Lula aconselha Dilma (e PT): “é melhor perder o ministério do que perder a Presidência”

Segundo “Estadão” foi uma conversa de cinco horas do ex-presidente com a sucessora. Com isso, o PMDB ganha mais força no futuro ministério que está vindo por aí e o PT conformou-se em perder o ministério da Saúde com a fusão de pastas sociais

José Marcio Mendonça

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Mesmo com o real ladeira abaixo (e empurrando os juros futuros para cima), o dia do Palácio do Planalto e dos políticos na quarta-feira em Brasília foi consumido quase todo inteiramente pelas conversas/negocociações/acertos em torno da reforma ministerial.

Como se previa, o que foi pensado como um arranjo da presidente para demonstrar ao público a disposição do governo de também ele dar sua parte no sacrifício do equilíbrio das contas públicas, com a poda de dez ministérios dos 39 que acompanha a presidente, tornou-se uma enorme dor de cabeça para Dilma. E mais um complicado no seu já emaranhado xadrez político.

A perspectiva de troca de nomes e alterações nos “mandantes” nos ministérios gerou insatisfações generalizadas e forçou Dilma a mudar os rumos das mudanças que vinha negociando e que seriam anunciadas primeiramente ontem e ficaram para hoje ou se sabe para lá quando, talvez somente para quando ela voltar dos Estados Unidos na semana que vem.

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Embora o governo tenha comemorado, pelo menos para o público, a vitória parcial na questão dos vetos presidenciais, Dilma e seus assessores sabem que os embates maiores ainda estão por vir. As vitórias de terça-feira foram apenas um aperitivo dado pelos parceiros, uma demonstração de boa vontade dos aliados – os pratos principais ainda estão até por serem cozinhados.

No caso dos vetos, ficou faltando, por exemplo, manter a derrubada do aumento de até 75% para os servidores do Judiciário. Estão na fila, cruciais para tornar o ajuste fiscal de 2016 mais ou menos crível, pelo menos mais duas propostas: a recriação da CPMF e a aprovação, com a elevação da cota de 20% para 30%, da Desvinculação das Receitas da União (DRU).

Sem esses dois, o pacote Levy/Barbosa, que segundo muitos especialistas já nasceu amarfanhado, desmonta de vez. É isso que explica, em que pesem as votações favoráveis ao governo na noite de terça-feira, o mercado financeiro ter passado outro dia agitado ontem e real ter dado mais uns passos para trás, mesmo com Banco Central gastando US$ 5 bilhões. A confiança na capacidade do governo de conduzir o processo político e assegurar o ajuste continua quase nula.

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Impeachment, a batalha das batalhas

E há a batalha das batalhas para Dilma, responsável direta por toda a movimentação da presidente nas últimas semanas, no seu melhor estilo atabalhoado politicamente, para acalmar os aliados, especialmente o PMDB – o impeachment.

Ontem, Cunha soltou um “comunicado técnico”, respondendo a questão de ordem levantada pela oposição na semana passada e explicando os ritos burocráticos de um processo desse tipo.

Matreiramente, não respondeu de modo direto à questão central – se a decisão de abrir uma investigação será unicamente dele ou do plenário. Ao mesmo tempo, Eduardo Cunha marcou para a semana que vem o início da análise e despacho dos 13 pedidos de afastamento já protocolados na Casa. 

Diante desse quadro e das pressões e contrapressões que vem recebendo dos aliados, Dilma alterou ontem o novo desenho da Esplanada dos Ministérios que vinha discutindo há dias com seu restrito grupo de auxiliares de confiança. A prioridade passou a ser atender em tudo que for possível o que o PMDB quer, dentro de um princípio enunciado pelo ex-presidente Lula à sucessora, numa conversa reservada de cerca de cinco horas entre os dois, segundo relato de “O Estado de S. Paulo”:

“É melhor perder o ministério do que perder a Presidência”.

Um conselho válido também (e especialmente) para o PT que, depois de ameaçar uma “rebelião” pela possível perda do Ministério da Saúde e pela fusão das secretárias/ministérios da Igualdade Racial, dos Direitos Humanos e das Mulherees em uma única pasta (da Cidadania), achou por bem conformar-se com sua sina de ser o maior perdedor nesse rearranjo de forças em Brasília.

Assim, o quadro de ontem à noite (nada indica que definitivo) estava assim:

1. A presidente desistiu da fusão Portos-Aviação Civil para não diminuir espaços do PMDB e não se indispor ainda mais com o vice-presidente Michel Temer. Os dois ministros das pastas, respectivamente Edinho Araújo e Eliseu Padilha, são da cota pessoal dele.

2. Dilma foi ainda aconselhado por Lula e arranjar um lugar à sombra para o “filho de Jader Barbalho”, codinome pelo qual é mais conhecido o ministro, Helder, destinado a perder a pasta da Pesca pela fusão com a Agricultura. O “filho” pode ir para a Aviação Civil.

3. A Saúde vai mesmo ficar com um peemedebista da Câmara (possivelmente com Manuel Junior, médico paraibano ligado a Eduardo Cunha), que ficariam ainda com a Aviação Civil (o mesmo Padilha) e com o Turismo (com o mesmo Henrique Alves). O Senado manteria Eduardo Braga (Minas e Energia) e Katia Abreu (Agricultura). Seis ministérios ao todo.

2. Desalojado Ministério do Trabalho em conseqüência da programada fusão da pasta com a Previdência Social, o PDT recebeu a oferta de transferir sua bagagem para o Ministério das Comunicações. Indicou o deputado André Figueiredo.

3. O PT lulista ganharia uma entrada de peso no Palácio do Planalto com a ida de Ricardo Berzoini para a Secretaria-geral da Presidência, reforçada da área e articulação política. E com o esvaziamento das funções da Casa Civil de Aloizio Mercadante.

Não se sabe se, com os novos acertos, todos foram dormir felizes para sempre e, ainda mais, se acordarão hoje sem nenhuma ressaca, arrependimento ou mais outras reivindicações.

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