Por que Michel Temer sonha com a reeleição, mas ainda não se diz candidato?

Apesar da baixa popularidade, crescem as especulações sobre uma possível candidatura do atual presidente

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Cada vez mais, pelo timing político e o aparente improviso, a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro é entendida como movimentação clara do presidente Michel Temer no tabuleiro eleitoral. O emedebista busca uma postura de maior relevância na disputa por sua sucessão, seja como candidato à reeleição, seja como um ator cortejado pela estrutura de seu partido e da máquina governamental, à medida que outubro se aproxima.

A despeito da baixa popularidade do presidente, a semana trouxe novas especulações sobre a possibilidade de uma tentativa de recondução ao Palácio do Planalto. Pode soar um tanto inusitado, mas este é um cenário avaliado em Brasília, sobretudo após o deslocamento da agenda governista das impopulares reformas fiscais à pauta da segurança pública, com relevante apelo popular. Além disso, a ausência de uma candidatura consolidada na centro-direita reformista reforça os incentivos aos planos de Temer.

“Há uma ambição de materializar um processo presidencial. Em sistemas presidencialistas, é um ponto fora da curva a não tentativa de reeleição. É um movimento razoavelmente natural. Há, inclusive, uma ambição por conta de incentivos como a manutenção do foro privilegiado. Mas é uma engenharia ainda muito complexa”, observou o analista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria.

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Foi simbólico o fato de, em uma semana, a candidatura do principal nome outsider especulado (o apresentador de televisão Luciano Huck, que reafirmou sua indisposição a disputar a presidência) naufragar e a do principal nome do establishment político (o presidente Michel Temer) reaparecer na superfície. “Sob o aspecto da conexão com a política, [o emedebista] é o antípoda mais extremo a Huck. Temer é o mais insider dos candidatos, o mais enraizado no poder e mais afeito ao jogo tradicional da política”, afirmou o analista político Ricardo Ribeiro, da MCM Consultores, em carta a clientes.

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“Temer, após trocar a reforma da Previdência pela intervenção verde oliva na segurança pública do Rio de Janeiro, entrou para valer na corrida presidencial. Colocou um pé firme na corrida manejando com senso de oportunidade e profissionalismo político – como lembrou Moreira Franco nesta semana, Temer e sua turma não são amadores – o instrumento mais poderoso de quem detém o poder e controla a máquina do Estado: a capacidade de definir a agenda política, ou no mínimo de manipulá-la, com vistas a viabilizar interesses eleitorais ou de governo (aprovar uma reforma da Previdência, por exemplo)”, analisou Ribeiro.

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É assim que Temer busca melhorar sua imagem junto ao eleitorado. Segundo o Datafolha, a aprovação do governo emedebista é de apenas 6%, e 60% rejeitam votar em sua permanência por mais quatro anos. Para 73%, Temer é corrupto, enquanto 87% não votariam em algum candidato por ele indicado. O tempo é curto para o presidente recuperar drasticamente seus índices de aprovação e tornar-se um nome competitivo. No Planalto, a narrativa que circula é que Temer não abre mão de ter nessas eleições um nome capaz de defender seu legado, nem que seja ele próprio.

Apesar das intenções cada vez mais difíceis de serem escondidas, ainda há muitos obstáculos para o atual presidente cristalizar sua candidatura à reeleição. “Com a intervenção federal, o governo conseguiu ganhar alguns meses para tentar reverter avaliações negativas. A economia não foi suficiente para gerar algum dividendo eleitoral. [A segurança pública] É uma agenda mais positiva que a fiscal”, explicou Cortez. “Ainda assim, a engenharia ainda é muito complexa, diante de uma rejeição em patamar bastante significativo. Estamos no limite de um lame duck (pato manco)”.

Outro obstáculo à candidatura à reeleição seria de natureza conjuntural. Embora seja o atual presidente e o sistema torne natural tentativas de recondução ao cargo, Temer ainda teria que ganhar musculatura e costurar as alianças necessárias entre os partidos que hoje integram a base aliada para se tornar opção viável. O risco de fragmentação da centro-direita é mais um fator a ameaçar a competitividade do emedebista. Estes seriam apenas alguns exemplos da complexidade do mosaico que se desenha ao atual presidente.

Embora a intervenção federal no Rio de Janeiro seja uma das cartadas definitivas de Temer no plano eleitoral, há grandes riscos na operação. “A nova aposta é arriscada. O tema da segurança pública é muito sensível e escorregadio. Uma bala perdida pode bastar para minar o apoio da opinião pública à intervenção militar no Rio de Janeiro. Pode dar errado. Por enquanto, contudo, sob o ponto de vista do evidente objetivo político que cerca a nova agenda, qual seja, o de inflar as velas da candidatura Temer, está dando bastante certo”, avaliou Ribeiro.

Mas, se há interesse em construir uma candidatura à reeleição, por que Michel Temer não assume? A recondução ao Palácio do Planalto é tema defendido por muitos políticos do entorno do presidente, mas existe uma avaliação (correta politicamente) de que este ainda não é o momento. Antes de ser considerado formalmente peça no xadrez eleitoral, Temer precisaria construir os alicerces políticos de uma candidatura. Inicialmente, isso passaria urgentemente por uma melhora em seus índices de popularidade.

Além disso, formalizar um desejo pela reeleição tornaria Temer alvo ainda mais visível na disputa eleitoral, o que elevaria o tiroteio político. Tal situação já foi evidenciada nas últimas semanas, com os atritos com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que também tenta viabilizar seu nome na disputa ao Planalto. Neste caso, o controle da agenda legislativa é ponto central dos desentendimentos.

Um fator que ajuda Temer em relação aos possíveis adversários na disputa presidencial é também o prazo mais confortável para viabilizar sua candidatura. Pelas regras eleitorais, o presidente, assim como os demais candidatos, tem até 15 de agosto para formalizar seu pedido de candidatura à recondução. No entanto, vale destacar que nomes que desejam participar da disputa e hoje ocupam cargos majoritários precisam descompatibilizar-se no início de abril. É o caso de Alckmin e o ministro da Fazenda Henrique Meirelles, que terão seus objetivos políticos evidenciados pelos movimentos que fizerem daqui a pouco mais de um mês. Entrando mais cedo na corrida, estes nomes correm mais riscos de serem atingidos de início, sobretudo caso se mostrem candidatos competitivos.

“Se os números de Temer melhorarem com alguma consistência até o início de julho, ele pode se animar a levar a candidatura até o final”, argumentou Ribeiro. “Pesando prós e contras, entendemos neste momento que é relevante a probabilidade de Temer ser candidato, uma notícia ruim para Geraldo Alckmin e que, por ampliar a fragmentação das candidaturas, deixaria mais incerto o resultado da eleição. Mas é baixa a probabilidade de se tornar competitivo. Ambas as probabilidades, no entanto, estão com viés de alta”.

É por essas e outras que Temer deve estar perguntando: por que a pressa se amanhã o cenário pode estar mais favorável?

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.