Ibovespa afunda e dólar vai a R$ 3,32 após reforma da Previdência ser adiada para 2018

Índice virou para forte queda e deixou de lado a decisão de alta de juros nos EUA, divulgada no mesmo momento

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Depois de chegar a subir 1,1% na máxima do dia, o Ibovespa virou para forte queda na tarde desta quarta-feira (13) após o líder do governo no Senado, Romero Jucá, afirmar que a votação da reforma da Previdência ocorrerá somente em fevereiro. Diante disso, o senador também confirmou que o Orçamento será votado ainda hoje, o que deve “encerrar” os trabalhos do Congresso este ano.

O benchmark da bolsa brasileira fechou com queda de 1,22%, aos 72.914 pontos, após chegar a cair 1,69% na mínima do dia, deixando “de lado” o anúncio do Federal Reserve de elevar os juros nos EUA. O volume financeiro ficou em R$ 12,402 bilhões. Enquanto isso, o dólar comercial, que passou o dia em forte queda, amenizou e fechou com perdas de 0,37%, cotado a R$ 3,3159 na venda. O Dólar futuro com vencimento em janeiro, por sua vez, virou para alta de 0,41%, a R$ 3,326.

O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), afirmou, por meio da assessoria de imprensa, que a votação da proposta de reforma da Previdência ocorrerá somente em fevereiro do ano que vem. Segundo o senador, a decisão foi tomada após acordo entre os presidentes do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o governo federal.

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Enquanto a notícia da Previdência pegava todos de surpresa, o Federal Reserve anunciou uma alta na taxa de juros dos Estados Unidos em 25 pontos-base, para um intervalo de 1,25% a 1,5%. Apesar disso, a autoridade mostrou um sinal de cautela, mantendo sua previsão anterior de apenas três aumentos de taxa em 2018.

A Fed não alterou a previsão da inflação, refletindo a persistente preocupação entre alguns dirigentes de que as pressões sobre os preços poderiam permanecer suaves, apesar do mercado de trabalho mais apertado em quase duas décadas. Dois membros do Fed votaram contra a alta das taxas.

O banco central americano ainda aumentou a previsão do PIB em 2018 de 2,1% para 2,5%, indicando que o Fed espera que os cortes de impostos federais impulsionem a economia no próximo ano. O banco também previu que o desemprego fique em 3,9% em 2018 e 2019, abaixo da atual taxa de 4,1%.

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PSDB fecha questão pela Previdência
Mais cedo, o mercado chegou a se animar após a decisão do PSDB em fechar questão pela aprovação da Previdência sem punir eventuais “rebeldes”.

O fechamento de questão costuma ser acompanhado da definição de punições a parlamentares que não respeitarem a posição assumida pelo partido, chegando até mesmo a expulsão desses membros. No entanto, na reunião desta quarta-feira, não houve definição neste sentido. Com a aproximação das eleições e a janela de migrações partidárias aberta, tais instrumentos de coerção costumam ter pouca eficácia e representar quase um “tiro no pé” das próprias legendas, já que parlamentares infiéis podem ser abraçados por outros partidos, interessados em ampliar o tamanho de suas bancadas.

Embora os efeitos práticos da decisão tucana não sejam claros, trata-se de uma vitória do governo e da ala interna do partido mais alinhada ao Palácio do Planalto, contando com empenho do próprio governador Geraldo Alckmin, eleito presidente da legenda no último fim de semana. Apesar de não estabelecer punições, o que gera dúvidas pelo mercado sobre o real compromisso dos tucanos com a reforma, o fechamento de questão pode ser o empurrão necessário para iniciar o “efeito manada” pelos partidos do centrão. Até agora, já fecharam questão o PMDB, também sem estabelecer punições, além de PTB e PPS, de modo que ainda estão na “lista de espera” PP e DEM. O grande problema do governo está em convencer PSD e PR.

Lula fora de 2018?

Antes do esperado, o TRF-4 decidiu a data de julgamento do recurso de Lula em segunda instância para 24 de janeiro de 2018, aumentando a avaliação por diferentes lados do espectro político de que o petista deve ter a condenação confirmada. A data é “um pouco mais cedo do que imaginávamos” e reforça expectativa de que Lula não seja candidato, aponta a Eurasia Group, mas ressalta que Lula ainda pode ter vários recursos para homologar mesmo com decisão negativa nessa data. Contudo, na margem, o julgamento mais cedo reforça a probabilidade de que Lula venha a ser desclassificado da disputa.

A eventual condenação de Lula deve mexer bastante com a disputa eleitoral. Conforme destaca a LCA Consultores, o PT terá de avaliar se mantém a candidatura de Lula num eventual cenário de confirmação de sua condenação pelo TRF4, pois o desgaste será elevado. Além disso, “a demora para resolver a situação eleitoral de Lula também será um importante fator de turbulência na campanha”. Vale lembrar que o petista vinha ampliando sua vantagem na liderança nas pesquisas de intenção de voto, como apontou o último Datafolha (veja mais aqui).

Esse otimismo dos investidores com a possibilidade de Lula fora das eleições do ano que vem se justifica pela expectativa por uma derrocada do mercado caso o petista seja eleito, como revelou a pesquisa realizada pela XP Investimentos com investidores institucionais. Para mais de 90% dos entrevistados, o Ibovespa recuaria para abaixo de 60 mil pontos com Lula presidente e o dólar voltaria para R$ 4,10 na visão de 36%.

Votação indefinida

Mesmo com o fechamento de questão dos partidos, alguns aliados de Michel Temer admitem que a votação deve ficar para o ano que vem, apesar do esforço do governo de colocar a proposta em votação na próxima terça-feira, antes do recesso parlamentar. Segundo o Estadão, durante jantar promovido pelo presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), na noite desta terça-feira em Brasília, o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) disse que a aprovação da proposta está crescendo, mas talvez não seja suficiente para realizar a deliberação até o final deste ano.

O líder do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), declarou que o clima está melhorando, principalmente por causa da economia, e que alguns parlamentes consideram que em 2018 pode estar “ainda melhor”. “Nós vamos analisar”, comentou. Alguns deputados e senadores defendem que o PIB pode superar as expectativas no próximo ano, o que facilitaria o discurso do governo pela aprovação. Contudo, há dúvidas sobre a viabilidade de aprovação no ano eleitoral.

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.