Ibovespa cai e juros sobem com ecos do “terremoto político” e Michel Temer ameaçado

Índice sinalizam nova sessão de preocupação para os mercados com governo "na pinguela"

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Após uma semana de terremoto político e caos nos mercados, a segunda-feira (22) sinaliza um novo pregão de preocupação para os investidores. Às 11h02 (horário de Brasília), o Ibovespa caía 1,03%, a 61.995 pontos, depois de ter chegado a mergulhar 1,75% mais cedo. No radar do mercado, destaque para os desdobramentos da delação da JBS (JBSS3) e o futuro das investigações contra o presidente Michel Temer no Supremo Tribunal Federal. Na agenda econômica, destaque para IPCA-15, PIB dos EUA e ata do Fomc.

No mesmo horário, os contratos de juros futuros com vencimento em janeiro de 2018 saltavam 3 pontos-base, a 9,73%, ao passo que os DIs com vencimento em janeiro de 2021 subiam 26 pontos-base, a 11,46%. Já os contratos de dólar futuro com vencimento em junho deste ano subiam 0,89%, sinalizando cotação de R$ 3,292.

“A semana está em aberto. Enquanto não houver uma grande conclusão, mercado terá muita volatilidade”, observa Olavo Souza, gerente de renda fixa da Mirae Asset Wealth Management. Segundo ele, tendo em vista o momento conturbado, os investidores aproveitam qualquer oportunidade gerada pela volatilidade para desfazer posições.

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Em entrevista à Bloomberg, Souza diz que o mercado, por enquanto, está voltando para setembro de 2015, antes do impeachment de Dilma Rousseff. “O país só começou a melhorar depois que superou a incerteza do impeachment, mas, por enquanto, não temos nem a definição de que isso vá acontecer”, disse. O gerente da mesa de derivativos da Mirae diz que os investidores não acreditam na fala do presidente de que vai continuar a tocar as reformas e ressalta que o melhor cenário para o mercado seria o Congresso entrar em acordo agora para votar a reforma da Previdência, independentemente da situação de Temer no cargo.

Confira os destaques desta segunda e da semana:

Destaques da Bolsa

Do lado acionário, os papéis da Petrobras (PETR3; PETR4) se descolam dos preços do petróleo e caem em meio às incertezas políticas, que voltam a abalar o mercado. Hoje, o Itaú BBA divulgou uma revisão da sua carteira “Brazil Buy List” e optou pela exclusão das ações da estatal.

Em meio às incertezas políticas que abalaram o mercado na semana passada e com expectativas de que a alta volatilidade persista, o Itaú BBA optou por revisar sua carteira “Brazil Buy List” nesta segunda-feira. Foram removidas as ações da Smiles (SMLE3), Rumo (RAIL3), Iguatemi (IGTA3), Lojas Americanas (LAME4), Petrobras e Gerdau (GGBR4). Por outro lado, foram incluídas as ações da Embraer (EMBR3), Minerva (BEEF3), Suzano (SUZB5), Telefônica Brasil (VIVT4), Hypermarcas (HYPE3) e Ultrapar (UGPA3).

As ações dos frigoríficos JBS (JBSS3) e Marfrig (MRFG3) desabam nesta manhã e figuram como as maiores quedas da carteira teórica do índice. No radar, a JBS entrou na mira da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), xerife do mercado financeiro, desde que vieram à tona na quarta-feira as denúncias de Joesley Batista, um dos sócios do grupo, incriminando o presidente Michel Temer. O frigorífico é investigado pela autarquia por suposta manipulação do mercado em cinco processos administrativos. A CVM quer saber, sobretudo, se a JBS se beneficiou de informações privilegiadas para comprar dólar no mercado futuro – informação antecipada pela colunista Sonia Racy – e também na emissão de ações pelo acionista controlador do grupo – a FB Participações -, antes da denúncia virar notícia e abalar o mercado. O indício de irregularidade foi comunicado ao Ministério Público Federal (MPF).

A autarquia também está de olho em movimentações no mercado derivativo feitas pelo banco Original, controlado pelo grupo, e pediu “esclarecimentos adicionais relativos às notícias e especulações envolvendo delação de acionistas controladores da JBS”.

As maiores baixas dentre as ações que compõem o Ibovespa são:

Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 JBSS3 JBS ON 7,55 -13,32 -33,56 55,03M
 CYRE3 CYRELA REALTON 10,77 -5,53 +5,62 3,70M
 RAIL3 RUMO S.A. ON 8,40 -5,30 +36,81 21,33M
 MULT3 MULTIPLAN ON N2 60,81 -4,88 +2,41 15,64M
 LAME4 LOJAS AMERICPN 13,82 -4,36 -18,59 20,21M

As maiores altas dentre as ações que compõem o Ibovespa são:

Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 FIBR3 FIBRIA ON 34,85 +5,93 +11,96 34,00M
 SUZB5 SUZANO PAPELPNA 14,58 +3,40 +5,43 16,98M
 BRFS3 BRF SA ON 41,82 +3,39 -13,33 88,53M
 EMBR3 EMBRAER ON 15,54 +2,57 -2,03 16,16M
 VALE5 VALE PNA 26,18 +1,87 +23,86 128,47M
* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão)

Crise política

A crise política segue no radar dos mercados, com os investidores  monitorando a tentativa de Michel Temer preservar seu governo após ganhar pelo menos uma sobrevida com a divulgação do áudio da conversa com Joesley Batista, que não foi considerado conclusivo. Mesmo após novas revelações conhecidas na sexta, presidente reafirmou que não renuncia ao posto e contestou a gravação de Joesley.

Vale destacar que, no último sábado, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin decidiu remeter para julgamento pelo plenário da Corte, na próxima quarta-feira (24), o pedido feito pela defesa do presidente Temer para suspender as investigações até que a finalização da perícia sobre o áudio. Em entrevista ao Estadão no sábado, Temer se disse vítima de armação de bandidos que saquearam o País e querem sair impunes e, nessa segunda, reafirmou que não renunciará. 

O presidente ganhou tempo com PSDB e DEM, que adiaram decisão sobre saída do governo, mas segue nas cordas. PSB deixou a base e a OAB pedirá impeachment. Neste cenário, a Eurasia elevou as chances de Temer sair antes de terminar o mandato de 20% para 70%, enquanto o diretor de pesquisa macro da América Latina da Oxford Economics, Marcos Casarin, disse à CNBC que há uma chance de 100% de Temer sair do cargo. Neste cenário, o ETF brasileiro registra queda de cerca de 1%. 

Vale destacar que a reforma trabalhista tem chance de ir adiante nesta semana, destaca a LCA. “Embora nada muito importante esteja previsto: haverá apenas audiências p discussão da proposta na CAE e CAS”, afirma a consultoria.

Relatório Focus

Os economistas consultados semanalmente pelo Banco Central mantiveram o tom das projeções das últimas pesquisas para os principais indicadores da economia brasileira no último levantamento Focus, apesar dos efeitos imprevisíveis da crise política instaurada com a delação premiada de executivos da JBS (JBSS3) pela operação Lava Jato, que colocou o presidente Michel Temer no holofote. Segundo a pesquisa divulgada pela autoridade monetária na manhã desta segunda-feira (22), a mediana das projeções dos economistas de mercado para a inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) caiu de 3,93% para 3,92% neste ano, ao passo que para o ano seguinte foi de 4,36% para 4,34%.

Do lado da atividade econômica, as projeções para o PIB (Produto Interno Bruto) continuaram em crescimento de 0,50% em 2017 e em 2,50% no ano seguinte. Não houve alterações nas projeções para a taxa básica de juros — a Selic: 8,50% ao final dos dois anos. Já para o câmbio, as expectativas passaram de R$ 3,25 para R$ 3,23 para o dólar neste ano, ao passo que para o ano seguinte continuaram em R$ 3,36.

Gabinete da crise acionado

De acordo com informações da Bloomberg, em meio à crise política, o ministério da Fazenda e o Banco Central se dividiram para continuar monitorando os efeitos da crise política no mercado financeiro e seguem com o gabinete da crise acionado. 

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, está analisando as condições do mercado para, caso julgue necessário, conversar com investidores. Nesta segunda, o BC oferta 40.000 contratos de swap cambial em leilão, 9h30 às 9h40, resultado a partir das 9h50. O BC oferta até 8.000 contratos de swap cambial para rolagem dos contratos de 1 de junho, 11h30 às 11h40, resultado a partir das 11h50. Já o Tesouro faz leilões extraordinários de LTN, NTN-F e NTN-B. 

Agenda da semana

A agenda econômica desta semana ganha força com IPCA-15, que pode cair para menos de 4% em 12 meses, em momento de volatilidade nos juros. O indicador será revelado na terça-feira às 9h pelo IBGE. Já os EUA têm PIB na sexta às 9h30 e ata do FOMC na quarta às 15h.

Ainda com relação à política monetária, Haruhiko Kuroda, do BoJ, fala na próxima terça, enquanto o presidente do BCE Mario Draghi fala na quarta. Além disso, atenção para diversos discursos de dirigentes do Fed: nesta segunda, Harker, da Filadélfia, às 11h00, Kashkari, 11h30, Brainard, 20h00, e Evans, 22h00 falam.

Bolsas mundiais

Nesta sessão, as bolsas europeias e o S&P futuro oscilam perto da estabilidade, enquanto os yields dos treasuries e da maioria dos títulos europeus sobem. O mercado segue atento à visita de Donald Trump à Arábia Saudita enquanto que, ainda no plano internacional, a tensão na Coreia do Norte segue no radar. A Coreia do Norte disse nesta segunda-feira que testou com sucesso um míssil balístico intermediário que satisfez todos os requisitos técnicos e que agora pode ser produzido em massa, indicando avanços em sua ambição de ser capaz de atingir os Estados Unidos.

Já na China, o índice acionário de Xangai reverteu a alta na sessão e encerrou em queda nesta segunda-feira, com as preocupações persistentes sobre o crescimento econômico e as regulamentações mais rígidas para conter os investimentos especulativos prejudicando o apetite pelo risco. O mercado tem oscilado ao longo das últimas semanas por temores de desaceleração econômica e regulação mais rígida para limitar grandes riscos financeiros. Vale destacar ainda que o  Centro de Informação oficial do Estado informou no fim de semana que a economia da China deve se expandir em torno de 6,8 por cento no segundo trimestre de 2017, ante 6,9 por cento no primeiro trimestre. “No geral, a economia da China permanecerá estável, mas com uma tendência de ligeira desaceleração”, disse o instituto de pesquisa.

(Com Bloomberg, Reuters e Agência Estado)

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.