Em clima tenso, Dilma discursa, mas não deve mudar votos pró-impeachment

A presidente licenciada joga sua última cartada, num discurso apresentado como “emocional”, porém nem os aliados acreditam em reversão de votos. Os aliados dos dois lados tentam evitar que o clima desande no Senado.

José Marcio Mendonça

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Após as vexaminosas demonstrações de intolerância, radicalismo e “otras cositas mas” na primeira sessão para a votação definitiva do pedido de impeachment da presidente licenciada Dilma Rousseff, emissários de ambos os lados da contenda se espalharam para evitar que o clima desandasse de vez o de “circo” descrito pelo próprio presidente da casa, Renan Calheiros, e principalmente para garantir um mínimo de civilidade e respeito no depoimento de Dilma hoje e na inquirição a ela que certamente se seguirá.

É o ato final do impeachment e todas as atenções do mundo empresarial e político estão voltados para ele. Não deve mudar os votos pró afastamento de Dilma, mas definirá como será a reconstrução do amargurado ambiente político no Congresso e qual o nível de governabilidade Temer alcançará para então fazer, sem mais a “desculpa” da interinidade, o que é preciso ser feito para colocar a economia nacional nos eixos.

A “pax” já estaria selada. Dilma, segundo porta-vozes de sua trupe, fará um discurso emocional, porém sem “provocações”. Temia-se que Dilma pudesse tentar constranger alguns senadores, principalmente os que foram seus ministros e foram para o outro lado balcão. Do lado dos favoráveis ao impeachment, temiam-se perguntas em tom pouco civilizado, como já se registraram em alguns debates ao longo do processo.

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Está tudo combinado – porém, nunca se sabe, há sempre alguém que pode colocar alguma faísca numa brasa apenas adormecida.

Por isso, será importante o comportamento do presidente da sessão, ministro do Supremo, Ricardo Lewandowski, que será confrontado com uma serie de questões de ordem antes de iniciado o depoimento, de cuja decisão dependerá a tranquilidade ou não do dia.

Os adeptos de Dilma querem mudar a norma até agora seguida para os perguntadores, da ordem de inscrição para um pingue-pongue entre os prós e os contra – acham que a oposição vai ficar muito tempo inquirindo sozinha. A turma de Temer não concorda.

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A turma de Temer, por seu lado, que ter o direito de contestar Dilma quando considerar que ela foi agressiva, independentemente do direito de cinco minutos para a pergunta. Querem também o direito de réplica e treplica. As expressões golpe e golpismo não boca da presidente poderão colocar o rastilho de pólvora, segundo alguns aliados de Temer.

Os senadores hoje governistas mandaram um recado: quem dará o tom da sessão será a presidente: se ela for comedida, eles também serão: se ela for agressiva, a resposta será idêntica.

Lula vai dar o

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tom de Dilma?

Há uma preocupação quanto a esse tom da presidente licenciada por causa ainda da influência do ex-presidente Lula junto à sua pupila, embora não tenha a força que teve no passado. Lula esteve com Dilma ontem à noite para acertar os últimos detalhes do depoimento e hoje estará na plateia do Senado. Ambos chegam ao Congresso juntos e a informação é que Dilma, antes de entrar fará um pequeno discurso para o público que defende a permanência dela.

Lula e o PT, embora não digam abertamente, querem que o discurso dela seja uma linha auxiliar na campanha eleitoral dos petistas em agosto – por isso não deveria ser moderado demais, principalmente na defesa de tese do golpe e nas críticas às políticas que Temer propôs e promete propor na área econômica e social.

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Estão sendo preparados dois filmes, na linha da defesa de Dilma, sobre o impeachment. Há acusações inclusive de que alguns “atores” do processo já estão atuando mais para as filmagens do que propriamente para esclarecer de fato os fatos. E há ainda um agravante, que mexe com muitas vaidades senatoriais: a transmissão ao vivo pela tevê da sessão.

Uma única coisa que parece praticamente certa, é que Dilma não conseguirá reverter votos para salvar seu mandato. Sua apresentação hoje será seu legado político e a tentativa de ser a própria narradora de sua biografia pública.

Aviso de Meirelles: eu sou

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o ministro da economia

Fora isso, não se espera nada de extraordinário no campo nem da política nem da economia até quarta-feira, quando esse capítulo da história política brasileira deverá estar encerrado.

A registrar apenas uma longa entrevista do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, a “O Globo”. Sem grandes novidades, na qual faz, mais uma vez uma defesa enfática da política fiscal até agora e da PEC do Teto de Gastos, todavia com um recado para seu público interno relevante.

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Quando perguntado sobre as mais recentes divergências entre ele e o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, a respeito da necessidade de aumento de imposto (Padilha disse que não haverá, Meirelles disse que pode ser necessário), o ministro da Fazenda fez os elogios de praxe ao colega, disse que estão todos afinados, porém, deixou no ar um alerta: lembrou que quem é o ministro da Fazenda é ele.

Meirelles, contudo, deve conter um pouco seu otimismo quando ao apoio integral do Congresso ao ajuste, principalmente à PEC de Teto. Os jornais “O Estado de S. Paulo” e “Valor Econômico” trazer reportagens dando conta que há ainda fortes resistências à proposta na bancada governista, a começar pelo PMDB, partido do presidente-interino.

Outros destaques dos

jornais do dia

– “TST: empregados e companhias podem negociar sem sindicatos” (Valor)

– “Novas concessões serão sem crédito subsidiado”

– “Governo quer reajustar benefício social apenas pela inflação” (Globo)

– “Indústria da sina de reação, aponta Iedi” (Estado)

– “Receita aponta desvio e tira isenção do Instituto Lula” (Folha)

LEITURAS SUGERIDAS

1. Paulo Guedes – “Sonhos eleitorais” (diz que sem a reversão das expectativas inflacionárias, a inflação e o desemprego em massa derrotarão o ‘establishment’ nas eleições de 2018) – Globo

2. Editorial – ‘Ineficiência municipal”(diz que ranking lançado pelo jornal mostra que a maioria das prefeituras obtém resultados insatisfatórios, refletindo vícios da gestão pública) – Folha

3. José Roberto Toledo – “Temer, carência e reformas” (diz que com o desfecho da crise o governo do PMDB tem motivos para estar aliviado, mas não para comemorar – a contradição está apenas começando) – Estado

4. Marcos Nobre – “O preço do impeachment” (diz que o grande ajuste até agora se limitou ao aperto de um ou outro parafuso) – Valor

5. Editorial – “Alta do juros pelo Fed torna mais urgente o ajuste no Brasil” (diz que para o país isso significa que se está fechando uma janela que permitiria o ajuste econômico se adaptar ao tempo político) – Valor