Temer não foi alvo direto, mas sai enfraquecido dos protestos de domingo

Na avaliação de analistas políticos e de mercado ouvidos pelo InfoMoney, está cada vez mais difícil para o presidente equilibrar a pressão popular pelas medidas anticorrupção e os interesses do Congresso contra o avanço da Operação Lava Jato

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – O fato de o presidente Michel Temer não ter sido o alvo direto das manifestações deste domingo (4) não significa que “a voz das ruas” não vai lhe causar dor de cabeça. Analistas políticos consideram que a pressão popular a favor da Lava Jato e contra manobras da classe política força deixa o presidente em uma posição desconfortável e pode deteriorar sua capacidade de governar e aprovar as reformas econômicas no Congresso.

Analistas ouvidos pelo InfoMoney consideram que os protestos forçam o peemedebista a se equilibrar entre acenos às demandas populares anticorrupção e a necessidade de não bater de frente com os interesses de deputados e senadores, uma vez que depende do apoio parlamentar para aprovar as medidas do ajuste fiscal.

Além disso, como destaca Richard Back, analista político da XP Investimentos, a própria dinâmica das investigações da Lava Jato pode levar a novas revelações podem e repentinamente alterar o tabuleiro político atual. “Está certo pensar que Michel Temer escapou da ira dos manifestantes, e que sobrou para Renan Calheiros, Rodrigo Maia e Lula o desgaste de hoje. A questão para refletir aqui é que esta lista de inimigos públicos não diminuirá, e a pergunta a ser feita é: como reagirão os indignados de hoje se a lista da Odebrecht pintar um alvo também no Executivo?”, questiona. 

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Em meio às perdas do mundo político com as manifestações, também é possível esperar um custo mais alto para a governabilidade, o que tende a prejudicar o governo Michel Temer. Na avaliação do analista político da consultoria Tendências, Rafael Cortez, mesmo poupado nos protestos, o presidente sai enfraquecido.

O forte rechaço da população aos políticos pode fazer com que cresça a resistência de deputados e senadores em apoiar medidas de ajuste fiscal impopulares, como é o caso da reforma da Previdência, cujos detalhes deverão ser apresentados na tarde desta segunda-feira. Sendo assim, embora os protestos não tenham questionado o mandato do peemedebista, não seria surpreendente se o governo enfrentasse ainda mais dificuldades na política depois do último domingo.

Na mesma linha, Back, da XP, avalia que há hoje uma equação no mundo político que não fecha: “Políticos temem as ruas, porque temem ficar sem mandato. Mas também temem a prisão, que fica mais próxima se perderem seus mandatos, já que perdem também a prerrogativa de foro privilegiado. Como pedir voto para o cidadão depois de avançar contra a Lava Jato — tão sagrada para a classe média nacional — e depois de votar uma reforma da Previdência — tão sagrada para o trabalhador assalariado?”, questiona.

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O especialista acredita que um dos possíveis resultados de curto prazo das ruas pode ser a inviabilização de votações contra o Judiciário, caso das matérias que tratam do crime de abuso de autoridade por juízes e procuradores — uma proposta foi aprovada na Câmara como emenda ao pacote anticorrupção enquanto outra tramita com o apoio de Calheiros no Senado. Tal efeito pode ser benéfico ao peemedebista, uma vez que o preserva de uma incômoda decisão entre sancionar ou vetar projeto que divide mundo político e Lava Jato.

De todo modo, apesar do que entende como uma compreensível rejeição da classe política, o analista político da XP chama atenção para os riscos de excessos em tal postura pelos manifestantes. “Há que se ter limites. Este clima não é nada saudável, não promete arrefecimento e é evidência de que nossa democracia não anda com a saúde em dia”.

Reação dos mercados
Os mercados, no entanto, estão reagindo sob uma perspectiva diferente. Na avaliação de Matheus Gallina, trader de renda fixa da Quantitas Gestão de Recursos, as manifestações deste domingo geram, sim, um “alívio” por se concentrarem em Renan e na votação da Câmara dos Deputados que desfigurou as medidas anticorrupção. Para ele, isso diminui o risco de que os protestos possam afetar o andamento das medidas de ajuste fiscal do governo.

Em entrevista à Bloomberg, Gallina observa que o mercado está “volátil e leve”, pois existem diversos riscos na cena interna. “Mercado está querendo que as mudanças andem”, resumiu. O trader destaca que, na quinta e sexta-feira passadas, houve um movimento de correção muito relevante, de aversão ao risco interno, e também com abertura dos riscos de Treasuries, além de críticas ao Banco Central de que poderia ter atuado de maneira mais forte nos juros para contribuir com a recuperação da economia.

Gallina estima que a ata do Copom, que será conhecida nesta terça-feira (6), pode trazer um tom ainda mais dovish que o do comunicado divulgado após a reunião da semana passada. Segundo ele, isso permitiria ao mercado “ver melhor” o que o BC está considerando sobre a atividade econômica. “O comunicado citou mais a preocupação com atividade e a ata pode fazer com que a precificação a partir da reunião de janeiro se aproxime do um corte de 50 pontos-base”, afirmou.

(com Bloomberg)

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.