A vitória de Temer vai melhorar a confiança dos investidores no governo

Mas depois da PEC do Teto, ele precisa correr para apresentar sinais mais concretos para a população de que a situação vai começar a melhorar. A casa, para a opinião pública, embora a inflação tenha arrefecido, ainda está se deteriorando.

José Marcio Mendonça

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O presidente Michel Temer pôde viajar para a Índia e os deputados governistas debandarem em direção às suas bases eleitorais com o sentimento do dever cumprido, com a aprovação por ampla maioria, no meio da noite de ontem, em primeiro turno, da PEC do Teto de Gastos, por ampla maioria (366 votos pró contra 111). Daqui para frente, faltando ainda mais uma votação na Câmara e duas rodadas no Senado, a proposta deve correr em águas tranquilas. A combalida oposição demonstrou que apenas pode fazer barulho e retardar por algumas horas a criação de um limite para o aumento anual das despesas governamentais. O Supremo, acionado, pelo menos em liminar não foi empecilho.

Da oposição partidária o governo não tem muito a temer nos próximos meses, talvez anos, se conseguir dar um mínimo de racionalidade à economia e construir alguns resultados concretos visíveis para a população. Se algum perigo nesse campo ele corre, de perder batalhas importantes no Congresso que ainda estão por vir, como a da reforma da Previdência, por exemplo, sairá de seus próprios aliados. Diz o jornal “O Estado de S. Paulo”, por exemplo, que deputados aliados não querem relatar esta mudança.

Com a vitória de ontem, governo Temer consolidou, junto aos agentes econômicos do mercado financeiro e aos empresários, a confiança que de que ele será capaz de conduzir as reformas necessárias à retomada do crescimento, de forma sustentada, da economia nacional. A expectativa, subjacente às declarações e ações indiretas desses setores em defesa da proposta, é que os investimentos que ajudarão a arrancada econômica comecem a aparecer. E com cerca rapidez e fluidez, para produzirem alguns resultados imediatos, visíveis, palpáveis, para a população.

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É a lua de mel iniciada quando Temer assumiu interinamente, prorrogada depois de sua confirmação como presidente de fato, que ganha mais fôlego. O governo deu um sinal de que pode entregar o que está prometendo – agora espera e precisa receber.

E tem alguma pressa, pois necessita mostrar resultados concretos, de fato, no curto prazo. Para a sociedade de um modo geral, a situação não mudou praticamente nada, embora a inflação tenha arrefecido. Está quase tudo como dantes, com Dilma.

Na campanha que o governo fez, ajudado pelos empresários, para convencer os parlamentares a aprovarem a PEC, cometeu-se um pequeno deslize de comunicação: passou-se a sensação de que a proposta do controle de gastos vai trazer benefícios quase imediatos. Houve alguns alertas, mas foram poucos. E não é bem realidade que tudo começa a mudar logo.

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Porém, a sociedade tem urgência, está inquieta, ansiosa, como ficou demonstrado pouco mais de duas semanas atrás com a abertura das urnas do primeiro turno das eleições municipais. Ganhou a insatisfação, o descontentamento “com quase tudo que está aí” na política e na gestão pública. A avaliação do governo Temer não é boa e isso preocupa, pois as cobranças, agora restritas a pequeníssimos grupos, podem se espraiar. Por algum tempo será possível ainda jogar a culpa das dificuldades do presente na destrutiva administração Dilma. Mas até quando? Daqui a pouco o governo Dilma será história e tudo será do governo Temer – para o bem e para o mal.

Os problemas estão todos praticamente no mesmo lugar – talvez até agravados pelos descasos dos últimos anos que agora se revelam. A casa ainda está se deteriorando. O desemprego ainda deve crescer – e não será pouco – até começar melhorar, lentamente, como o próprio Palácio do Planalto prevê. Há questões pontuais, mas que já começam a fazer burburinho: há algum tempo começou a faltar remédios de uso contínuo distribuídos gratuitamente nos postos de saúde.

Sobre as perpectiavas para a economia, ver também a entrevista do economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, para o “Na Real na TV.

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O governo tem o que comemorar, mas discretamente.

Outros destaques

dos jornais do dia

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– “Governo aceita repassar parcela maior da repatriação para os estados” (blog do Fernando Rodrigues no UOL)

– “Em crise, cidades do interior paulista estendem feriados” (Estado)

– “Com compra de US$ 1,2 bi, chinesa CTG vira maior geradora privada do país” (Estado)

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– “Estatais chineses lá lideram o setor elétrico privado no país” (Valor)

– “Governo vai alterar regulação dos portos para atrair R$ 23 bi em investimentos” (Valor)

– “Deputados e senadores podem perder aposentadoria especial” (Globo)

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– “Lula, Marcelo Odebrecht e mais nove denunciados por corrupção em negócios com Angola” (Globo/Estado/Folha)

– “Antônio Palocci estuda a hipótese de fazer delação” (Folha)

LEITURAS SUGERIDAS

1. José Casado – “O fim da bonança” (diz que queda do preço do petróleo desmontou caixa da corrupção e os inquéritos começam a demonstrar que operações em Angola (e Venezuela) financiavam subornos) – Globo

2. Míriam Leitão – “Evitar o pior” (diz que PEC do Teto de Gastos não resolve todos os problemas fiscais, mas evita a explosão da dívida pública – Brasil está com um déficit nominal maior do que países como Espanha, Irlanda, Portugal e Grécia) – Globo

3. Vinícius Torres Freire – “Proposta de Temer leva os gastos públicos de volta ao passado” (diz que a aprovação da PEC deve levar despesas do governo federal do nível atual para o mesmo patamar verificado em 2004) – Folha

4. Editorial – “Globalização em risco” (diz que o comércio internacional perdeu fôlego e deve continuar em marcha lenta por mais algum tempo) – Estado