Brasil não está barato e dólar deveria valer entre R$ 3,60 e R$ 4,00, diz economista do Goldman

Para o economista-sênior do banco, o câmbio está em um patamar que gera preocupação; a casa dos R$ 3,30 deveria ser atingida somente quando as questões fiscais já estivessem endereçadas, disse

Paula Barra

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SÃO PAULO – O Brasil não está barato, disse o economista-sênior do Goldman Sachs, Alberto Ramos, que reside em Nova York, mas esteve recentemente no País. Para ele, o investidor estrangeiro está vendo com um certo “otimismo exagerado” o ajuste fiscal que tem sido proposto pelo governo de Michel Temer, deixando nas costas de um possível “choque de confiança” o fator que pode por de volta a economia nos trilhos.

Ele ressalta, no entanto, que é difícil saber se esse “choque de confiança”, trazido pela “equipe econômica dos sonhos” montada pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, será o suficiente para por em movimento um ciclo virtuoso de crescimento econômico, receita e melhorias na parte fiscal. Por enquanto, fica a dúvida: “Até que ponto o mercado vai continuar animado? Sem ajuste fiscal, os investidores vão querer aplicar no País?”, questionou, durante palestra realizada neste mês, em São Paulo, pelo Grupo NotreDame Intermédica. 

Para ele, esse “otimismo exagerado” aliado às condições monetárias acomodatícias no exterior (com a onda dos juros negativos nos mercados desenvolvidos) colocou o câmbio em um patamar de preocupação. “O real está ficando sobrevalorizado novamente”, disse. Segundo o economista, o câmbio de equilíbrio para o Brasil está na faixa de R$ 3,60 e R$ 4,00. A casa dos R$ 3,30 deveria ser atingida somente quando as questões fiscais já estivessem endereçadas. 

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“E esse preço justo não é o justo para a economia. A economia está em uma depressão. O câmbio hoje deveria estar barato, competitivo. Quando os ajustes estivessem mais avançados e aparecessem os primeiros sinais de retomada da economia, aí sim o câmbio deveria se apreciar”, complementou. Segundo ele, isso é fonte de preocupação porque pode evoluir para a desfuncionalidade que era vista durante os últimos anos do ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, em que se tinha um câmbio sobrevalorizado, com uma política monetária muito restritiva e política fiscal muito acomodativa. 

As preocupações sobre o atual patamar do câmbio somam-se às projeções dos próximos meses. Segundo Ramos, não parece que o dólar vai ficar na casa dos R$ 3,30 durante muito tempo. Isso porque ele acredita que, se o impeachment for aprovado no final de agosto e o ajuste fiscal se provar mais substancial, a entrada de capital externo será brutal. Se os fatores convergirem para o caminho mais favorável, a entrada de capital vai levar o câmbio ainda mais para baixo e isso vai gerar um grande dilema para a política monetária e cambial, disse. “Vai ser um problema interessante para o Banco Central resolver”. 

Ajuste fiscal: um fator sobreprecificado pelos estrangeiros
Para ele, o ajuste fiscal está sobreprecificado pelo investidor estrangeiro. “É extremamente difícil de ser implementado e não dá para saber se o atual governo vai querer pagar o risco político de promovê-lo. No meu entender, o que o governo anunciou até agora foi muito pouco”, em referência à meta do teto de gastos e reforma da Previdência. 

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Segundo o economista, a meta de teto de gastos é uma medida simples e atrativa por isso, mas é mais fácil de ser proposta do que ser implementada; já a reforma da Previdência, se for bem feita, vai apenas estabilizar o déficit previdenciário. “A reforma da Previdência não mexe em absolutamente nada na dinâmica fiscal nos próximos 3 a 5 anos. É mínima, mas é necessária, é urgente, só não dá para contar muito com isso para mexer na situação fiscal”, disse.

Com isso, ele acredita sobra um resíduo muito pequeno para fazer o ajuste fiscal. “Isso só vai funcionar se tivermos muita sorte e a economia começar a ir muito bem, o que vai promover mais receita; ou se o governo adotar medidas fiscais de curto prazo e é isso que está faltando nesse momento”, comentou.

Para ele, a interpretação mais benigna do atual momento é que o governo sabe que precisa fazer mais, mas o momento político não é o ideal, devendo então esperar a aprovação do impeachment no fim de agosto e da eleição municipal em outubro. Passadas essas duas “barreiras”, deve-se endereçar questões do ajuste fiscal de curto prazo, que provavelmente envolverão um certo arrojo nos gastos. “Mas não sei se é essa a interpretação certa”, disse. 

Uma interpretação menos benigna disso é que o governo não vai pagar todo o custo político de fazer o ajuste, endereçando ajustes de médio prazo, com uma reforma da Previdência e a medida do teto dos gastos, que é muito boa, mas deixe para o próximo governo os ajustes mais pesados, porém necessários, disse. Segundo ele, o problema disso é que o País pode entrar em uma trajetória de ‘gradualismo fiscal’ e isso vai levar o Brasil para uma situação ainda mais dramática. 

Segundo o economista, a questão é saber qual vai ser o custo político dessas reformas. “É uma questão política”. O governo poderia aumentar a receita por meio da carga tributária, o problema é que ela já é elevadíssima no Brasil, então isso terá que ser resolvido por meio de um ajuste fiscal. “Só depois de cortar um pouco da expansão que foi vista nos últimos 15 anos que o governo em exercício terá legitimidade para vir à sociedade e aumentar mais impostos”, comentou.