“Mapa Mundi”: quais eventos os investidores deverão monitorar ao longo de agosto?

Confira os principais temas que vão agitar o mercado neste mês

Rafael Souza Ribeiro

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SÃO PAULO – Após julho ser marcado pelo intenso embate político entre base aliada e oposição para aprovar a denúncia contra Michel Temer, que culminou na vitória do presidente, agosto promete ser um mês ainda turbulento para o governo, que terá pela frente uma nova denúncia de Rodrigo Janot e trabalhar para constituir apoio suficiente para dar andamento na agenda de reformas. No campo internacional, sinalizações importantes sobre política econômica e monetária, além do futuro de Donald Trump, também serão monitorados de perto.

Com tantas variáveis no radar, o InfoMoney traz o “Mapa Mundi”, que conta com um resumo dos principais acontecimentos de julho e tudo que o investidor deve ficar de olho para o mês que se inicia.

Confira os eventos que vão guiar o mercado em agosto:

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Brasil – Com a batata quente nas mãos
A denúncia apresentada por Rodrigo Janot ao STF (Supremo Tribunal Federal) contra Michel Temer pelo crime de corrupção passiva foi o tema central em julho. Logo na primeira semana do mês, Sérgio Zveiter foi nomeado relator do processo contra o presidente e prometeu independência em sua avaliação, mesmo fazendo parte do PMDB. Alheio à pressão de seus partidários, Zveiter apresentou na CCJ (Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania) parecer favorável ao trâmite da denúncia contra o presidente e a partir daí a bomba-relógio começou a regressiva. Temer e sua “tropa de choque” foram à caça e conseguiram – após intensa troca de parlamentares – rejeitar o parecer da denúncia de Zveiter e, no mesmo dia, votar um relatório favorável a Temer, que foi apreciado pela Câmara na volta do recesso parlamentar. Por 263 versus 227, Temer ganhou a batalha no plenário, revelando que o governo ainda não está morto. Contando os votos a favor do presidente, abstenções (2), ausências (19), além dos parlamentares do PSDB e DEM que votaram contra Temer, que foram 21 e 5, respectivamente, mas que devem votar a favor das reformas conforme o posicionamento dos partidos, o governo teria 310 votos dos 308 votos necessários para aprovar uma Proposta de Emenda Constitucional na Câmara e passar a Reforma da Previdência. Obviamente, isso é uma estimativa e nada é garantido no campo da política, mas o placar serve para balizar a força do governo para tocar a prometida agenda de reformas. Porém, a guerra está longe de acabar, já que Janot guardou dois cartuchos para agosto: os investigadores da PGR (Procuradoria-Geral da República) trabalham para entregar ainda este mês duas novas denúncias contra Temer: obstrução à Justiça e organização criminosa.

Ao mesmo tempo em que o governo buscava apoio para não cair, o cenário político ganhava as páginas policiais. O ex-ministro da Secretaria de Governo de Temer, Geddel Vieira Lima, foi preso pela PF (Polícia Federal) sob suspeita de obstrução à Justiça, mas já foi solto e responderá o processo em prisão domiciliar. Tivemos também Aldemir Bendine, ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras, acusado de participar de um esquema de superfaturamento de contratos da Odebrecht. E no topo da lista a condenação em primeira instância de Lula por Sérgio Moro a nove anos e meio de prisão pelos crimes de lavagem de dinheiro e corrupção no caso do tríplex no Guarujá, o que causou um alvoroço no mundo político, já que o ex-presidente pode ficar inelegível para as eleições de 2018 caso seja condenado em segundo instância pelo TRF4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região). Ainda nas páginas policiais, agosto promete ser o mês das delações premiadas e isso está tirando o sono da base aliada, já que vem mais “chumbo grosso” por aí. Estão na fila: Eduardo Cunha, Lúcio Funaro, Antonio Palocci, Eike Batista, Marcos Valério, Fernando Cavendish, Renato Duque e Léo Pinheiro.

Sem sair da turbulência, em julho um velho fantasma voltou assombrar a economia brasileira: a crise fiscal. Com objetivo de cobrir um buraco nas receitas públicas e evitar a revisão da meta de déficit de R$ 139 bilhões neste ano, o governo elevou a alíquota do PIS/Cofins que incide sobre combustíveis na penúltima semana de julho e contingenciamento de R$ 5,9 bilhões, mas essa medida serviu apenas para conter o princípio de incêndio, já que a arrecadação federal está longe do ideal e sequencialmente decepcionando as estimativas. O governo enfrenta riscos de frustração de receita no que vem sendo chamado “três Rs”: o programa de repatriação de recursos não declarados ao exterior, o Refis (parcelamento de débitos tributários) e a reoneração da folha de pagamentos. Para se ter uma ideia do tamanho do problema, as contas do o governo registraram um déficit primário de R$ 56,09 bilhões no primeiro semestre deste ano, o pior resultado para o primeiro semestre desde o início da série histórica, em 1997. Até então, o maior déficit para esse período havia sido registrado em 2016 – quando o rombo somou R$ 36,47 bilhões no primeiro semestre. Sem dúvidas, a situação fiscal brasileira estará entre os principais temas de agosto e o mercado já está trabalhando com a revisão da meta anual dos atuais R$ 139 bilhões para R$ 159,5 bilhões, valor semelhante ao do ano passado. Para evitar esse “golpe”, a equipe econômica da Fazenda, liderada por Henrique Meirelles, não descarta novas altas de tributos daqui para a frente, que podem envolver aumento do IOF sobre câmbio ou operação de crédito e a Cide sobre combustíveis. Assim, este mês será necessário acompanhar de perto os leilões de energia e petróleo programados para ocorrer – o governo pretende arrecadar R$ 25,7 bilhões com concessões este ano e o mercado não deve reagir bem caso haja frustração nas receitas esperadas. Mas nem tudo são espinhos.

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Com o comportamento benigno da inflação – em junho, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) registrou deflação de 0,23%, a primeira em 11 anos -, o Copom (Comitê de Política Monetária) reduziu a Selic para 1 dígito na última reunião, levando a taxa básica de juro para 9,25% ao ano. Em seu comunicado, o Banco Central mostrou confiança que a inflação deverá seguir baixa e deixou a porta aberta para reduzir o juro básico para pelo menos 8% ao ano em 2017 sem correr risco de descumprimento da meta de inflação, tom dovish que também pautou a Ata do Copom. Como reflexo, diversos bancos e consultorias econômicas revisaram suas projeções da Selic para o final do ano, com algumas casas projetando a taxa básica de juro na casa de 7% ao ano no encerrando de 2017. Em vista deste cenário, os DIs acumularam forte queda em julho: os juros futuros com vencimento em 2019 recuaram de 80 pontos, fechando a 8,11%, enquanto com vencimento em 2021 registraram queda de 76 pontos, encerrando o último mês em 9,30%. A queda do DI reduziu a percepção de risco e abriu o apetite para posições mais arriscada por parte dos investidores, fato que impulsionou o mercado no mês passado e culminou na valorização de 4,8% do Ibovespa, que também foi favorecido pelo início da temporada de resultado no dia 19 de julho, com números surpreendentemente positivos por parte das varejistas, em especial de Magazine Luiza e Natura, além de mais um trimestre de bons lucros para Itaú e Bradesco.

Em agosto, além das atenções voltadas para o encerramento da safra de resultados, que contará ainda com os números da Petrobras (dia 10), o mercado seguirá precificando a manutenção do ritmo de cortes por parte do Copom e, portanto, os índices de inflação deverão ser acompanhados de perto pelo investidor, com destaque especial para o IPCA de julho (dia 9) e IPCA – 15 (dia 23), a fim de balizar o apetite do Banco Central em seguir com sua política monetária expansionista. Os indicadores de atividade econômica, como vendas ao varejo (dia 15) e IBC-Br (dia 11), ambos referentes ao mês de junho, também serão importantes condicionantes para calibrar as expectativas quanto ao ritmo de cortes da Selic. Além disso, um evento corporativo deve marcar o mercado: em 11 de agosto será o prazo final para os acionistas da Vale converterem seus papéis preferenciais classe A em ordinários. Os acionistas vão receber 0,9342 ação ON para cada ação PNA.

Principais eventos em agosto:
09 – IPCA (julho)
11 – IBC-Br (junho)
23 – IPCA – 15 (agosto)

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EUA – E agora Trump?
Em julho, Donald Trump completou seis meses no poder e da pior maneira descobriu como é complicado governar a maior economia do mundo, ainda mais tendo uma postura pouco política e muito intempestiva, marcas de sua “gestão” até o momento. Quase metade dos norte-americanos desaprovam o seu governo e esse sentimento também passa entre os republicanos, já que o presidente vem de três derrotas no Senado: a última, no final do mês, derrubou a proposta de revogar parcialmente o “Obamacare”, uma das propostas de campanha do presidente americano. Além de não conseguir acabar com o programa elaborado por Barack Obama, Trump não conseguiu reduzir os déficits comerciais, emplacar a prometida reforma tributária e nem mesmo o amplo programa de investimentos em infraestrutura que poderia impulsionar o crescimento econômico dos EUA.

No plano internacional, as acusações de envolvimento de pessoas da equipe do presidente com autoridades russas para interferir (via vazamento de informações sobre a campanha da adversária Hillary Clinton) nas eleições presidenciais do ano passado assombram Trump, pois envolvem membros importantes de seu governo. Além disso, o Senado deixou uma “batata quente” para Trump já no começo de agosto: aprovar novas sanções à Rússia. De fato, as únicas “realizações” do governo internacionalmente foram a saída dos Estados Unidos da Parceria Trans Pacífico e do Acordo do Clima de Paris. A renegociação do Nafta está lenta, e não há perspectiva de fechamento de acordos bilaterais nos próximos meses, nem mesmo com aliados dos EUA, como o Reino Unido. De todas as promessas de campanha, pelo menos o orçamento para a construção do muro na fronteira com o México foi aprovado, mas que ainda precisará do crivo do Senado. Fato é que Trump está se isolando politicamente e esse processo deve ser acompanhado de perto pelo mercado.

Alheio a tudo isso, como é de sua natureza constituinte, o Federal Reserve deu um passo importante em direção à redução do programa de estímulos monetários – Quantitative Easing – de US$ 4,5 trilhões. De acordo com o Fomc, o ritmo de “impressão de dinheiro” deve diminuir em breve, com grande probabilidade de acontecer em 20 de setembro, na próxima reunião do Federal Reserve. Por isso, marque na sua agenda o dia 16, quando será divulgada a minuta do Fomc e serão revelados os detalhes discutidos na última reunião. A expressão “em breve” fez toda a diferença no mês passado, pois revelou que o Banco Central dos EUA não está com tanto apetite para arrefecer sua política monetária e esse foi um dos motivos para a forte desvalorização do dólar em julho: com a oferta de dólar assegurada e a entrada de fluxo estrangeiro por conta das Ofertas Públicas de Ações na B3, a moeda norte-americana recuou 5,9% perante ao real. Com a “liquidez liberada” e com as empresas publicando resultados acima do esperado, S&P 500, Nasdaq e Dow Jones renovaram máxima e subiram 1,93%, 3,38% e 2,54%, respectivamente, deixando novamente os “profetas do apocalipse” do mercado norte-americano boquiabertos.

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Apesar desse ambiente favorável para o mercado de ações, a grande dúvida dos investidores para agosto é quão breve será Fed para decidir a retirada de estímulos. Para entender melhor isso, os investidores não devem perder de vista os índices de inflação ao produtor (dia 10) e consumidor (dia 11) referentes ao mês passado, pois a recente desaceleração dos preços está inibindo o Banco Central dos EUA de acelerar o aumento da taxa básica de juro. E no penúltimo dia de agosto saberemos a segunda prévia do PIB (Produto Interno Bruto) referente ao segundo trimestre. Na sua primeira versão, que ficou em linha com o mercado, foi registrado crescimento de 2,6% da economia norte-americana, aceleração promovida pelo aumento dos gastos dos consumidores e dos investimentos das empresas em equipamentos.

Principais eventos em agosto:
10 – Índice de Preço ao Produtor (julho)
11 – Índice de Preço ao Consumidor (julho)
16 – Minuta do Fomc
30 – PIB do 2º trimestre (2ª prévia)

Europa – Segue o jogo!
No mês de julho, mais precisamente no último dia 20, os olhos dos investidores se voltaram para a decisão de política monetária do BCE (Banco Central Europeu), com as fichas apostadas em uma sinalização pela redução do programa de estímulos monetários, seguindo as diretrizes do Federal Reserve. Porém, o mercado foi surpreendido com uma mensagem com viés expansionistas e pregando a extensão do QE (Quantitative Easing), que prevê compras de € 60 bilhões em ativos mensalmente até dezembro. Assim, ficou bem claro que o BCE ainda está distante de começar a elevar juros e será anunciada uma nova extensão do programa de pelo menos 6 meses na próxima reunião em outubro, restando somente uma dúvida: manutenção ou redução do aporte mensal?

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Enquanto a próxima reunião não chega, em agosto os investidores estarão atentos aos sinais dados pela economia, principalmente pelo lado da inflação, que vem sendo a principal preocupação da autoridade monetária e a grande motivação para seguir com o programa de incentivos monetários, pois revela um problema crônico da ociosidade do consumo. Assim, será fundamental acompanhar a segunda revisão do PIB referente ao segundo trimestre no dia 16 e a taxa de inflação um dia depois, a fim de entender os próximos passos do BCE quanto ao rumo da política monetária.

No campo político, as tensões estão concentradas na Rússia em vista das novas sanções por parte dos Estados Unidos. Os principais líderes europeus mostraram grande preocupação às medidas impostas por Trump, que restringem os contratos com bancos e companhias energéticas russas, pois na verdade extrapolam a fronteira da Rússia e afetam diretamente as indústrias europeias, dependentes dos gasodutos russos para abastecerem suas fábricas. O primeiro-ministro da Rússia, Dmitri Medvedev, afirmou que os EUA estão declarando uma guerra comercial com seu país e a solução diplomática desejada pelos ministros europeus não deve ser a saída.

Principais eventos em agosto:

16 – PIB do 2º trimestre (2ª prévia)
17 – Índices de inflação (julho)

Ásia – Alavancar ou desalavancar? Eis a questão
Com a política expansionista do presidente da China, Xi Jinping, efeito da transição de uma economia essencialmente de investimento para voltada em consumo, o PIB da segunda maior economia do mundo cresceu 6,9% no segundo trimestre, com bons números advindos da balança comercial e por parte do consumo doméstico. A indústria também mostrou força ao crescer 7,6% em junho, contra 6,5% esperado pelo mercado, assim como o setor de construção e varejo, com dados superiores ao estimado. Com o gigante asiático a todo vapor, o minério de ferro subiu 14,6% e voltou para a região de US$ 74,00. Porém, para agosto, a discussão promete ser acalorada sobre o limite da alavancagem da economia.

Em julho, Jinping criou um comitê para coordenar a regulação financeira da China a fim de evitar um colapso financeiro. Com o ritmo acelerado de injeção monetária nos últimos tempos, em grande parte resultado da transição da economia para consumo, o resultado orçamentário (receitas orçamentárias deduzidas das despesas orçamentárias) do governo central está cada vez mais deficitário. De um déficit de 0,9% do PIB em 2014, as projeções apontam que 2017 o rombo deve saltar para 4% do PIB.

Os chineses estão tentando encontrar o equilíbrio para conter a crescente dívida e desinflar a bolha do setor de imóveis em meio aos temores de que tais riscos possam desestabilizar o gigante asiático. Yang Wimin, vice-ministro do Gabinete de Assuntos Econômicos, afirmou que o governo estuda sacrificar o crescimento de algumas áreas para reduzir o risco sistêmico: “não podemos deixar que a relação de alavancagem continue a subir para salvaguardar o crescimento econômico”. Assim, a grande dúvida do mercado fica por conta se a China vai sacrificar a meta de crescimento de 6,5% para este ano a partir do terceiro trimestre ou Jinping irá esperar até o fim do ano, quando ocorrerá a reunião do Partido Comunista para escolher o novo líder do país.

Constante ameaça para a paz mundial, a Coreia do Norte realizou em julho dois testes com mísseis balísticos intercontinentais e as peripécias de Kim Jong-un devem estar no radar dos investidores, já que podem encadear retaliações mais severas por parte dos Estados Unidos, tendo em vista os atritos recentes entre Trump e o ditador norte-coreano. A grande preocupação – e dúvida – é se esses projéteis podem carregar ogivas nucleares.

No Japão, a crise de popularidade de Shinzo Abe em meio a suspeitas de nepotismo e concessões de favores traz grande tensão no meio político e  coloca em risco o “Abenomics” – programa de crescimento econômico formulado pelo primeiro-ministro japonês. A política fiscal, a flexibilização monetária e as reformas estruturais constituem os três pilares do programa: as duas primeiras iniciativas foram entregues, mas o último plano ainda está em progresso. Na mesma medida que a influência política do primeiro-ministro enfraquece, as reformas prometidas tornam-se mais difíceis – e não estamos falando sobre Brasil.

Principais eventos em agosto:
07 – Balança comercial (China)
08 – Inflação ao consumidor e produtor (China)
13 – PIB do 2º trimestre (Japão)
13 – Atividade industrial (China)