Abundantes com Dilma, ministros técnicos perdem lugar com Temer: mas o que isso significa?

Estudo elaborado pela consultoria Pulso Público ressalta mudanças no ministério; agora, com presidente interino, ele é eminentemente político, o que busca aumentar a governabilidade, e com perfil de ‘centro’

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A composição do ministério do presidente interino Michel Temer é em sua maioria político e com perfil ideológico “centrista”, conforme destaca estudo realizado pelo diretor-executivo da consultoria Pulso Público, Marcelo Issa. “Os ministros de perfil técnico, abundantes durante as gestões de Dilma Rousseff, praticamente não são mais encontrados na Esplanada”, afirma. 

Ao fazer a comparação, o levantamento considerou a atual composição do gabinete de Temer e o ministério de Dilma em dois momentos: quando de sua segunda posse, em 1 de janeiro de 2015, e em março de 2016, ainda com os titulares escolhidos pela presidente após a reforma ministerial de outubro do ano passado.

Os ministros foram “classificados” em quatro categorias: ministros de ‘esquerda’, de ‘direita’, de ‘centro’. A primeira categoria engloba ministros filiados ao PT, ao PCdoB ou ao PDT ou ministros sem filiação partidária, mas que foram levados ao setor público por algum desses partidos e apenas exerceram cargos em suas administrações. A segunda categoria envolve ministros de ‘direita’, que sempre foram filiados a partidos que derivam da ARENA e seus desdobramentos (como o atual PSD, o PP, o PR ou o PRB); ou que têm origem entre entidades representativas do patronato ou do mercado financeiro, independentemente do partido.  

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Já o terceiro grupo corresponde aos filiados ao PSDB, ao PPS, ao PSB e ao PMDB e que não se enquadram no segundo critério usado para caracterização dos ministros de “direita”; ou que já passaram por partidos com diferentes matizes ideológicos ou sem filiação partidária e sem formação acadêmica específica na área. Por fim, há os ministros ‘técnicos’, sem filiação partidária e com clara e específica formação acadêmica na área ou ministros que ingressaram nos órgãos vinculados a suas pastas por concurso público (ministros de carreira).

Issa destaca que, no segundo governo Dilma, cerca de um terço dos ministros tinham perfil técnico, cerca de 40% dos ministros eram de ‘esquerda’ e cerca de 20%, de ‘direita’. Atualmente, destaca a consultoria, apenas dois ministros do presidente em exercício Michel Temer têm perfil técnico: o ministro interino do Planejamento, Dyogo Oliveira, e o titular do gabinete de Segurança Institucional, general Sérgio Etchegoyen. O gabinete do presidente interino Michel Temer é composto eminentemente por políticos com filiação partidária e perfil ideológico de ‘centro’ (60%) e de ‘direita’ (32%).

Mas o que essa mudança significa?
De acordo com Marcelo Issa, isoladamente, a ausência de ministros com perfil técnico não significa perda automática de eficiência na formulação e implementação de políticas públicas, uma vez que a parcela operacional desse processo fica, em geral, a cargo dos escalões inferiores da burocracia governamental. Neste sentido, para avaliar a tendência das decisões estratégicas do governo, deve-se olhar para o perfil ideológico predominante no gabinete ministerial e na coalizão parlamentar que sustentam o governo. “Inclusive porque, em qualquer circunstância, ministros de perfil técnico apenas sobrevivem se estiverem ideologicamente alinhados com esses grupos”, ressalta.

A preponderância de ministros com perfil eminentemente político, no entanto, com a respectiva diminuição no número de ministros com perfil técnico, indica que o chefe do Executivo prestigia o relacionamento com o parlamento, o que deve favorecer as condições de governabilidade”, conclui Issa.

Perfil Ideológico - Pulso Público

Confira a composição dos ministérios de Dilma e de Temer:

Composição - ministério

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.