Quais são os efeitos da prisão do ex-presidente da Dersa sobre a campanha de Geraldo Alckmin?

Notícia vem no momento em que tucano via fantasma de Paulo Vieira se dissipar e buscava novo ritmo com a entrada de Marconi Perillo para a articulação política

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A Polícia Federal deflagrou, na manhã desta quinta-feira (21), a operação Pedra no Caminho, que culminou na prisão de Laurence Casagrande Lourenço, ex-secretário de Logística e Transportes e presidente da Dersa, estatal responsável por obras rodoviárias paulistas, durante a gestão de Geraldo Alckmin (PSDB). Os investigadores avaliam supostos crimes praticados por agentes públicos e empresários durante obras do trecho norte do Rodoanel, com superfaturamento estimado em mais de R$ 600 milhões pelo TCU (Tribunal de Contas da União).

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A notícia volta a atrair atenções à campanha de Alckmin, que tenta viabilizar sua candidatura à presidência em um momento de dificuldades para apresentar resultados satisfatórios nas pesquisas de intenção de voto. Para o analista político Ricardo Ribeiro, da MCM Consultores, o episódio naturalmente afeta negativamente os planos do tucano, mas seria exagero pensar em grandes mudanças de imediato.

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Ele lembra que, mesmo com as dificuldades enfrentadas, o ex-governador vinha de um momento mais favorável, com o fantasma de Paulo Vieira de Souza, ex-diretor da Dersa, se dissipando e a campanha buscando um novo ritmo com a figura do ex-governador goiano Marconi Perillo.

“O principal efeito [do novo episódio] é dificultar um tanto mais as conversas de Alckmin com outros partidos para a formação de uma coalizão. Esse evento reforça um elemento negativo à candidatura de Alckmin, que é a sombra da Lava Jato. A questão da vinculação com investigações com fatos e com fatos que sinalizem problemas relacionados a corrupção é um dos calcanhares de aquiles de Alckmin”, afirmou.

Na avaliação do especialista, uma das consequências da notícia será observada no cronograma eleitoral, que se arrasta para o segundo semestre em função dos novos prazos estabelecidos. A tendência é ainda menos incentivos a decisões precoces. “Isso, no mínimo, vai atrasar um pouco mais a decisão do bloco formado por DEM, PP, Solidariedade e PRB em relação ao apoio à candidatura de Alckmin”.

A despeito dos riscos de o chamado “centrão” rachar com cada sigla caminhando para um lado, ao sabor de suas demandas e estratégias específicas, Ribeiro vislumbra incentivos para uma unidade do grupo ao longo do processo eleitoral. “Não é certo o que vai acontecer no final. Mas parece razoável acreditar que vão chegar juntos, por terem maior poder de barganha. Essa estratégia faz sentido e pode ser mantida”.

Já Rafael Cortez, analista político da Tendências Consultoria, enxerga peso maior da notícia sobre o desempenho eleitoral de Alckmin do que à costura de alianças para a disputa.

“Não há dúvida que, se eventualmente ocorrer um fato político novo decorrente das investigações judiciais, isso pode ser fatal para a campanha de Alckmin, especialmente no tocante à capacidade de sua comunicação em mobilizar o eleitorado branco e nulo, que é marcado sobretudo por um ceticismo em relação à classe política, sentimento que vem aumentando”, afirmou.

O especialista lembra, ainda, dos eleitores que hoje declaram voto ao deputado Jair Bolsonaro (PSL). Em outros pleitos, esta fatia era majoritariamente apoiadora dos candidatos do PSDB, e hoje resiste à ideia de adotar tal postura.

Para Cortez, os efeitos sobre o jogo de alianças são secundários. “Do ponto de vista da construção das alianças eleitorais, me parece que os dilemas são muito mais em relação às composições estaduais do que propriamente ao risco da agenda negativa, que, de alguma maneira, já está precificado pelos atores. Os atores sabem mais ou menos os dilemas de cada candidato no sentido de seu histórico em relação a financiamento de campanha, participação de governo”, avaliou.

O especialista, contudo, vê impactos limitados provocados pelas novas investigações. “Não me parece que traria algo relevante, a menos que haja uma bomba capaz de gerar um impacto que dure, sobretudo em uma campanha que vai ser marcada por muita agenda negativa. Neste momento, como o eleitor está muito influenciado pela Copa, questões políticas têm menos capacidade de afetar a distribuição das preferências do eleitorado, mas certamente é algo que precisa ser visto como fator de risco a ser considerado”, concluiu.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.