Puxado por estatais, Ibovespa supera 62 mil pontos com investidores de olho em reformas; DIs caem forte

Índice sinaliza sessão de leve recuperação, com mercado de olho em desdobramentos da crise político e andamento das reformas

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A crise política continua no radar dos investidores, mas a terça-feira (23) mostra tom menos pessimista após as recentes quedas, com o mercado no aguardo de novas sinalizações sobre a situação do governo Michel Temer e o futuro da agenda de reformas. Às 13h44 (horário de Brasília), o Ibovespa operava em alta de 1,27%, a 62.458 pontos, puxado sobretudo pelas ações de Eletrobras (ELET3), Banco do Brasil (BBAS3) e Petrobras (PETR3; PETR4) enquanto apenas os papéis das exportadoras e da JBS (JBSS3) caem com mais intensidade.

Na avaliação de Pablo Spyer, diretor da mesa de trade da Mirae Asset Wealth, o movimento do índice nesta sessão reflete uma maior entrada de estrangeiros após as fortes quedas dos dias anteriores, sobretudo no caso das empresas estatais. A volatilidade traz uma oportunidade de compra em alguns casos. Segundo o especialista, também traz uma parcela de contribuição o esforço do governo e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para votar a reforma da Previdência entre os dias 5 e 12 de junho na casa. No Senado, a Comissão de Assuntos Econômicos retomou as discussões sobre a reforma trabalhista, com chances de o relator Ricardo Ferraço (PSDB-ES) apresentar seu texto ainda nesta sessão, a despeito das críticas da oposição.

No mesmo horário, os contratos de juros futuros com vencimento em janeiro de 2018 recuavam 7 pontos-base, a 9,66%, ao passo que os DIs com vencimento em janeiro de 2021 caíam 21 pontos-base, a 11,28%. Já os contratos de dólar futuro com vencimento em junho deste ano subiam 0,46%, sinalizando cotação de R$ 3,292. O dólar comercial operava em alta de 0,18%, a R$ 3,2822 na venda, depois de ter acumulado alta de 4,55% desde a eclosão da crise política que acertou em cheio o presidente Michel Temer.

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“A tendência do dólar segue indefinida, podendo voltar a subir fortemente se a crise envolvendo o presidente Michel Temer se estender por muito tempo”, avaliou o diretor da Correparti Corretora, Jefferson Rugik. O Banco Central realizou nesta sessão o último dos três leilões anunciados de novos swaps cambiais tradicionais –equivalentes à venda futura de dólares– para tentar reduzir a volatilidade no câmbio após o estouro da crise política. Foram vendidos todos os 40 mil contratos. A autoridade monetária ainda realizará leilão de até 8 mil swaps para rolagem dos contratos com vencimento em junho.

Confira ao que se atentar neste pregão:

Destaques da Bolsa

Do lado acionário, os papéis da JBS seguem em derrocada na bolsa, após queda histórica ontem de mais de 30%. Em meio à forte saída de investidores dos últimos dias, os papéis da empresa operam entre leilão na bolsa hoje. Do fechamento de quarta-feira para cá, os papéis da companhia desabam 44%. No olho da eclosão da crise política, o noticiário da companhia é bastante movimentado. O colapso do papel e especulações sobre possível ação contra a empresa nos EUA têm comprometido os planos de um IPO da unidade JBS Foods em NY; também pesa sobre a companhia a incerteza sobre o bilionário acordo de leniência, cujas discussões foram retomadas na véspera. O acordo deveria ter sido fechado na semana passada, mas a empresa não concordou em pagar R$ 11 bilhões em dez anos, valor proposto pelo MPF para que o grupo não seja alvo das ações na Justiça. Durante as primeiras tratativas, a J&F ofereceu duas contrapropostas de R$ 1 bilhão e outra de R$ 1,4 bilhão, mas ambas foram rejeitadas pelos procuradores.

Vale destacar que a JBS sofre ação coletiva de investidores nos EUA. O processo protocolado por Rosen Law Firm em nome de investidores dos EUA que compraram ADR da JBS trata de comunicados falsos ou enganosos, segundo comunicado. De acordo com o processo, houve declarações falsas e/ou enganosas e/ou falha em revelar que executivos da JBS subornaram autoridades e políticos para subverter inspeções de alimentos de suas fábricas e ignorar práticas insalubres. JBS e outras entidades controladas por Joesley Batista e Wesley Batista, teriam feito transações suspeitas que exibem sinais de possível “insider trading” antes da revelação do acordo de delação premiada pelos principais executivos da JBS. A ação também cita irregularidades atribuídas a empréstimos do BNDES à JBS. O processo, que ainda não foi certificado, busca recuperar os danos sofridos pelos investidores dos EUA após “os detalhes verdadeiros chegaram ao mercado”.

As ações do setor de papel e celulose, que conseguiram driblar a crise política e acumulam ganhos desde fatídico pregão da última quinta-feira, esboçaram uma correção nesta manhã, mas voltaram a ganhar força poucos minutos após a abertura do pregão. Nos últimos 4 pregões, a alta acumulada dessas ações é de 23% e 21%, respectivamente. As ações da Vale – uma das poucas que conseguiram se salvar da crise política – caem neste pregão. O movimento é acompanhado pelos preços do minério de ferro: a commodity à vista negociada no porto de Qingdao, na China, caiu 1,88% hoje, a US$ 62,00 a tonelada; enquanto os contratos futuros cotados na bolsa de Dailian recuaram 3,23%, a 479 iunes.

Já do lado da Petrobras, merecem destaque duas notícias. A companhia informou nesta terça-feira que efetuou uma operação de pré-pagamento de dívida com o Citibank, no valor de 500 milhões de dólares e vencimentos previstos para 2017 e 2018, e que simultaneamente realizou a contratação de novo financiamento com a instituição, no mesmo valor, com prazo de vencimento em 2022 e sem garantias reais. “A Petrobras continuará avaliando novas oportunidades de financiamento de acordo com a sua estratégia de gerenciamento de passivos, que visa a melhora do perfil de amortização e a redução do custo da dívida, levando em consideração as metas de desalavancagem previstas em seu Plano de Negócios e Gestão 2017-2021”, disse a empresa em comunicado.

Além disso, a empresa anunciou na véspera que iniciou a etapa de divulgação da venda do Campo de Juruá, na Bacia de Solimões, no Estado do Amazonas, segundo fato relevante da companhia. A petroleira oferecerá 100 por cento de participação no campo de Juruá e disse que a transação é “oportunidade para desenvolver e monetizar uma descoberta de gás natural”.

As maiores altas dentre as ações que compõem o Ibovespa são:

C?d. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 ELET3 ELETROBRAS ON 13,13 +5,89 -37,83 13,67M
 LREN3 LOJAS RENNERON 26,50 +4,00 +26,17 62,99M
 GOAU4 GERDAU MET PN 4,43 +3,99 -7,71 71,05M
 MULT3 MULTIPLAN ON N2 62,82 +3,83 +5,79 53,36M
 CMIG4 CEMIG PN ED 7,37 +3,80 -1,80 25,98M

As maiores baixas dentre as ações que compõem o Ibovespa são:

C?d. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 EMBR3 EMBRAER ON 15,75 -2,84 -0,71 45,39M
 JBSS3 JBS ON 5,84 -2,34 -48,61 243,64M
 SUZB5 SUZANO PAPELPNA 14,71 -1,80 +6,37 58,84M
 BRAP4 BRADESPAR PN 18,47 -1,07 +27,45 15,91M
 MRFG3 MARFRIG ON 6,50 -1,07 -1,66 11,77M
* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)

Crise política e seus efeitos
Em meio à crise política, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s anunciou na segunda-feira que colocou a perspectiva de crédito soberano do Brasil em observação negativa. A nota atribuída pela agência ao país é BB. Segundo a S&P, após recentes alegações de corrupção contra o presidente Michel Temer, o cenário político do Brasil voltou a se tornar mais complicado. Segundo a S&P, a observação negativa reflete o risco de corte no rating nos próximos 3 meses em meio ao maior estresse na dinâmica política. O ministério da Fazenda comentou o anúncio da S&P: “o CreditWatch (observação) é um alerta de curto prazo para a classificação de risco e, no caso do Brasil, reflete aumento da incerteza relacionada aos eventos políticos recentes”.

Neste cenário, o governo apelou para a economia para tentar sobreviver à crise que ameaça o presidente Michel Temer. A equipe econômica, especialmente o ministro Henrique Meirelles, recebeu a tarefa de acalmar o mercado e mostrar que “o governo não tinha acabado”. Neste sentido, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou na véspera que a votação em plenário da reforma da Previdência deve começar entre os dias 5 e 12 de junho.

Por fim, o relator da reforma trabalhista nas comissões de Assuntos Econômicos e de Assuntos Sociais do Senado, Ricardo Ferraço (PSDB-ES), disse nesta segunda-feira que apresentará seu parecer na CAE na terça-feira, buscando retomar o cronograma anunciado na semana passada antes da crise política. Ferraço havia suspendido o cronograma de tramitação da reforma trabalhista, uma das medidas prioritárias do Palácio do Planalto, na última quinta-feira. 

Vale destacar que Meirelles participa hoje de seminário de financiamento e garantias para infraestrutura, em São Paulo, às 11h30. Já o presidente do Banco Central Ilan Goldfajn tem atividades de trabalho em Brasília, sem compromisso público.

Mais notícias da política

A Polícia Federal deflagrou na manhã de hoje a Operação Panatenaico para investigar organização que fraudou e desviou recursos das obras de reforma do Estádio Nacional Mané Garrincha para a Copa do Mundo de 2014. De acordo com a PF, a obra, orçada em cerca de R$ 600 milhões, custou mais de R$ 1,5 bilhão. “O superfaturamento, portanto, pode ter chegado a quase R$ 900 milhões”. 

Cerca de 80 policias federais cumprem 15 mandados de busca de apreensão, dez de prisão temporária, além de três conduções coercitivas, quando a pessoa é levada para depor e depois liberada. As medidas judiciais foram determinadas pela 10ª Vara da Justiça Federal no Distrito Federal (DF). Todas as ações ocorrem em Brasília e em outras cidades do DF. “Entre os alvos das ações de hoje estão agentes públicos e ex-agentes públicos, construtoras e operadores das propinas ao longo de três gestões do governo do DF.  A hipótese investigada pela Polícia Federal é de que agentes públicos, com a intermediação de operadores de propinas, tenham realizado conluios e assim simulado procedimentos previstos em edital de licitação”, diz nota da PF.

Ainda em destaque, a força-tarefa da Operação Lava Jato no Ministério Público Federal (MPF) ofereceu ontem à Justiça Federal mais uma denúncia contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dessa vez envolvendo supostos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro relacionados a obras realizadas por empreiteiras no sítio de Atibia. Por fim, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentou recurso para o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) para defender a prisão preventiva do senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) e do deputado federal licenciado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR). Na semana passada, o ministro Edson Fachin rejeitou individualmente o pedido de prisão e aceitou apenas o afastamento dos parlamentares do mandato. As acusações estão baseadas nas informações prestadas no acordo de delação premiada dos executivos da empresa JBS.

Inflação

O IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15), considerado a prévia da inflação oficial, subiu 0,24% em maio, sobre alta de 0,21% no mês anterior, informou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Pesquisa da Reuters com economistas estimava alta de 0,21% para o período.

Agenda de indicadores

Além do IPCA-15, destaque também para o Banco Central, que apresenta as notas do setor externo. Nos EUA, atenção para a bateria de indicadores, com a divulgação do PMI composto, industrial e de serviços pelo Markit às 10h45. Já às 11h, atenção para os dados de vendas de novas moradias de abril no país e a sondagem industrial de Richmond. Atenção ainda para os discursos dos presidentes do Federal Reserve de Mineapólis Neel Kashkari às 16h15 e de Patrick Harker, do Fed da Filadélfia, às 18h.

Bolsas mundiais

As bolsas europeias registram um dia de ganhos na esteira de fortes dados econômicos da zona do euro. O índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) composto da zona do euro, que mede a atividade nos setores industrial e de serviços, ficou em 56,8 em maio, inalterado ante abril e no maior nível em seis anos, segundo dados preliminares publicados hoje pela IHS Markit.  A leitura acima da marca de 50,0 indica que a atividade econômica do bloco continuou se expandindo neste mês. Apesar de ter se mantido estável, o resultado surpreendeu analistas consultados pela Dow Jones Newswire, que previam leve queda do indicador a 56,6.

Já a economia da Alemanha acelerou no primeiro trimestre ajudada pelas exportações fortes, aumento da construção e gastos mais altos de famílias e do governo. A maior economia da Europa cresceu 0,6% no primeiro trimestre sobre o trimestre anterior, contra 0,4% nos últimos três meses do ano passado, informou nesta terça-feira a Agência Federal de Estatísticas, confirmando a leitura preliminar. Por outro lado, o mercado segue de olho nos desdobramentos do ataque que deixou pelo menos 22 mortos e 50 feridos em Manchester, no Norte da Inglaterra, em show da cantora pop Ariana Grande na noite de ontem. 

Na Ásia, por sua vez, o  índice acionário de Xangai caiu pelo segundo dia seguido nesta terça-feira, com os ganhos no setor financeiro aliviando apenas parcialmente as preocupações com as medidas de aperto da política monetária. Ao longo dos últimos dois meses investidores têm lidado com um controle regulatório sobre práticas arriscadas de empréstimo e uma mudança na direção de uma política monetária mais apertada, conforme Pequim amplia as medidas para neutralizar os riscos financeiros. Um assessor do banco central da China afirmou na segunda-feira que o Banco do Povo da China continuará a implementar ajustes razoáveis à política monetária. 

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.