Dólar tem maior queda desde 2011: o mercado gostou das novas medidas do BC?

Medidas são elogiadas, mas para mudar o rumo da moeda é necessário uma mudança de política econômica, dizem economistas; moeda caiu 3,23% nesta 6ª e fechou a R$ 2,35

Lara Rizério

Publicidade

SÃO PAULO – Após a disparada do dólar mesmo com as diversas intervenções no câmbio, o Banco Central anunciou na noite de quinta-feira (22) um novo plano para conter a valorização da moeda, que consiste na realização de leilões diários no mercado. A notícia teve efeito imediato nesta sexta (23), com o dólar comercial fechando em queda de 3,23% – maior queda diária desde setembro de 2011, indo de R$ 2,4320 para R$ 2,3534 na venda.

Nesta semana, o dólar bateu a sua cotação máxima desde dezembro de 2008, para R$ 2,45, em meio às apreensões sobre os próximos passos da política monetária do Federal Reserve, que sinaliza a retirada cada vez mais próxima do seu programa de estímulos à economia. Desta forma, a autoridade monetária convocou uma força-tarefa e anunciou que adotará uma estratégia mais pesada para conter a escalada da divisa estrangeira.

O BC anunciou que iniciará, a partir desta data, um programa de leilões de swap cambial e venda de dólares com compromisso de recompra. Os leilões ocorrerão de duas maneiras: de segunda a quinta-feira, serão ofertados US$ 500 milhões por dia no mercado por meio de swap cambial. Já na sexta-feira, será realizado um leilão de linha – venda de dólar no mercado à vista com compromisso de recompra – no valor de US$ 1 bilhão. Embora a reação inicial dos investidores tenha sido bem enérgica, os analistas apontam que ainda há muito o que fazer para mudar a tendência do câmbio brasileiro.

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Bom no curto prazo
De acordo com a LCA Consultores, a estratégia adotada pelo Banco Central para garantir liquidez nos mercados futuros e à vista de dólar somente conseguirá reduzir a taxa de câmbio caso seja complementada por políticas para melhorar o sentimento de risco do mercado.

Desta forma, avaliam os economistas da consultoria, as medidas seguem o rumo certo para impedir a  valorização do dólar ante o real mas, sozinhas, não garantem redução na taxa de câmbio, que está atrelada à confiança dos agentes econômicos nos fundamentos do País.

A mesma linha é seguida pelo banco britânico Barclays, que avalia a medida como auxiliar para conter a forte queda do real, fazendo com que ele volte para o patamar entre R$ 2,35 e R$ 2,40. Porém, a medida não deve reverter a tendência de queda da moeda nacional, condicionada principalmente pelas mudanças de política monetária e a incerteza frente à política fiscal.

Continua depois da publicidade

Antídoto correto, segundo economista
Enquanto alguns veem com ceticismo a medida do Banco Central, há uma outra linha que vê a medida do BC como o antídoto correto para conter a escalada da moeda norte-americana. Para conter a alta do dólar, a estratégia correta é massificar a oferta de liquidez tanto no segmento à vista tanto no futuro quanto no mercado à vista, destaca o economista e diretor da NGO Assessoria Financeira, Sidnei Nehme, uma vez que a formação da taxa cambial atual “está fortemente contaminada pela especulação instalada no mercado futuro de dólar”. 

“Mantendo a persistência de suprir os bancos com linhas de financiamento, o BC afasta a hipótese de que o mercado à vista possa vir a sofrer problemas de liquidez e também se poupa da necessidade de ter que realizar leilões de vendas diretas ao mercado, o que teria impacto redutor das reservas cambiais brasileiras”, avalia.

Mercado futuro: forte especulação
Segundo Nehme, o mercado de câmbio futuro está sob forte especulação, em especial dos fundos estrangeiros que, na medida em que realizam giro em suas posições, de modo a elevar a taxa de câmbio, aproveitam a alta para ir se desfazendo da posição comprada detida e assim consolidar os lucros. 

Assim, avalia, o mercado de câmbio, tanto à vista quanto futuro, precisa neutralizar os movimentos especulativos através da antecipação da estratégia da liquidez. Este movimento ocorreria a partir de intervenções por parte do Banco Central, neutralizando expectativas negativas, em um momento em que o mercado de câmbio por si só está sendo insuficiente. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.