Michel Temer será o ‘posto Ipiranga’ da política em 2018, diz analista político

Em entrevista especial ao InfoMoney, Richard Back diz que, mesmo fora das fotografias eleitorais, atual presidente exercerá papel central na disputa por sua sucessão e a centro-direita deverá ter representante competitivo no processo

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Se a eleição fosse hoje, a política econômica conduzida pelo governo do presidente Michel Temer não teria nenhum representante efetivo disputando a ida para o segundo turno. A menos de dez meses do pleito, com uma gestão recordista em rejeição e opositores de todos os gostos ocupando os principais postos nas sondagens dos grandes institutos, crescem os questionamentos acerca do papel a ser exercido pelo peemedebista (agora emedebista) no pleito.

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Em contraste qualquer interpretação que aponte para uma reencarnação de José Sarney quando este ocupou o Palácio do Planalto, o cenário tende a ter grandes diferenças. Fora das fotografias eleitorais, Michel Temer deverá exercer papel central na disputa por sua sucessão, e a centro-direita deverá ter um representante competitivo neste processo. Essa é a avaliação de Richard Back, analista político da XP Investimentos.

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“Temer é importante. Até temos brincado que ele vai ser o posto Ipiranga neste ano: todo mundo em algum momento tem que passar para abastecer, mas ninguém tira foto e posta na rede social. Muita gente vai evitar aparecer com Temer, mas todo mundo tem que passar por ele em algum momento”, observa Back em entrevista especial ao InfoMoney. Para ele, caso o governismo caminhe junto e não cometa grandes equívocos, dificilmente não ocupará uma das vagas para o segundo turno das eleições presidenciais.

Em condições normais, o governador Geraldo Alckmin seria o nome a aglutinar o centro governista. Contudo, o analista ainda acredita que movimentos ainda precisam ser feitos pelo tucano, como recuperar os espaços perdidos pelo deputado federal Jair Bolsonaro. Do lado da oposição, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem dois caminhos para seguir: escolher um substituto ou dobrar a aposta e deixar com o TSE o ônus de excluir os votos do petista, o que ofereceria um cenário conturbado ao nome consagrado pelas urnas.

Para Back, independentemente de quem for o escolhido pelos brasileiros, as negociações com o PMDB no Congresso serão inevitáveis. Isso porque o partido caminha para construir uma bancada ainda mais expressiva, liderando o número de assentos nas duas casas. “Se hoje você não governa sem o PMDB, em 2019 governará menos ainda sem ele. Há uma tendência de o Congresso puxar um pouco os candidatos para uma agenda de establishment, mais focada no dia a dia da administração, menos estridente. Isso segura um pouco os ímpetos de se tentar dar cavalos de pau no Brasil e com a possibilidade de o Legislativo levar a sério o semipresidencialismo – na verdade, um parlamentarismo –, dependendo da postura do próximo presidente”, observa o analista político. Confira os destaques da entrevista:

InfoMoney – As pesquisas eleitorais hoje colocam três candidatos da oposição à frente na disputa. Qual vai ser o papel do governismo nessas eleições?

Richard Back – Depois da primeira denúncia, escrevi um texto dizendo “nem pato manco, nem Usain Bolt”. Temer não vai se resignar da situação de rejeitado pela política, ele é um natural dali, mas também não vai chegar ao final dos 100 metros voando como o velocista. Em 2018, ele será figura pela qual todo mundo terá que passar em algum momento. É o presidente da República, é um operador competente dos meandros políticos, sabe como se mexer e fazer outras peças se moverem e é importante para a formação de alianças. Temer é importante. Até temos brincado que ele vai ser o posto Ipiranga neste ano: todo mundo em algum momento tem que passar para abastecer, mas ninguém tira foto e posta na rede social. Muita gente vai evitar aparecer com Temer, mas todo mundo tem que passar por ele em algum momento.

IM – Mas ele já teria consciência de que será assim? O discurso hoje tem sido de busca por alguém que, de fato, defenda o legado do governo. O próprio ministro Henrique Meirelles tem batido nessa tecla para se diferenciar do governador Geraldo Alckmin.

RB – Não achei boa a entrevista que ele (Meirelles) deu. Basta lembrar que o PSDB foi fundamental para a sustentação do governo em seu início e que sem ele não se faz a reforma da Previdência como o governo quer. Os tucanos têm um candidato. Se a base lançar outro, vai rachar mais ainda o cenário e isso só favorece os polos. Em pré-campanha, você faz e fala o que quer, mas em algum momento tem que apresentar números de pesquisa. Se não tiver voto, há pouco espaço para ele se lançar candidato, mesmo com o sucesso da economia, mesmo que isso o catapulte em alguma medida ou alguém da base. 

IM – A rejeição de Meirelles é um impeditivo à sua candidatura?

RB – É poderoso dizer: “no governo Lula, eu ajeitei a economia, foi um sucesso, e agora, no governo Temer, os números também ficaram positivos”. Agora, há algumas perguntas: tem partido? Tem aliança? O governo Temer carregar esse candidato ajuda ou atrapalha em alguma medida? O ministro Meirelles tem uma capacidade de comunicação com o país inteiro ou com determinados setores da sociedade? Ele consegue ir a estados mais pobres e passar sua mensagem ou vai ter limitações? É um projeto pessoal ou um projeto político? Por enquanto, há muita intenção – louvável –, mas pouca solidez para essa candidatura. Há risco [de fragmentação do centro]: pode haver um outsider, Alckmin está consolidado como candidato, a não ser que aconteça algo inesperado… 

IM – Bolsonaro entraria na cota de outsider?

RB – Bolsonaro não é um outsider, é um político que não foi absorvido pelo sistema. Outsider é Joaquim Barbosa ou Luciano Huck, que não têm convivência no dia a dia da política, nunca negociaram, disputaram eleição e não têm ideia de como se faz isso. É possível termos um desses dois [na disputa]. Você tem Marina, Ciro, Lula, Bolsonaro, Alckmin, mais Meirelles ou mais Rodrigo Maia… É uma eleição de patamares baixos. Com patamares baixos, Lula e Bolsonaro estão no segundo turno. Se não houver um desses nomes, ou outsider ou dos médios da base do governo, que desponte e consiga encaixar uma campanha, será um cenário arriscado para o centro. O ideal não é a fragmentação, ela joga a favor de Bolsonaro e Lula. 

IM – Apesar dos riscos, portanto, seu cenário-base não é de multiplicidade de candidaturas? Como a complexidade do quadro eleitoral, de disputa casada e com cláusula de barreira, pode evitar a fragmentação?

RB – É natural. Do PT, espero Lula candidato pelo menos até o meio de setembro. É ele que vai mobilizar a estrutura partidária, estimular a formação de palanque, dividir os partidos da base do governo Temer, especialmente na região Nordeste. No meio da eleição, Lula tem dois caminhos: 1) escolher trocar a candidatura e colocar Fernando Haddad, Jaques Wagner ou alguém; 2) ou dobrar a aposta e ir até o final, mesmo que possa ter a candidatura impugnada mais à frente — o ônus para tirar os votos da urna e exclui-los seria do TSE. Imagina como assume o próximo presidente em uma eleição como essa. Não teríamos um 2019 tranquilo. Lula tem a vantagem de poder fazer isso. 

Em outro flanco, Marina e Ciro, com Lula candidato, têm espaço um pouco menor para correr. Alckmin, por sua vez, tem um espaço grande. Em condições normais, seria ele o candidato da base, mas ainda tem muito a construir. O tucano precisa mostrar a que veio. Até agora, ele foi o que sobrou, com muita resiliência, fazendo o jogo certo, mas em algum momento tem que trocar isso e ser candidato, começar a dizer coisas. No fim de semana em que foi eleito presidente do PSDB, falou contra Lula, mas muito mais para bater em Bolsonaro. O PSDB inteiro diz que Lula tem que ser candidato para ser derrotado na urna. É o mantra dos tucanos.

IM – E o que estaria por trás dessas declarações? Existe um receio com os possíveis desdobramentos de um impedimento do petista pela via jurídica?

RB – É desconhecido. Tem o mais pitoresco: “imagina se Lula é preso hoje e amanhã falece na cadeia”. Isso tem uma consequência difícil de se avaliar. Também existe o desejo de ganhar de Lula na urna, para encerrar a história do mito, evitando um varguismo, que até hoje está vivo na sociedade. Tem uma parte da política que não quer ex-presidente preso, e isso serve para Temer em 2019. Em Brasília, é difícil encontrar alguém que diga que quer Lula na cadeia amanhã. 

IM – Como o senhor observa a evolução de Jair Bolsonaro nas pesquisas eleitorais?

Richard Back – Bolsonaro veio forte. Por mais que se diga em avaliações pejorativas que não é um candidato com consistência, a grande verdade é que, até agora, no passo 1, ele foi muito competente, consolidando-se e fugindo da bolha de 5%. Achou um discurso em que não precisa oferecer resultado nem um programa muito bem definido, mais baseado na indignação das pessoas. Agora, o passo 3 é tentar oferecer algo em termos de economia. Esse movimento tem sido um pouco mais lento, ele ainda tem que provar um pouco mais. Veja que foi contra a reforma trabalhista. Vai votar a favor da reforma da Previdência? São perguntas que terá que responder e isso pode dificultar um pouco. 

Outra dificuldade pode ser a comparação com ele mesmo: o Bolsonaro que todo mundo conhecia até janeiro dizia coisas diferentes deste que diz agora. Vamos ver também como reage a ataques, porque apanha muito pouco do meio político e muito da mídia. Ele não tem a experimentação que têm PSDB, PMDB, PP e o PT de apanhar do meio político. Vamos ver qual é a estrutura dele para responder a tudo isso, se vai ter staff para evitar armadilhas. Há bastante pergunta sobre Bolsonaro, mas é inegável que ele andou muito bem nos últimos meses, muito mais do que tem aparecido na superfície, surpreendentemente conseguindo consolidar uma candidatura que ninguém esperava.

Ele é candidato. Se não for, será um retrocesso muito grande. Chegou a um ponto incontornável. Tanto para Lula quando para ele, é preciso contar também com a ajuda da grande geleia da centro-direita. Eles têm que errar muito para um desses polos poder ganhar. Agora, em se tratando de política brasileira, você nunca descarta muitos erros, em que pese o fato de os políticos que compõem esses partidos saberem operar muito bem o sistema. Mas tem uma dose de ego envolvida também nas candidaturas que atrapalha.

IM – Haveria uma dependência dos polos nesse sentido? Se Lula não competir, Bolsonaro terá mais dificuldades?

RB – Tanto Lula quanto ele dependem disso. Os dois são competitivos mesmo sem o outro, mas vão ficar trocando chumbo durante a eleição, porque é bom para ambos. A bolha de Lula se fecha em torno dele e o mesmo ocorre com Bolsonaro. Isso empareda o centro. A leitura de Alckmin é: bater em Lula para tentar atingir o Bolsonaro enquanto este ainda não é um fato consolidado. A ideia é atingir o candidato anti-establishment, forte conservador nos costumes e que tenta ser liberal na economia. Ele ocupa um espaço que é do PSDB e do DEM. 

IM – O senhor observa uma efetiva aglutinação tucana sob comando do candidato Alckmin ou há riscos para isso?

RB – O PSDB está majoritariamente com Alckmin. Dificilmente você vê aquele efeito do “Lulécio” ou do Serra, que ignorou Alckmin e fez campanha para Kassab para a prefeitura de São Paulo em 2008. É muito difícil o PSDB fazer esse tipo de coisa em 2018. Alckmin não é unanimidade dentro do partido — ninguém é, nem Fernando Henrique –, mas acho que consegue aglutinar. No Nordeste, eles não podem fazer campanha para Lula, então terão de fazer para ele. E no centro-sul, onde eles têm mais facilidade, ele vem bem mais forte. Não vejo o PSDB rachando por causa da candidatura de Alckmin, a não ser que ele cometa um erro muito grave, o que não é muito sua cara, ou tenha um problema judicial, que não é o caso hoje mas pode aparecer.

IM – O que o senhor esperaria em termos de governo caso Lula, Bolsonaro ou um nome mais alinhado à agenda governista, como Alckmin, sejam eleitos? As circunstâncias moldarão os candidatos mais que discursos?

RB – Alckmin é alguém que vai tentar fazer reforma, montar uma aliança tradicional do meio político, governar com o que tiver na mão e tentar fazer um governo com a cara dele, que não é extremo para nenhum lado. Low profile, vai tentar pacificar o país e ajeitar economia.

IM – Parecido com Meirelles?

RB – Acho que sim. Meirelles é muito mais técnico e Alckmin tem muito mais visão política, e isso vai ser necessário para construir relações com o Congresso. O ministro larga atrás nesse sentido, porque não é a praia dele, assim como os outros largam atrás dele em matéria econômica. 

Lula tem muito mais capacidade política que os outros dois, de fazer consenso, sentar com o Congresso e falar o mesmo idioma. Ele é um político nato, mas tem dificuldades do ponto de vista jurídico se ganhar, e o país estaria em uma temperatura um pouco mais alta.

IM – Seria uma questão institucional mais latente à despeito da possibilidade de um Congresso um pouco mais controlado?

RB – Exato. Há uma situação social. A parte da sociedade que perdesse para Lula ia ficar muito incomodada. Embora Lula possa fazer um movimento que se espera dele, mais ao centro e menos radical, caso a vitória seja uma possibilidade para ele, assim mesmo é difícil formar uma pacificação na sociedade.

Do Bolsonaro ninguém que vá pacificar a sociedade. Ele pode até moderar bastante mais seu discurso, mas, mesmo assim, se ele tentar pacificar, fazer um governo de união nacional, foge muito da proposta. 

IM – E o que se espera do Congresso?

RB – Para o Congresso, há uma certeza: o PMDB vai ser o maior partido das duas casas. Se hoje você não governa sem o PMDB, em 2019 governará menos ainda sem ele. Há uma tendência de o Congresso puxar um pouco os candidatos para uma agenda de establishment, mais focada no dia a dia da administração, menos estridente. Isso segura um pouco os ímpetos de se tentar dar cavalos de pau no Brasil e com a possibilidade de o Legislativo levar a sério o semipresidencialismo — na verdade, um parlamentarismo –, dependendo da postura do próximo presidente.

IM – Essa avaliação também se aplica ao caso de Lula, em que o personalismo é mais forte?

RB – Em qualquer situação existe a possibilidade, porque se trata de o Congresso querer governar, a despeito de quem é o presidente. Claro que Lula teria um apelo muito forte na sociedade, assim como Bolsonaro. O ex-presidente mobilizaria a sociedade contra isso, daria declarações contundentes na imprensa. Não no limite de estourar a relação com o Congresso, mas de constrangê-lo. Já Alckmin talvez tenha apelo um pouco menor na sociedade, mas também tem uma ocupação interessante de parte do espaço político, sem fazer muitos movimentos, um pouco discreta. Observe em São Paulo como é a relação com a Assembleia, os meios, o Tribunal de Contas. Ele ocupa espaço. Não é uma ocupação estridente, mas efetiva. Dele eu esperaria esse tipo de movimento para inviabilizar isso.

IM – Há quem diga que o Lula de hoje teria grandes dificuldades de lidar com o Congresso. Você concorda?

RB – Não. Lula tem bom trânsito com o meio político. E isso não vem sozinho, ele tem a capacidade de rachar parte do establishment político: Eunício, Renan, Ciro Nogueira, Jader. Ele consegue fazer isso porque ele tem tamanho e voto e sabe potencializar isso. Do Lula, eu não esperaria impeachment. O Bolsonaro, um pouco pelo perfil, mas também pela dificuldade de ter uma base forte e um trânsito mais fluido com o meio político, teria mais preocupações nesse sentido. Seria mais fácil fazer um semipresidencialismo com Bolsonaro do que com os outros dois, pela exclusiva falta de força partidária do Bolsonaro no Congresso. 

IM – Observamos uma fragmentação muito grande do Congresso, crescentes dificuldades em negociações e baixa capacidade das lideranças em comandar bancadas. O que o senhor espera para a próxima legislatura? Vai ser pulverizado, com negociações pontuais e complexas?

RB – Até o final desta legislatura, essa é a cultura. Dilma indiscutivelmente ajudou nisso. Seu governo incentivou criação de partidos e rachas. 

IM – Até mesmo na questão da Lava Jato observamos movimentos de aglutinação do parlamento…

RB – Exato. Se tem alguém que contribuiu enormemente com isso foi Eduardo Cunha. Se essa cultura já existia, ele a amplificou. Para ele, era muito conveniente que houvesse uma grande fragmentação para que reinasse absoluto. Uma vez que o deputado se torna importante, ele não quer mais falar com ministro, mas com presidente, e não quer regredir nessa condição. A próxima legislatura ainda deverá ter bastante disso, mas talvez em menor escala, porque o presidente se torna um pouco maior e tem condição de diminuir isso.

A escolha dos líderes hoje é feita de forma parcial nas bancadas, é muito mais fruto de acordo interno para evitar briga do que ascensão natural de uma figura. Se uma parte da bancada disser que não, os partidos, pelas regras, são um pouco reféns dos deputados. Como expulsar um parlamentar? Ele não vai parar de fazer política, vai para outro partido e na próxima eleição pode roubar seu tempo de televisão. No impeachment de Dilma, o líder do PMDB era Leonardo Picciani. Ele liberou a bancada, votou a favor da ex-presidente, e a punição foi virar ministro [do governo Temer]. A única pessoa recentemente punida nos partidos da base foi Kátia Abreu. Os partidos que compõe a base não têm tanta autoridade sobre os deputados. Se punirem, estão abrindo mão de capital político, financeiro e tempo de televisão. 

Não acho que haverá uma grande mudança com ou sem renovação. Particularmente, sou bastante cético com grandes renovações de fora para dentro da política, porque as estruturas são feitas para serem contrárias a isso e elas são bastante efetivas. Não interessa se na sociedade há demanda, porque elas vão regular a oferta. Quem quiser renovar tem que ir por dentro dos partidos. Há candidatos de vários movimentos dentro dos partidos, alguns se elegem, só que a briga que precisam entender e passar para a sociedade é que, chegando no Congresso, eles têm que fazer o jogo partidário para que possam ter relevância lá. Por menor que seja o partido, é preciso fazê-lo. Então, terá que disputar a liderança, a relatoria, um lugar na mesa diretora, a presidência da Câmara. É preciso ter um posto de relevância lá, porque são 513. A luz é para bem poucos.

IM – Há espaço para Rodrigo Maia ser reeleito presidente da Câmara?

RB – Muito. Acho que Rodrigo é favorito. Ele tem feito uma gestão equilibrada e a presidência da casa é muito poderosa. Os partidos da oposição não têm grandes reclamações e ele conseguiu construir uma relação com o centrão por outros caminhos que não são os de Eduardo Cunha. Claro, é uma troca. Mas veja que ele conseguiu indicar um ministro de sua quota (Alexandre Baldy) na quota do PP. Já no Senado, há uma disputa em que o PMDB tem dois candidatos: o atual presidente, Eunício [Oliveira], e o senador Romero Jucá. É uma disputa de titãs. 

IM – Qual é o cenário para a reforma da Previdência?

RB – Eu gosto de me posicionar: sou a favor da reforma da Previdência. Se você é jovem ou se já é aposentado, para ter perspectiva de receber, é preciso haver adequações no sistema. Essa reforma não é a solucionadora, vai haver outra no médio prazo, mas é preciso haver alguma. No entanto, não consigo enxergar voto. Nem mesmo as contas com exercício pesado de otimismo dão 308 votos. Nosso cálculo com o máximo de estresse dá 290, com 35 no PSDB, 55 no PMDB, 18 no PRB, 25 no PR, 25 no PSD, o PP quase todo completo e o DEM com 24 ou 25.

É bastante difícil votar neste ano eleitoral. O governo vai tentar, mas há um passivo grande da primeira e da segunda denúncias que precisa ser resolvido. Em 2018, a vantagem que há é orçamento novo. Há algum espaço fiscal para tentar trabalhar a Previdência no Congresso, mas não é tão óbvio. Em fevereiro tem Carnaval e, em março, as trocas de partido. Os deputados têm atenção dividida pelo cálculo do que é melhor para eles, a pressão de fechamento de questão vai ser relativizada. Não dá tempo [para votar a reforma]. Acho que no começo do ano que vem já vão jogar para novembro.

IM – Nesse caso, também não seria difícil, considerando a possibilidade de boa parte dos parlamentares não terem conseguido renovar mandato? Quais seriam os incentivos?

RB – Tem mais chance, porque o sujeito que não se elegeu está preocupado com as contas que deixou abertas na campanha e precisa sobreviver politicamente em 2019. Evidentemente, será necessário ter o próximo presidente envolvido nas negociações, para dar o lastro de credibilidade, porque Temer vai sair. Com o sucessor estando à mesa e a favor da reforma, há como resolver. Além disso, para quem for eleito, seria o ponto mais distante da eleição de 2022. 

IM – A reforma política mudou alguns pontos importantes do proceso eleitoral. O que você tem visto em termos de estratégias?

RB – O montante é grande, mas para o nível de gasto que tínhamos é pouco. O dirigente partidário mais racional vai tentar priorizar quem vai ganhar. Quem não tiver candidato a presidente não vai ficar gastando dinheiro com candidaturas majoritárias malsucedidas, melhor gastar com senador, mais deputados. Dentro dos partidos vai ter que ter uma regra muito bem definida, porque as disputas internas podem ficar descontroladas se um lado matar o outro de fome, digamos assim. Acho que não é isso que tem acontecido. Quem tem candidato a presidente vai financiar uma campanha nacional, que é caríssima. Uma parte vai para as candidaturas proporcionais. 

Agora pode impulsionar post em rede social, também tem que reservar um recurso para tempo de televisão. Mesmo que haja uma série de restrições de efeitos especiais, continua caro, é preciso um staff grande. Não vai ser fácil. É pouco dinheiro para muito candidato e todos eles com o sonho de se eleger. Eles vão ter que racionalizar recursos escassos. Quem tem mandato sai na frente de todo mundo. Se eu disse mais cedo que o sistema repele renovações de fora para dentro, imagine com financiamento público.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.