B3 apresenta bons números no 3º trimestre, mas um “velho fantasma” voltou assombrar a empresa

Receita na casa de R$ 1 bilhão foi o grande destaque do resultado; segmento Cetip sob risco

Rafael Souza Ribeiro

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SÃO PAULO – Com números em linha com o esperado e marcados por “não recorrentes” – receitas/despesas que não têm relação direta com os lucros resultantes das operações da empresa -, a B3 (BVMF3) provou que foi capaz de capitalizar com sucesso o rali do mercado entre julho e setembro deste ano. Contudo, um “velho fantasma” voltou assombrar a Cetip e deixa o mercado preocupado neste final de ano: retomada das discussões sobre a regulação dos gravames.

Com relação aos números, a receita líquida atingiu a marca de R$ 1,06 bilhão, crescimento de 20% frente ao reportado no terceiro trimestre do ano passado, mas afetado por uma receita “não recorrente” de uma reversão de provisão relativo à contribuição previdenciária, que entrou na linha de receita no terceiro trimestre, conformou explicou Rogério de Araújo Santana, diretor de RI (Relações com Investidores) da B3. Mesmo assim, retirando este efeito, a receita entre os meses de julho até setembro foi de R$ 1 bilhão, em linha com o projetado pelo mercado, resultado do crescimento de dois dígitos de quatro das cinco principais linhas de negócios da companhia, ressaltam os analistas do BofA (Bank Of America Merrill Lynch). 

Em vista dos bons números de receita, o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, provisões não recorrentes, depreciações e amortizações) ajustado alcançou a marca de R$ 668 milhões, crescimento de 11% em relação ao terceiro trimestre do ano passado e 4% abaixo do esperado pelo mercado. Do lado do lucro líquido recorrente, que é ajustado pelas despesas da combinação com a Cetip, o número ficou 8% acima das projeções do mercado e atingiu a marca de R$ 336,3 milhões.

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Além disso, na teleconferência de resultados, o diretor de RI reforçou o compromisso da empresa em reduzir a alavancagem financeira. No terceiro trimestre, o indicador Dívida Bruta / Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) atingiu 2,2x e está acima do ideal, apontou Santana, ao passo que os esforços visam reduzir para 1x até o final do quatro trimestre de 2019. Seguindo ele, uma medida será alongar o perfil da dívida, como feito com os US$ 100 milhões de encargos da Cetip.

Frente aos bons números apresentados, o BofA reforça a recomendação de compra para os papéis, apostando na boa diversificação dos negócios e os ganhos de escala de suas operações, o que, na opinião do banco, faz a empresa estar melhor posicionada que os bancos em um ambiente de taxa de juros baixas. Apesar de concordarem com tudo isso, os analistas do BTG Pactual lembram que um “velho fantasma” voltou assombra a Cetip nos últimos dias e isso impede um maior otimismo no curto prazo.

Regulação dos gravames

Em 2013, as ações da Cetip, sob o ticker de CTIP3, recuaram cerca de 20% em vista das discussões sobre a possibilidade de mudanças na forma como são registradas as garantias de veículos financiados pelo SNG (Sistema Nacional de Gravames) e Sistema de Contratos, plataformas utilizadas pela Cetip para o recebimento, custódia e transmissão do contratos de financiamentos de veículos aos órgãos estaduais de trânsito. Contudo, com o imbróglio político, as discussões ficaram de lado e a empresa ganhando cada vez mais mercado. Atualmente, 100% das operações do SNG estão nas mãos da Cetip.

Em vista desta concentração, em 27 de setembro deste ano, o Contran (Conselho Nacional de Trânsito) apresentou uma Resolução com objetivo de criar uma base integrada nacional com o cadastro dos gravames, registro que é criado quando há negociação de um veículo via financiamento. O Contran, através do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), estuda centralizar os registros de gravames através do Renagrav (Registro Nacional de Gravames), o que pressionaria parte das receitas da Cetip. Para se ter uma ideia, o Segmento Cetip UFIN (Unidade de Financiamento), onde estão concentradas as receitas de SNG e Sistema de Contratos, representaram 10% da receita total da B3 no terceiro trimestre deste ano.

Pela regulação atual, a Cetip é quem leva a informação sobre a garantia do financiamento do banco até o órgão de trânsito de cada estado. Pelo o que está sendo discutido, a empresa não poderia seguir prestando o serviço de SNG e de Sircof (Sistema de Registro de Contratos de Financiamento de Veículos), que permite o envio dos dados relativos aos contratos de financiamento de veículos aos Detrans e que possui 70% do market share. De acordo com o diretor de RI, foi criado um grupo de trabalho entre reguladores, B3 e Febraban (Federação Brasileira de Bancos) para definir os próximos passos em relação à mudança regulatória e operacional, mas ainda não existe uma definição de mudança de estrutura de receita ou de custos. Como podemos ver, esse tema está longe de ser trivial e as discussões deste grupo técnico serão acompanhadas de perto pelos analistas e investidores.