Otimismo exagerado: banco aponta 3 motivos para vender ação que disparou 30% em dezembro

Baixo preço da oferta, resistência do governo e maior concorrência são os fatores para o investidor se afastar do papel

Rafael Souza Ribeiro

Publicidade

SÃO PAULO – Desde que confirmada a intenção de compra pela Boeing em dezembro, mês que disparou 30%, as ações da Embraer (EMBR3) subiram 25% e na máxima do movimento atingiram R$ 22,91 (+39,5%). Contudo, as indefinições sobre a conclusão do negócio, principalmente com relação ao preço a ser pago, travaram os papéis em R$ 20,00 e pelas últimas notícias pode não ser um bom negócio para o investidor ficar comprado esperando o desfecho. Antevendo isso, Victor Mizusaki, analista do Bradesco BBI, reforçou sua recomendação de underperform (equivalente a venda) para as ações e apontam 3 motivos para ficar fora da empresa.

i) Preço justo?

Na última sexta-feira (5), o WSJ (Wall Street Journal) afirmou que a Boeing estaria disposta a pagar US$ 28 por cada ADR (American Depositary Receipt) para adquirir participação na companhia brasileira, valor que está bem abaixo do preço implícito de oferta de US$ 86/ADR caso a cláusula de “poison pill” seja deflagrada, aponta Mizusaki.

No dia 21 de dezembro, assim que a negociação foi confirmada pela Embraer, os analistas do BTG Pactual, Renato Mimica e Samuel Alves, calcularam o impacto do negócio para o potencial de valorização das ações da companhia brasileira. Segundo o banco de investimento, considerando o preço atual do ADR (US$ 25,00), o ativo resguarda um upside de 240%, em um negócio com potencial para atingir cerca de US$ 15 bilhões. Pelas contas do Bradesco, se o valor de US$ 28/ADR for confirmado, a Boeing pagaria no máximo US$ 6 bilhões pela Embraer.

Curiosamente, depois da disparada das ações na penúltima semana de dezembro, a Brandes Investment Partners, maior acionista individual da companhia brasileira, reduziu sua participação da empresa de 15% para 14%.

ii) Resistência do governo

Outro empecilho que deixa Mizusaki com um “pé atrás” com Embraer é a resistência do governo em formalizar o acordo. De acordo com a reportagem do WSJ, as resistências do governo se concentram principalmente sobre a área de defesa – responsável pelas aeronaves fornecidas para o Exército – e, por conta disso, a Boeing estaria disposta a criar cláusulas para proteger os sigilos de informação. Porém, essa discussão deverá se arrastar até a conclusão (ou não) do negócio, já que o governo possui uma “golden share” na Embraer.

Além dos 5,4% que a BNDESPar possui em ações da empresa e 5% de participação acionária da Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil), o governo possui uma participação mais do que especial na companhia. A “golden share” confere à União o poder de veto na criação ou alteração de programas militares, como na capacitação de terceiros neste tipo de tecnologia e a interrupção de fornecimento de peças de manutenção e reposição de aeronaves militares. Outro detalhe importante diz respeito ao aumento de participação: um acionista com mais de 35% de participação tem que pedir autorização ao governo para aumentar sua fatia na empresa.

Em comunicado enviado na última segunda-feira (8), a própria Embraer afirmou que uma eventual combinação de negócios com a Boeing deve preservar, antes de mais nada, os interesses estratégicos da segurança nacional e respeitar incondicionalmente as restrições decorrentes da “golden share”.

iii) Maior concorrência
Por fim, se as negociações não evoluirem por conta das barreiras impostas pelo governo, a Boeing se transformará em uma forte concorrente da Embraer no ramo de jatos comerciais, aponta Mizusaki, segmento importante para o resultado da companhia brasileira. Para se ter uma ideia, entre janeiro e setembro do ano passado, a receita líquida de aviação comercial representou 63% da linha do resultado, somando R$ 8,2 bilhões.