Fugir da Bolsa por juros nos EUA e corte de rating é não conhecer o passado do mercado

Em evento promovido pela LifeTime, em São Paulo, na quarta-feira, João Braga, co-gestor da XP Gestão e "pupilo" de Luis Stuhlberger, apresentou alguns pontos para o investidor ficar, no mínimo, menos pessimista com o Brasil

Thiago Salomão

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SÃO PAULO – “Compre [ações] quando ninguém quer. Se você tem algum dinheiro sobrando, coloque uma parte em Bolsa”. A frase ilustra bem a visão otimista de João Braga para a bolsa brasileira no longo prazo. Um dos “pupilos” do lendário Luis Stuhlberger no Fundo Verde e atualmente co-gestor da XP Gestão, Braga mostrou com base na história porque não faz sentido pensar que a alta de juros nos EUA é ruim para a Bovespa.

“Muito se ouve no mercado que se os EUA subirem juros, muito dinheiro vai embora do Brasil. Será mesmo? Eu não tenho esse medo da alta de juros”, disse Braga durante palestra realizada no evento “Panorama Conjuntural 2016”, promovido pela LifeTime Investimentos na última terça-feira (24) em São Paulo. Usando como base um estudo feito pelo JPMorgan, ele mostra que, das 13 vezes que o Federal Reserve elevou juros nos EUA desde 1995, em 11 o Ibovespa acumulou alta nos meses seguintes.

O co-gestor da XP também usou dados históricos para mostrar porque não devemos temer um novo corte de rating, disse que vai “chover” dinheiro estrangeiro no Brasil quando a volatilidade do câmbio cair – e isso já está acontecendo, segundo ele – e comentou sobre o “preço caro” da ação da Petrobras e sobre o dilema da Vale. Para finalizar, falou ainda sobre o “call para os nossos filhos”, referente à expectativa de como a ascensão da “classe C” chinesa pode repercutir positivamente ao Brasil. 

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Confira os principais trechos da apresentação de João Braga:

Alta de juros nos EUA
Nunca vi tanta gente do mercado errar sobre isso, e já faz tempo que estão errando. O fato é que a economia dos Estados Unidos está indo muito bem, o que já justificaria uma alta na taxa de juros. O único evento que tem segurado isso é a China.

Muito se ouve no mercado que “se os EUA subirem juros, muito dinheiro vai embora do Brasil”. Será mesmo? Eu não tenho esse medo da alta de juros. Um estudo feito pelo JPMorgan mostra que, entre 1995 e 2013, o Federal Reserve elevou os juros por 13 vezes; e em 11 dessas altas, o Ibovespa subiu nos meses seguintes.

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Chuva de dinheiro no Brasil
O problema do Brasil hoje não é apenas a depreciação da taxa de câmbio, mas também a volatilidade. É isso que afasta o investidor estrangeiro com viés mais de longo prazo. Se a volatilidade da moeda cair, vai chover dinheiro estrangeiro aqui no Brasil para se aproveitar dos nossos juros. E digo mais: já estou vendo isso acontecer por aqui.

Corte de rating
Mais um mito do mercado: “quando vier o segundo corte do rating, daí o Brasil vai azedar de vez”. Outro dia minha mãe, que mora lá em Goiânia, veio me dizer que ouviu isso no jornal, e se até a minha mãe já sabe que o Brasil vai azedar quando vier mais um corte de rating, significa que o mercado todo sabe – e já precificou isso.

A história também colabora para sermos menos pessimistas: de 1998 para cá, 6 países perderam a nota “Grau de Investimento”. Destes, 5 viram a bolsa do país subir nos 6 meses seguintes. Por que isso aconteceu? Porque o mercado não espera para precificar um evento que já conhece. Vamos perder o “Investment Grade” em 2016 sim, mas isso já não faz mais preço.

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Resultados
O que importa não é um resultado mostrar alta ou queda no lucro, mas sim se ele veio acima ou abaixo do esperado. As projeções atuais dos analistas apontam para mais uma queda nos resultados das empresas brasileiras. Até o Itaú, cujo lucro vem crescendo ano a ano desde 2003, deve mostrar retração nos ganhos em 2016. Isso é ruim? Sim, mas também já está no preço. Ou seja: qualquer resultado positivo nas próximas temporadas de balanços trimestrais e a Bovespa pode responder com forte valorização.

Petrobras está barata?
Imagine um carro que custa R$ 100 mil. Se eu dissesse que estou vendendo esse mesmo carro 0 km por R$ 10 mil, você compraria? Certamente sim. Mas e se o proprietário desse carro tem uma dívida de R$ 110 mil, esses R$ 10 mil ainda seriam uma boa oferta? É exatamente essa a situação da Petrobras. A ação já valeu R$ 40 e hoje está quase R$ 7; será que já não caiu muito? Não tenha dúvida. Mas se você somar o valor de mercado com a dívida dela, verá que ela nunca esteve tão cara na Bolsa. (obs: a Petrobras fechou o 3º trimestre de 2015 com uma dívida de pouco mais de R$ 500 bilhões, consolidando-se como uma das empresas mais endividadas do mundo).

Dilema da Vale
Mesmo sem citar a tragédia envolvendo a Samarco na cidade de Mariana (MG), o cenário da Vale é bem complicado por causa da enorme sensibilidade da empresa ao preço do minério de ferro, o que ficou ainda mais evidente no momento atual de forte queda que a commodity acumula nos últimos meses. Só para se ter uma ideia: se o minério cair de US$ 50 para US$ 45 (algo que tem acontecido com frequência), a geração de caixa da Vale zera, ou seja, a empresa será obrigada a fazer uma chamada de capital caso esse cenário se mantenha.

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Por outro lado, a vale tem Carajás, que é um projeto espetacular e colocará a Vale em um outro patamar. O problema é que ele só ficará pronto daqui 3 anos. Esse é o dilema da Vale: ela tem um verdadeiro paraíso a frente, mas para chegar até ele é preciso atravessar um longo e escaldante deserto. Se ela conseguir sobreviver a tudo isso, será maravilhoso. Eu prefiro esperar um pouco até se aproximar do prazo antes de tomar alguma decisão.

China e o “call para os nossos filhos”
Eu não defino “classe C” como acima de tal faixa de renda, para mim classe C é quando a pessoa consegue ter opção de escolher o que quer. É como se ela dissesse “hoje eu quero comer frango” e pudesse escolher isso. Isso pra mim é classe C. Pois bem, durante os 4 anos que fui conselheiro da Riachuelo, pude acompanhar o surgimento da “nova classe C” no Brasil. E isso é espetacular: a sensação de felicidade de alguém que migra da classe D – onde é praticamente um “modo de sobrevivência” –  para a classe C é maior do que de uma pessoa que tinha R$ 1 milhão e passa a ter R$ 100 milhões. Não tem nada melhor do que migrar da classe D para a C.

Agora pense na China: 10 anos atrás, 1% da população estava na classe C. Atualmente, esse percentual subiu para 10% da população. Daqui a 10 anos, estará em 55%. Imagina quanta gente vai “entrar” no mundo para consumir? Se o Brasil conseguir ao mesmo tempo desengargalar muitas de suas deficiências, será uma grande oportunidade de crescimento. Mas esse é aquele “call” para os nossos filhos.

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Thiago Salomão

Idealizador e apresentador do canal Stock Pickers