forte em uma ação tão volátil – o que ganha cada vez mais potencial de derrubar o Ibovespa no médio prazo. Seja o que acontecer, a lição é bastante clara para a BM&FBovespa, que estuda mudar a metodologia do benchmark da bolsa: o Ibovespa não pode ser refém de uma única ação.