Irritado com a nova denúncia, Eduardo Cunha ameaça explodir o governo

Presidente da Câmara marcou uma entrevista nesta sexta-feira para comunicar seu rompimento com Dilma. A crise política está chegando ao limite - e, segundo a agência Moody’s, já compromete seriamente a economia brasileira

José Marcio Mendonça

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SÃO PAULO – O governo estava contando que o recesso (branco, pois os parlamentares não votaram a LDO de 2015 e não poderiam sair em férias) de 15 dias do Congresso Nacional a partir de hoje arrefecesse a crise política, engrossada esta semana com outro desdobramento da Operação Lava-Jato, agora com foco no mundo político. 

Sonho de uma noite de inverno. O Congresso viaja, porém a crise fica, mais explosiva ainda, depois que o consultor da Toyo Settal, Julio Camargo, um dos “delatores premiados” do petrolão, deu outro depoimento à Justiça, completando falas anteriores, e denunciou que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, exigiu dele o pagamento de US$ 5 milhões em troca de ajuda para a empresa ganhar um contrato na Petrobras.

Cunha subiu nas paredes, pois seu nome, assim como o de Renan Calheiros, já era citado como um dos investigados pelo STF, porém, nunca havia aparecido tão abertamente, com direito a gravação exibida em público e tudo mais. Tanto o presidente da Câmara quanto o do Senado (assim como boa parte do PMDB) sentiram mais forte o cheiro de queimado e de novo jogaram a culpa dos maus eventos também sobre o Palácio do Planalto. É a velha ideia de que o governo vaza “seletivamente” as informações negativas para desgastá-los e ao partido. 

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Não bastasse, para jogar mais lenha na fogueira, o Ministério Público Federal em Brasília resolveu abrir um processo para investigar o ex-presidente Lula por favorecimento à empresa Odebrecht em negócios no Exterior, no período 2011-2014. Ele já estava fora do Palácio, mas a suspeita é de uso da influência privilegiada. Lula reagiu indignado. O problema, segundo alguns analistas, é que isto pode colocá-lo também na defensiva num momento em que Dilma precisa como nunca dele. 

Agora é a guerra
A turma do PMDB vai agora partir totalmente para a “guerra”, expressão que Cunha teria usado, segundo os jornais, em conversa com o vice-presidente Michel Temer. Isto ocorreu numa conversa pela manhã, quando o presidente do Senado já previa grandes dificuldades para o governo no Congresso no segundo semestre. Depois do vazamento da delação de Julio Camargo, o tom subiu decibéis de estourar qualquer tímpano. 

O presidente da Câmara avisou amigos que hoje pela manhã vai dar uma entrevista anunciando o seu rompimento definitivo com o Palácio do Planalto. Ainda de acordo com os jornais, Dilma também farejou a pólvora e acionou Temer para acalmar os parceiros. Contudo, Temer continua insatisfeito porque o que ele acerta com os aliados não é cumprido nos ministérios e órgãos anexos. Além disso, ele está de partida para os Estados Unidos.

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Em seu blog no Uol, Josias de Sousa disse que Cunha contou aos amigos que “vai explodir o governo”. 

O presidente da Câmara anunciou ainda que vai articular a convocação na CPI da Petrobras dos ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Edinho Silva (Comunicação Social) também citados em delações na Lava-Jato. Eles se livraram na semana passada, em troca do depoimento do ministro José Eduardo Cardozo. 

Renan Calheiros também já botou na mesa seu arsenal de retaliações. Apesar dos apelos do ministro Joaquim Levy, adiou para agosto a análise e votação das mudanças no ICMS e do projeto que facilita a repatriação de dinheiro lícito de brasileiros no Exterior, essenciais para o fechamento razoável das contas do Tesouro Nacional em 2015, cada vez mais distante do superávit primário de 1,13% do PIB prometido no início do ano. Segundo o “Valor Econômico” o governo fechou o primeiro semestre com quase zero de superávit. 

Para completar o inferno prometido para o Planalto, o presidente do Senado avisou que vai tomar as providências para a instalação na volta do recesso das CPIs dos Fundos de Pensão e do BNDES, para investigar suspeitas tidas como tão explosivas com as do petrolão. 

O peso dos entraves políticos
O mais dramático da ampliação da crise política são os seus efeitos sobre a outra faceta das dificuldades que o governo enfrente – a crise gêmea da economia. A crise econômica está cada vez sendo mais afetada pela confusão da política. Coisa que já era sabida, mas ontem ficou mais do que explícita nas manifestações da agência de classificação de risco Moody’s. 

A agência está com uma equipe neste momento analisando a situação brasileira para definir se mantém ou não a nota soberana do Brasil. Esteve em Brasília conversando com o ministro Joaquim Levy e analisando os planos do superávit primário. O relatório que divulgou mostra a desconfiança em relação ao sucesso do ministro e o peso dos entraves políticos. Dois trechos: 

“As investigações de corrupção pressionam significativamente a economia brasileira, arrastando os setores de engenharia e construção e energia, consequentemente afetando também as indústrias de aço e materiais de construção.” 

“A investigação da operação Lava-Jato deixou os investidores cautelosos em relação às companhias não financeiras do Brasil, limitando o acesso delas aos mercados globais de dívida.” 

Diante disso, boa parte dos analistas dá como praticamente certo o rebaixamento da nota brasileira. A dúvida é se cairá apenas um degrau na classificação da Moody’s, mantendo ainda o grau de investimento, ou se o tombo será maior. No segundo caso, desabará um mundo de dificuldades adicionais para a economia. 

O próprio ministro Joaquim Levy parece conformado. Perguntado depois do encontro com os agentes da Moody’s sobre como havia sido a conversa, foi lacônico: “Foi boa.” E ponto. Levy, porém, fez questão de fazer uma advertência para os políticos: 2016 pode ser um ano difícil sem reformas. A mesma opinião expressada pela Moody’s e pela maioria absoluta dos analistas econômicos.

  

Outros destaques dos 

jornais do dia

 

– CONCESSÕES: TAXA DE RETORNO AEROPORTOS – Para atrair os investidores para as concessões, a equipe econômica concluiu mais uma etapa da revisão de um dos parâmetros que vai balizar os leilões, a chamada Taxa Interna de Retorno (TIR) para os quatro aeroportos que serão concedidos ao setor privado — Fortaleza, Salvador, Porto Alegre e Florianópolis. De acordo com nota divulgada pelo Ministério da Fazenda, a TIR foi definida em 8,5% ao ano. Este percentual será usado como taxa de desconto para o cálculo do valor de outorga mínima. 

– SETOR DE SERVIÇOS EM BAIXA – De acordo com o IBGE, a receita nominal do setor de serviços registrou um crescimento de 1,1% em maio frente a igual mês do ano anterior. O resultado de maio passa a ser o segundo menor da série histórica iniciada em 2012 — que era ocupado até então por abril (1,7%) —, atrás apenas do 0,9% de fevereiro. Pelos dados do IBGE (que não levam em conta a inflação), no ano, a taxa acumulada atingiu 2,3%. Em 12 meses, a alta é de 3,8%.

E MAIS:

– Governo federal suspende verbas do ‘Minha Casa’ das famílias mais pobres” (Estadão)

– “CPI [do Carf] quebra sigilo do presidente da Mitsubishi” (Estadão/Globo)

– “Pedaladas fiscais são parte da dinâmica, diz Adams” (Estadão)

– “Governo vende ações do BB para fazer caixa” (Estadão)

– “Petrobrás tenta se desfazer de US$ 1 bilhão de ativos na Argentina” (Globo)

– “Multa terá um impacto de R$ 1,4 bi no balanço do 2º trimestre da Petrobras” (Valor)

– “Armínio: o PSDB precisa tem de ser coerente com o que sempre defendeu” (Valor)

– “Acordo da Grécia desagrada a todos e ainda corre risco” (Valor)

LEITURAS SUGERIDAS

1. Editorial – “Renan, Cunha e o projeto do PMDB” (comenta a disposição do partido de lançar candidato à Presidência em 2018 e diz que a tendência de ruptura com o PT parece irreversível) – Estadão

2. Eliane Catanhede – “Ruptura” (diz que o PMDB não está só lançando com absurda antecedência a candidatura própria em 2018, está se preparando para uma possível posse de Michel Temer agora) – Estadão

3. Rogério L. Furquim Werneck – “De volta ao ilusionismo?” (diz que a condução da política econômica entrou em fase extremamente crítica e que os efeitos do choque de credibilidade propiciado por Levy está perdendo intensidade) – Estadão

4. Pedro Luiz Passos – “Crise de liderança” (diz que sem solução do imbróglio político, a economia brasileira não voltará a crescer) – Folha

5. José Paulo Kupfer – “A um passo do rebaixamento” (diz que as classificações de risco das dívidas brasileiras devem mudadas para pior, mas efeitos práticos tendem a ser limitados) – Estadão

6. Miriam Leitão – “Fator político” (comenta as análises da Moody’s e diz que o que a agência quer entender é o risco político sobre o ajuste) – Globo