Impeachment de Dilma pode ser a tábua de salvação para o PT, diz Economist

PT pode ter um futuro mais brilhante, diz revista; porém, se quiser governar novamente, o partido precisa aprender algumas lições mais profundas

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A revista britânica The Economist falou sobre o Brasil na sua edição semanal, especialmente sobre o PT,  em matéria chamada “Lições de uma queda”. Para a revista, o impeachment da presidente Dilma Rousseff pode levar a um futuro mais brilhante para o PT, após escândalos de corrupção terem afetado fortemente o partido. 

A The Economist lembra que, na última quinta-feira, horas depois do Senado decidir afastá-la de seu cargo, Dilma saiu do Palácio do Planalto para se encontrar com apoiadores e prometeu lutar. Porém, atrás dela, estava o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu antecessor e fundador do PT, que parecia abatido, enxugando por várias vezes a testa e os olhos com um lenço. “Sem dúvida, ele estava contemplando o provável fim de mais de 13 anos de governo do PT”, afirma a publicação.

Segundo a Economist, o impeachment de Dilma é um duplo fracasso político. Em primeiro lugar, porque o PT reivindicou o monopólio da ética política e, agora, na mente da população, é identificado como o condutor do esquema para saquear a Petrobras. E Dilma, a quem Lula vendeu como uma competente gerente na economia, revelou-se o contrário disso. 

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Neste cenário, a revista questiona: o que deu errado para o maior partido de esquerda da América Latina? “A resposta começa com a ambiguidade ideológica do PT. Formado em 1980 por sindicalistas dissidentes (como Lula), radicais, movimentos sociais de base e intelectuais marxistas, o PT reivindicou ser um novo tipo de partido, da democracia radical e dos despossuídos”, afirma a publicação. Segundo a revista, ao invés de evoluir no estilo europeu, da social-democracia, o partido permaneceu preso à política da guerra fria. Segundo o sociólogo da USP José de Souza Martins, ao invés  de construir um consenso para as reformas progressistas e para o sistema político, Lula se aliou a partidos conservadores e, por fim,ao PMDB. Além disso, o plano do PT para permanecer no poder indefinidamente levou ao esquema de corrupção na Petrobras. 

 Esta política funcionou enquanto a economia cresceu, quando havia dinheiro suficiente para fazer subsídios e promover os programas sociais. Agora, o PT encontra-se em uma situação difícil, com a sua marca danificada e enfrentando deserções. 

“No entanto, ironicamente, o impeachment pode oferecer ao PT uma tábua de salvação. Ele fornece uma nova narrativa de vítima política. Enquanto Dilma não foi acusada de corrupção, muitos de seus acusadores foram. O agora presidente interino Michel Temer está fazendo o seu melhor para reivindicar a alegação do PT de que ele é uma relíquia de uma ordem corrupta e reacionária. Ao nomear um gabinete composto apenas por homens brancos, ele está levando o Brasil de volta para o início de 1980. Ao adotar o lema nacional ‘Ordem e Progresso’, como o seu próprio, ele está retornando às políticas positivistas elitistas do final do século XIX. Temer nomeou uma equipe econômica altamente competente. Mas os passos necessários para restaurar o crescimento econômico, tais como corte de gastos públicos e reforma da previdência serão muito impopulares”, afirma a revista.

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Além disso, afirma, embora esteja ferido, Lula continua sendo o político mais popular do Brasil e o ex-presidente pode contar com a memória de progresso social durante a sua presidência. Nenhum outro partido tem ligações com a base e com os mais pobres do que o PT. 

“O Brasil, com suas desigualdades de riqueza e poder, precisa de uma esquerda eficaz. O fracasso do PT é, portanto, uma tragédia. Mais livre, ele pode se conectar com os movimentos sociais e perturbar a administração do Temer. Mas, se quiser governar novamente, o partido precisa aprender algumas lições mais profundas. Duas se destacam: ele não tem o ‘direito divino’ do poder e, uma vez que os recursos fiscais do Brasil não são infinitos, o partido deve ter mais cuidado na sua utilização”, conclui a publicação.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.