15% de queda em 4 dias: o mercado exagerou demais no “efeito Trump” sobre a Usiminas?

Efeito é visto como exagerado: Gerdau deve ser beneficiada, enquanto outras empresas do setor sofrerão impacto limitado com o anúncio protecionista do presidente dos EUA

Lara Rizério

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SÃO PAULO – O anúncio de Donald Trump da véspera de taxação na importação de aço para 25% e de 10% para o alumínio afetou as bolsas pelo mundo, mas o maior impacto, com certeza, ficou para as ações das siderúrgicas. 

Após a queda de quinta-feira das siderúrgicas (com a exceção da Gerdau), os papéis das siderúrgicas tiveram uma derrocada ainda mais forte na bolsa, com CSN (CSNA3) e Usiminas (USIM5) chegando a cair até 9,6% na mínima do dia, enquanto a Gerdau (GGBR4) – vista como potencial beneficiária deste cenário por conta de suas operações nos EUA – chegou a cair quase 6%. 

Mas até onde uma tamanha queda como essa se justifica? Para muitos analistas de mercado, a baixa é exagerada apesar da notícia ser vista como claramente negativa. Com as bolsas mundiais em queda, as ações de siderúrgicas acabam tendo um impacto maior uma vez que possuem maior beta (ou seja, quando o mercado está em baixa, a queda dos papéis é ainda maior). Além disso, há muito “barulho” sobre a questão, mas poucas certezas sobre qual será o cenário com essa medida – o que ajuda a elevar a aversão ao risco do mercado. 

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Assim, o mau humor do mercado pode até justificar a forte baixa mas, se olharmos mais profundamente para os impactos diretos, a queda é exagerada (o que justifica a diminuição da queda durante a tarde). 

Na Gerdau, por exemplo, os efeitos diretos de uma melhor nas operações nos EUA superariam (de longe) qualquer desvantagem de efeitos indiretos (como exportações para o país), ressalta o BTG Pactual em nota a clientes. Os analistas do banco reforçam que a companhia exportou menos de 100 mil toneladas de aço de suas unidades no Brasil para os EUA no ano passado, algo visto como tendo impacto imaterial.

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Sobre o impacto positivo em Gerdau ao olhar para as operações nos EUA, os analistas do BTG previram um possível aumento entre 10% e 18% no Ebitda da companhia.

Já o Bradesco BBI fez um teste de sensibilidade: assumindo que a indústria doméstica de aço ganhe 5 pontos percentual de participação de mercado no país com a medida e o spread de metais aumente para US$ 25 a tonelada, isso implicaria em 7,5% de crescimento de volume adicional para Gerdau, fazendo com que o Ebitda chegasse a R$ 6,2 bilhões, ou 20% do consenso. Para o caso de ganho de 10 pontos percentuais, isso implicaria em 15% de volume adicional para Gerdau, fazendo com que o Ebitda chegasse a R$ 6,5 bilhões. 

“A ação tem performado bem por conta de melhora de fundamento no Brasil, venda de ativos e Estados Unidos, mas pode haver mais potencial de valorização”, avalia o Bradesco BBI. 

Porém, mesmo para as outras siderúrgicas, não há motivo para pânico. O impacto é mínimo para a Usiminas, avalia o BTG, destacando que a empresa exportou menos de 35 mil toneladas de aço para os EUA no ano passado, o que representa apenas 0,5% dos volumes. Neste sentido, os analistas do Bradesco BBI mantêm preferência por Usiminas no setor, com recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado), dada a visão de que a demanda por aço plano – mais usado na linha branca e em automóveis e cuja Usiminas é produtora líder -, deve seguir maior do que a demanda por aço longo no Brasil. Ao mesmo tempo, os recentes e significativos aumentos de preços guiam o bom momentum de ganhos.

Assim, a avaliação que se faz é de que, após as fortes altas, os investidores encontraram um “motivo” para fazer ajuste nas suas posições com um motivo específico.

“Nós achamos difícil justificar esse pessimismo, mas entendemos claramente que o clima é ruim e há várias dúvidas nos mercados – alguns vendo isso como um bom momento para embolsar lucros”, afirma o BTG, que segue com recomendação de compra em Usiminas e Gerdau. Além dessas ações, eles seguem otimistas com a Vale, também vendo que essa medida não teria impacto no minério de ferro.

Assim, em meio ao “pânico” inicial dos mercados, os analistas seguem vendo um cenário positivo para as siderúrgicas e veem que Trump não é tão ameaçador quanto parecia num primeiro momento. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.