Após amargar queda de mais de 20%, a gigante Kroton terá uma virada ao se reinventar no setor?

Kroton anuncia entrada definitiva no segmento de ensino fundamental com aquisição da Somos Educação e papéis saltam com a notícia - mas há riscos no radar

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Dez meses após o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) rejeitar a fusão com a Estácio (ESTC3), a Kroton (KROT3) voltou a fazer grandes negociações no mercado. Desta vez, o alvo certeiro foi a Somos Educação (SEDU3), mostrando que a gigante do setor de educação superior privada no Brasil está voltando cada vez mais os seus olhos para o ensino básico, ao fazer a sua segunda aquisição no segmento em menos de um mês. 

A Somos Educação, ou a antiga “Abril Educação”, é classificada como “o maior grupo de educação básica do Brasil” com escolas próprias, cursos pré-vestibulares e idiomas, além de sistemas de ensino e livros, sendo dona das editoras Ática, Scipione e Saraiva, do Anglo e da escola de inglês Red Ballon, entre outros.

Além dos novos segmentos a serem desbravados pela companhia, os números da transação também chamaram muito a atenção do mercado. Afinal, os valores foram superlativos. 

A compra foi feita por meio da holding Saber, subsidiária de educação básica da Kroton, enquanto a parte vendedora foi de fundos de investimentos geridos pela Tarpon, que detém atualmente 73,35% das ações da Somos, totalizando R$ 4,57 bilhões. Assim, cada ação SEDU3 será comprada por R$ 23,75, um prêmio de 66% frente a cotação da última sexta-feira (23).

Tal notícia surpreendeu alguns analistas de mercado, como foi o caso do Credit Suisse. “A expansão na educação básica era amplamente esperada, mas a empresa estava sugerindo pequenas aquisições”, destacou o banco. 

A transação também animou e muito as ações das três empresas envolvidas, com destaque para a Somos, que chegou a saltar 58% na máxima do dia. A Tarpon, por sua vez, saltou até 39%, enquanto os ativos KROT3 chegaram a disparar 8%.

A alta dos papéis da Kroton também pode ter surpreendido alguns, ainda mais levando em conta os altos preços em que a Somos foi comprada. Porém, há questões que justificam ânimo para a ação na bolsa. O gestor Felipe Bevilacqua e o analista Eduardo Guimarães, da Levante Ideias de Investimento, lembram que, após a compra da Estácio ter sido reprovada pelo CADE, a Kroton se voltou para outras vias de crescimento: havia anunciado um plano de crescimento orgânico e, mais recentemente, a compra de um colégio premium em Vitória (ES), o Leonardo da Vinci, por um valor estimado de R$ 120 milhões.

Agora, apontam, com esta aquisição, a Kroton entrou definitivamente no segmento de ensino fundamental através da sua subsidiária Saber. Após o fechamento da operação, a Saber servirá mais de 85 mil professores nas escolas próprias e parceiras, mais de 1,7 milhão de professores nas escolas públicas, 1,2 milhão de alunos nos sistemas de ensino e 33 milhões de estudantes usuários de nossos livros didáticos. 

A entrada nesse novo segmento traz otimismo pois possibilidade a continuidade de crescimento via fusão e aquisição, especialmente agora que o crescimento orgânico parece ter parado, afirmam os analistas do Citi.

“Além disso, a ação caiu 26% no acumulado do ano até sexta (ante a alta de 12% do Ibovespa), e a aquisição de hoje pode ser um catalisador para os papéis. A Kroton também possui um forte histórico de melhoria de margens / lucratividade dos ativos adquiridos, o que poderia atenuar o custo total de aquisição, por meio do compartilhamento de melhores práticas e/ou sinergias”, afirmam os analistas. Vale ressaltar que, mesmo com o salto desta sessão, os papéis KROT3 estão como um dos cinco com pior desempenho na bolsa. 

Também destacando o potencial de criação de valor nas empresas que adquire, os analistas do Bradesco BBI apontam que o valor não é exagerado, ressaltando que, no relatório de início de cobertura datado do fim de março, colocou o preço-alvo da Somos Educação em R$ 23. Eles ainda apontam que a Somos tem várias iniciativas no segmento de tecnologia da educação que não estão refletidas no preço-alvo estabelecido pelo banco, o que poderia ser uma opção interessante para os investimentos da Kroton nessa área.

“Portanto, acreditamos que a combinação do potencial da Somos e a reconhecida capacidade de execução da Kroton podem permitir que ela gere valor significativo para os acionistas”, afirmam os analistas do Bradesco BBI. Por outro lado, o Citi faz algumas ponderações, ao avaliar que a experiência da Kroton está no segmento de ensino superior – e não necessariamente na educação básica, o que pode trazer riscos imprevistos à estratégia de execução.

Mais aquisições no radar

Com alguns analistas muito otimistas e outros com um pé atrás sobre o negócio, a Kroton dá mais sinais de que seguirá explorando o segmento de educação básica, conforme ressaltou em entrevista coletiva à imprensa nesta segunda-feira. A companhia já tem assinada a compra de uma outra escola, que deve ser anunciada em breve, mas não informou o nome da instituição de ensino.

Para a Somos, a Kroton pretende fazer um empréstimo-ponte para pagar a aquisição, que terá um valor total de R$ 6,23 bilhões – sendo R$ 4,5 bilhões para a compra da fatia da Tarpon e o restante para compra da fatia dos minoritários. Com o empréstimo para compra da Somos, o endividamento da Kroton passa a ser de duas vezes o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização). Atualmente, a Kroton tem disponível em caixa R$ 1,7 bilhão.

Na coletiva de imprensa, o CEO da Kroton, Rodrigo Galindo, afirmou que a companhia estudou o segmento de educação básica nos últimos quatro meses e que estima estima sinergias de R$ 300 milhões em até quatro anos com a Somos. Galindo avalia que há baixíssima sobreposição no que as duas empresas fazem, mas caberá ao Cade analisar o caso. Agora, há menos expectativa de que o órgão barre o negócio, o que pode abrir novos horizontes para a companhia após a forte queda desde que o Cade vetou a operação com a Estácio. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.