Os 2 fatores que fizeram o Ibovespa cair e encerrar sequência de três altas

Apesar de fechar no negativo, o índice não teve muita pressão, ficando de olho no cenário externo e em novos rumores sobre a Previdência

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Após chegar a esboçar uma nova alta nesta quinta-feira (18), o Ibovespa se fixou no campo negativo durante a tarde, pressionado pelo cenário político, após rumores de que o governo pode adiar novamente a reforma da Previdência por conta da falta de votos. Além disso, a bolsa norte-americana também trouxe certo mau humor ao mercado, com uma leve queda do Dow Jones após a máxima atingida ontem. Tudo isso colaborou para o índice encerrar uma sequência de três altas.

O benchmark da bolsa brasileira fechou com queda de 0,28%, aos 80.962 pontos, após chegar a subir para 81.367 pontos na máxima do dia. O volume financeiro ficou em R$ 9,537 bilhões. Já o dólar comercial, por sua vez, fechou com queda de 0,23%, cotado a R$ 3,2096 na venda favorecido pelo anúncio de que o Brasil irá emitir títulos de dívida no mercado internacional.

De acordo com nota enviada pelo Ministério da Fazenda, os títulos que serão emitidos terão cupom de 5,625% e terão vencimento em fevereiro de 2047, ao passo que o resultado será divulgado ainda hoje. A depender da última emissão, que teve uma forte demanda, o resultado deve ser um sucesso. Com esse tipo de emissão, o governo pretende alongar sua dívida e comprova a confiança dos investidores estrangeiros no Brasil, mesmo após o rebaixamento do rating brasileiro pela S&P.

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Enquanto isso, pesou um pouco no humor do mercado novos rumores sobre a reforma da Previdência. Em meio a dificuldades para conseguir os 308 votos para aprovar o texto no dia 19 de fevereiro, o governo já pensa em suspender a votação no próximo mês e retomar o assunto em outubro só após as eleições, segundo informou uma fonte à Bloomberg.

De acordo com a fonte ouvida pela agência, deputados que temem o efeito negativo da votação em sua eleição já teriam enfrentado as urnas em outubro e, assim, teriam mais conforto para aprovar a matéria. Além disso, na avaliação do governo, dependendo do candidato a presidente que for eleito, poderia ser mais conveniente votar o texto na gestão de Michel Temer para evitar desgastes no começo de seu mandato.

O governo avalia que sem votos, não vale a pena colocar a matéria em pauta para ser derrotada. Apesar de projetar esse plano B, o presidente está empenhado em negociar os votos necessários para tentar colocar a matéria em pauta em fevereiro, de acordo com a fonte.

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De olho no julgamento de Lula
Apesar do clima de menor aversão ao risco, depois da forte sequência de alta dos últimos dias, o mercado reduziu seu ímpeto e já começa a entrar em modo de espera pelo julgamento do Lula na próxima quarta-feira (24), com o mercado projetando a condenação por 3×0 do petista pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá.

Condenado em primeira instância no âmbito da operação Lava Jato, Lula pode ser enquadrado pela Lei da Ficha Limpa e obrigado a abandonar sua candidatura à presidência da República, caso tenha sentença confirmada pelos desembargadores da 8ª turma do TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) e recursos da defesa recusados. Hoje, o ex-presidente lidera com folga em todos os cenários de primeiro turno levantados pelos principais institutos de pesquisa.

Levando em consideração tal contexto, parte da estratégia do líder petista passa pela procrastinação do processo. Embora a sentença proferida em julho do ano passado não seja uma unanimidade na sociedade e meio jurídico, poucos acreditam na possibilidade de absolvição de Lula a essa altura do jogo. A ideia seria avançar com a candidatura do ex-presidente até o ponto mais distante possível. Assim, caso seja impedido, Lula teria maior potencial de transferência de votos a um nome por ele apoiado. Se, por ventura, conseguir manter o direito de disputar a sucessão do presidente Michel Temer, ainda melhor para o PT.

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Independente do resultado e sabendo do seu poder político, Temer prepara uma estratégia para isolar Lula nas eleições. Conforme noticia o jornal O Estado de S. Paulo, o governo vai condicionar a manutenção dos partidos no comando de ministérios ao apoio a um candidato que tenha aval do governo para a disputa à presidência e represente uma espécie de anti-Lula. A ideia seria aproveitar a reforma ministerial, que o emedebista pretende aplicar em março, para construir uma ampla aliança de centro, com tempo de televisão e palanques país afora. Estima-se que, no mínimo, 13 dos 28 ministros devem deixar seus cargos até 7 de abril, para disputar as eleições (veja mais aqui).

Destaques de ações
Na ponta positiva destaque para as ações de papel e celulose, após relatório do Bradesco BBI, que está otimista sobre o setor e também após a Fibria anunciar um novo aumento de preços de celulose em US$ 30 a tonelada para a Europa e América do Norte, válidos a partir de 1 de fevereiro. Já entre as quedas, o pior desempenho ficou com a BRF, que foi a única a cair mais de 3% nesta sessão.

As maiores baixas, dentre as ações que compõem o Índice Bovespa, foram:

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 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 BRFS3 BRF SA ON 37,74 -3,65 +3,11 256,93M
 GGBR4 GERDAU PN 14,54 -3,07 +17,45 147,87M
 CSNA3 SID NACIONALON 10,60 -2,75 +26,49 112,39M
 VVAR11 VIAVAREJO UNT N2 22,52 -2,72 -7,97 51,02M
 ECOR3 ECORODOVIAS ON 12,17 -2,48 -1,06 47,53M

As maiores altas, dentre os papéis que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 SUZB3 SUZANO PAPELON 21,00 +6,87 +12,36 112,62M
 FIBR3 FIBRIA ON 52,87 +5,09 +10,49 236,48M
 KLBN11 KLABIN S/A UNT N2 17,50 +3,55 -0,57 93,78M
 CIEL3 CIELO ON 26,35 +3,33 +12,03 255,28M
 MULT3 MULTIPLAN ON N2 73,44 +3,00 +3,58 97,78M

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram:

 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1 Vol 30d1 Neg 
 PETR4 PETROBRAS PN 18,22 -0,76 886,37M 548,62M 47.056 
 VALE3 VALE ON 42,86 -0,67 450,52M 550,63M 25.357 
 ITUB4 ITAUUNIBANCOPN 46,64 -0,32 349,20M 445,17M 21.251 
 BBAS3 BRASIL ON 35,18 -0,68 331,88M 207,47M 19.247 
 BBDC4 BRADESCO PN 36,85 -0,11 326,65M 237,01M 27.587 
 KROT3 KROTON ON 17,18 -0,35 257,18M 149,17M 16.247 
 BRFS3 BRF SA ON 37,74 -3,65 256,93M 108,94M 20.804 
 CIEL3 CIELO ON 26,35 +3,33 255,28M 84,41M 26.122 
 ITSA4 ITAUSA PN 11,94 +0,51 236,83M 134,56M 29.235 
 FIBR3 FIBRIA ON 52,87 +5,09 236,48M 69,37M 17.047 

* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)
IBOVESPA

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PIB chinês surpreende

A economia chinesa cresceu 6,9% no acumulado de 2017, enquanto os analistas aguardavam avanço de 6,7%. Além disso, em dezembro, a produção industrial registrou expansão anual de 6,2%, enquanto o mercado aguardava crescimento de 6%, enquanto as vendas no varejo avançaram 9,4%, aquém dos 10,1% projetados pelos analistas.

Além dos dados chineses, o mercado fica de olho na agenda dos EUA, com uma bateria de indicadores a ser revelada às 11h30, como o pedido de auxílio-desemprego, além de números de novas construções e concessões de alvarás de dezembro e a sondagem industrial da Filadélfia. Às 14h, saem os dados de estoque de petróleo semanal, com expectativa por uma nova queda.

Por aqui, expectativa pela divulgação pelos dados de arrecadação do governo de dezembro, com projeções de atingir R$ 138,8 bilhões no mês passado. Já nesta quinta-feira, foi divulgada a segunda prévia do IGP-M de janeiro, que ficou em 0,82% ante expectativa de 0,75%. 

Problemas com a Caixa

O afastamento de quatro vice-presidentes da Caixa Econômica Federal por suspeita de corrupção e irregularidades segue gerando repercussão. De acordo com o Estadão, esse afastamento pode inviabilizar o socorro de R$ 15 bilhões ao banco estatal com recursos do FGTS. A equipe econômica terá de enfrentar, no entanto, a pressão da ala política do governo, que defende o uso do dinheiro dos trabalhadores para que o banco reforce a concessão de crédito em ano eleitoral.

Enquanto isso, Michel Temer pode ter conseguido uma blindagem para não se indispor com aliados responsáveis por indicações políticas no banco, destaca o Valor. Com o afastamento temporário por 15 dias dos investigados, a partir de amanhã, passa a ser do Conselho de Administração do banco a responsabilidade pela indicação e avaliação dos executivos, o que livraria Temer do encargo político.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.