Lula critica PT e prepara afastamento do governo

O ex-presidente está exacerbando as críticas ao seu partido e à sua sucessora, preocupado com o possível desgaste da operação Lava-Jato e com a impopularidade da presidente Dilma Rousseff

José Marcio Mendonça

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Estão causando enormes surpresas as críticas cada vez mais diretas do ex-presidente Lula ao PT e cada vez menos indiretas também à presidente Dilma Rousseff. A pergunta que se faz depois dessa nova postura de Lula é: aonde o ex-presidente que chegar. Na segunda-feira, num debate promovido por seu instituto, Lula disse que o PT perdeu a utopia, só pensa em cargos, precisa de uma revolução.

Lula bateu duro, sem dó nem piedade no partido do qual é o presidente de honra: “Eu acho que o PT perdeu um pouco a utopia. Eu lembro como é que a gente acreditava nos sonhos, como a gente chorava quando a gente mesmo falava, tal era a crença. Hoje nós precisamos construir isso porque hoje a gente só pensa em cargo, a gente só pensa em emprego, a gente só pensa em ser eleito e ninguém hoje mais trabalha de graça.”

Foi ontem num evento promovido pelo Instituto Lula, com o presidente do ex-primeiro-ministro socialista da Espanha, Felipe Gonzáles. Para se ter uma idéia de como Lula estava inquieto para falar é que ele ficou calado o tempo todo durante o seminário, de fone de ouvido e nenhuma fala sua estava prevista. Falou e popularmente “soltou o verbo”.

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Na semana passada, diante de um grupo de religiosos, Lula já havia feito críticas a seu partido, sem se preocupar com o vazamento da informação. Agora, foi de público. E foi mais longe: o partido precisa decidir se quer salvar “a pele” ou o projeto, registrou a reportagem do “Valor Econômico”.

Lula não poupou Dilma em nenhuma das duas ocasiões. Para os religiosos foi mais critico, dizendo que ela não ouve suas orientações e, principalmente, insinuando que ela mentiu na campanha eleitoral quando disse que não prejudicaria os trabalhadores e nem reajustaria determinadas tarifas e depois de eleita fez o contrário. Desta segunda vez a referência foi mais indireta, quase um recado, com críticas ao ajuste fiscal – europeu.

Esse comportamento de Lula não pode ser visto apenas como um desabafo de quem está preocupado com a situação de seu partido e do governo de marca petista e de quem vê sua popularidade ameaçada e o sonho de 2018 subir no  telhado (o DataFolha mostrou que numa eleição hoje ele perderia para Aécio Neves por 35% a 25% e que o PSDB tem o mesmo índice de aceitação que o PT).

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Lula tem um método nessas críticas, segundo analistas. É caso pensado.

Massacre eleitoral

O ex-presidente, avalia-se, está preparando o caminho, já desenhado pelo partido, para ir descolando sutilmente o PT e ele próprio do governo Dilma Rousseff, exatamente para não ser mais contaminado pela má avaliação presidencial. Lula e os petistas parecem ter perdido a esperança de que o governo Dilma possa se recuperar totalmente até as eleições do ano que vem e que consiga colocar a economia brasileira em céu de brigadeiro até 2018. Se os dois ficaram juntos, avaliam, será um abraço de afogados e o PT poderá sofrer dois massacres eleitorais em 2016 e 2018.

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Lula também destila alguma mágoa da presidente Dilma Rousseff – e não apenas pela visível perda de influência dele mesmo e do PT no Dilma II. O ex-presidente e os petistas desconfiam de movimentos da presidente e de alguns de seus auxiliares ( petistas não muito ligados ao comando partidário e ao grupo lulista), também para se livrarem das questões ligadas à Operação Lava-Jato, que ficaria apenas como coisa do PT e de responsabilidade do governo passado.

Diz a jornalista Vera Magalhães, na coluna “Painel” da “Folha de S. Paulo”, que o ex-presidente Lula comenta com interlocutores que se sente “órfão” e que a ex-presidente não protege quem a colocou lá. As prisões de sexta-feira dos presidentes da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, e da Andrade Gutierres, Otávio de Azevedo, exacerbaram esse sentimento.

Mas Dilma também tem queixas do PT e de Lula. Ela não está gostando das últimas manobras do ex-presidente, pelos mesmos motivos que Lula reclama dela: pensa que os petistas querem que todas as dificuldades atuais sejam debitadas na conta do atual governo. E que ninguém criticou a estratégia de campanha, que hoje Lula dá como responsável por parte da impopularidade recorde de Dilma.

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Há um mal querer mútuo entre Dilma e Lula e o PT que não vai levar à ruptura entre a presidente e seu criador, mas que torna o ambiente político cada vez mais delicado. Não é à toa que já começam a surgir em ambientes petistas, com reflexos em notas e comentários nos jornais, ataques mais explícitos ao ministro Joaquim Levy. Cada um querendo salvar sua face, eles se empurram mutuamente para mais confusões e mais dificuldades para o governo.

O grande desafio de Lula e do PT, se prosseguirem nesta escalada, será como explicar que não têm nenhuma responsabilidade sobre Dilma e sobre tudo que está aí.

Outros destaques dos jornais do dia

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– CONTAS EXTERNAS MELHORAM – Com o dólar alto que incentiva as exportações e prejudica os gastos dos brasileiros no exterior, o rombo das contas externas brasileira caiu mais da metade em maio. O déficit de todas as trocas de serviços e do comércio do país com o resto do mundo ficou em US$ 3,4 bilhões: 57% a menos que no mesmo mês do ano passado. os dados dos cinco primeiros meses do ano também mostram uma mudança do perfil das contas externas do país. O rombo em transações correntes caiu de US$ 44,9 bilhões para 35,8 bilhões. No entanto, os investimentos estrangeiros no país também diminuíram. Em maio do ano passado, entraram US$ 9,6 bilhões. Agora, o ingresso foi de US$ 6,6 bilhões. Apesar da queda, ele cobre com folga o déficit das contas externas.

– INADIMPLÊNCIA DE CHEQUES EM MAIO – Em meio à desaceleração da economia e ao avanço da inflação, o percentual de devoluções de cheques pela segunda vez por falta de fundos foi de 2,29% em maio, o maior dos últimos seis anos para este mês, e o terceiro maior de toda a série histórica, iniciada em 1991, perdendo apenas para maio de 2009 (2,52%) e maio de 2006 (2,37%). Segundo o Indicador Serasa Experian de Cheques Sem Fundos, em abril, o percentual havia sido de 2,26%.

E MAIS:

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– “Alemanha diz que há base para decisão sobre a Grécia” (O Globo)

– “Petrobras alterou planejamento tributário e está pagando mais impostos” (Globo)

– “Em resposta ao TCU, Arno nega manobra fiscal” (Estadão)

– “BNDES quer usar R$ 10 bilhões do FGTS para financiar usinas” (Estadão)

– “Sai acordo sobre energia para indústria no Nordeste” (Valor)

– “Levy dá aval para mudança na meta fiscal” (Estadão)

– “Maioria do país passa a reprovar reeleições” (Estadão)

– “Falta de acordo de bitributação mina competitividade brasileira nos EUA” (Valor)

LEITURAS SUGERIDAS

1.      Editorial – “Reforma de Cunha estimula infidelidade partidária” (diz que a janela de 30 dias para que parlamentares troquem de legenda vai contra o fortalecimento dos partidos) – Globo

2.      José Paulo Kupfer – “Em forma de L” (diz que depois de chegar ao fundo o poço a economia brasileira tende a se acomodar em um nível baixo) – Estadão

3.      Editorial – “A retração e o rombo externo” (diz que a diminuição do rombo nas contas externas é fruto da baixa atividade econômica e por isso não há o que festejar na melhora do balanço de pagamentos) – Estadão

4.      Editorial – “No volume morto” (comenta as críticas de Lula ao governo federal) – Estadão

5.      Jânio de Freitas – “De volta” (diz que longe da percepção pública, dissemina-se a suspeita de que Joaquim Levy não é o homem certo no lugar certo) – Folha

6.      Delfim Neto – “De panelaço em panelaço” (comenta as resistências ao ajuste fiscal e diz que a presidente tem de conformar-se e pagar a conta) – Valor

7.      Raymundo Costa – “Expectativas e apreensão” (diz que a expectativa do governo ainda é que o ambiente mude no terceiro ou quarto ano do governo) – Valor