O massacre do Amazonas expõe a omissão dos governos na segurança e no tráfico

A morte de 56 presos foi resultado da disputa entre duas facções criminosas por espaços no contrabando. Outras tragédias podem ocorrer num sistema prisional apodrecido dominado pelo crime organizado.

José Marcio Mendonça

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O governo federal, juntamente com a trégua política desfrutada desde o Natal, tinha tudo para comemorar o primeiro dia útil do no ano, nesse lapso de tempo até a volta dos trabalhos do Congresso, período no qual espera melhorar a imagem presidencial junto à opinião pública e acertar algumas arestas com os partidos aliados com vistas à carregada agenda legislativa que tem pela frente: reforma da Previdência, reforma trabalhista e, quem sabe outras que o presidente “reformista” colocou na sua lista, como a política e a tributária.

A balança comercial de 2016 bateu o recorde histórico, chegando quase ao US$ 48 bilhões, e os analistas consultados semanalmente pelo Banco Central continuaram com suas previsões otimistas para o comportamento da inflação – vai chegar perto da meta de 4,5% em dezembro. São os dois momentos positivos do governo em meio ainda a turbulências na economia, como os sinais de que a recuperação econômica será gradual, lenta e restrita em 2017.

Mas não deu para ficar feliz em Brasília. O massacre de 56 presos, por desavenças entre duas facções criminosas num presídio em Manaus, jogou luz sobre o caótico sistema penitenciário brasileiro (superlotado, prisões em péssimas condições), mas também e principalmente sobre o domínio que organizações ligadas principalmente ao tráfico exercem nesses presídios, e de lá, orientadas pelos seus chefões, comandam o contrabando e a distribuição de drogas em todo o país. A chacina foi um horror inominável, a ausência da autoridade estatal uma omissão gravíssima. Causou surpresa ontem o silêncio quase total de Brasília. Apenas o ministro da Justiça se movimentou. É pouco para a gravidade do momento.

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Em princípio, a responsabilidade pelo sistema prisional e pela segurança pública é dos estados, com o apoio adicional do governo federal. São poucos os presídios federais. Ainda na semana passada Brasília liberou quase R$ 2 bilhões para os governadores construírem novos presídios, melhorarem os que existem a aperfeiçoarem seus serviços de segurança. Porém, como lembrou o secretário de Segurança dos Amazonas, a questão do tráfico de drogas, origem da disputa entre facções e responsável não só por crimes na cadeia como também por parte da violência crescente nas ruas, é também de responsabilidade do governo federal.

Está falhando o Estado brasileiro como um todo. O sistema penal brasileiro, além de não ressocializar, ainda treina criminosos. Estes não são temas do dia a dia político em Brasília. A capital, um tanto quanto vazia, estava ontem preocupada com a eleição para as presidências do Senado e da câmara, mormente a sucessão da Câmara. A verdade é que outros casos poderão ocorrer a qualquer momento. De acordo com o jornal “O Globo”, a disputa por cocaína do Peru pode resultar em novo banho de sangue. A guerra entre facções é intensa também em Santa Catarina, Paraíba e Pernambuco.

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E CENSURA NA FAZENDA?

O noticiário de Manaus ofuscou também o brilho das luzes do início midiático da gestão dos prefeitos das duas principais capitais brasileiras, com as quais pretendiam se apresentar como novos modelos de políticos: João Dória e seus secretários posando fantasiados de garis e Marcelo Crivella e trupe doando sangue num hemocentro. As repercussões, de um modo geral, ou foram neutras ou de pura ironia.

Censura no Ministério da Fazenda? Segundo a “Folha de S. Paulo”, depois que o governo Temer decidiu, após intensos debates internos, lançar outro programa de parcelamento de dívidas tributárias, a Secretaria da Receita Federal suprimiu, em seu site, trecho de um estudo técnico publicado em setembro com críticas a este tipo de iniciativa. Dizia o texto nas parte suprimida que esses programas têm sido lançados em desacordo com a Lei de Responsabilidade Fiscal e reforçava dúvidas jurídicas em torno das vantagens oferecidas, como redução de multas e juros.

Destaques dos

jornais do dia

– “Saldo comercial bate recorde, mas comércio despenca” (Globo/Estado/Folha/Valor)

– “Previdência tem déficit de R$ 219 bi em 12 meses” (Valor)

– “Queda de investimento público em transporte chegou a 26” (Globo)

– “Vendas de carros despenca e volta a níveis de 2007” (Folha)

– “Calor e chuvas contidas já preocupam o setor elétrico” (Valor)

– “Empresas chinesas na investiram US$ 40 bi no setor elétrico no Brasil em cinco anos” (Globo)

– “China triplica compra de empresas nos Estados Unidos no ano passado” (Valor)

– “Defasagem da tabela do Imposto de Renda chega a 83% desde 1996” (Globo)

– “Temer nomeia indicado de Renan para o Conselho Nacional de Justiça” (Estado)

– “Lava-Jato faz acordos em 37 países (Estado)

LEITURAS SUGERIDAS

1. Ilona Szabó de Carvalho – “Hora de encontrar coragem” (diz que crime organizado comanda grande parte dos presos do país) – Globo

2. Raymundo Costa – “Um governo no corredor da morte” (diz que a corrupção é o tema que pode encher as ruas em 2017 e que há quem diga que governo Temer, Lava-Jato e ajuste são incompatíveis, não há espaço para a coexistência dos três) – Valor

3. Editorial – “Um mergulho na política” (diz que prefeito João Dória, eleito rejeitando a condição de político, assumiu fazendo política) – Estado

4. Editorial – “Aumentos injustificáveis” (diz que para um governo que promete austeridade e tenta impor aos estados medidas de controle de gastos, não poderia ter sido pior o sinal dado pela MP que aumenta salários de oito categorias de servidores) – Estado