A hora da virada? Para o HSBC, agora o placar está 7 a 1 a favor do Brasil

Os riscos estão diminuindo, mas ainda há um fator que deve pesar contra, destacam os estrategistas do banco

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Faz mais de nove meses, mas aqueles momentos ainda estão bem frescos na memória dos brasileiros. A goleada histórica, por 7 a 1, em plena semifinal de Copa do Mundo e ainda em casa, foi considerada ainda mais trágica do que perder a final da Copa de 1950 para o Uruguai, no Maracanã, por 2 a 1. O dia 8 de julho de 2014 não deve ser esquecido pelos brasileiros. 

Contudo, houve quem dissesse que o 7 a 1 seria pouco perto do cenário econômico e político que passaríamos, o que em parte se concretizou com o PIB baixo de 2014 (e espera de retração ainda maior em 2015), inflação em disparada, expectativa por racionamento, entre outros fatores. As análises falavam na época até de um 7 a 1 na economia, com 7% na inflação e 1% de crescimento. Além disso, vale lembrar que a Copa antecedeu as eleições mais disputadas da história da redemocratização brasileira e o mercado temia que, caso Dilma fosse reeleita, a intervenção governamental continuaria, gerando um fator adicional de pressão. 

E agora, depois destes meses de tensão (sendo que alguns temores se concretizaram e outros não), qual é o cenário para o Brasil? De acordo com o destacado pelo banco HSBC em relatório de estratégia, agora, o cenário é de 7 a 1 a favor do Brasil. 

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Segundo os analistas André Carvalho e Marina Valle a expectativa agora é de uma redução relevante nos principais riscos negativos no Brasil. São eles: 1) racionamento de energia elétrica; 2) ambiente político; 3) Petrobras; 4) desvalorização do Real; 5) ajuste na política macroeconômica; 6) surpresas negativas com a inflação e 7) ciclo de aperto monetário.

“Desde meados de março, os retornos de ações e de renda fixa (medidos pelo retorno dos resultados do MSCI Brasil em 12 meses à frente e a taxa de swap de 12 meses à frente ajustada pela expectativa de inflação, respectivamente) sofreram uma queda drástica no Brasil, possivelmente refletindo uma redução dos riscos negativos no país”, ressaltam os analistas, destrinchando quais são os fatores para o maior ânimo com o Brasil. 

Contudo, destacam eles, apesar da opinião mais favorável para o longo prazo, ainda paira um risco importante no curto prazo que pode limitar uma continuidade do forte desempenho do mercado de ações no Brasil. Além disso, ao analisar os três principais catalisadores para o mercado de renda variável, os estrategistas destacam que a avaliação parece cara e que o potencial de alta para o mercado de ações no curto prazo provavelmente será mais relacionado à expansão dos múltiplos. “Nesse sentido, mantemos nossa atitude neutra a respeito do Brasil de uma perspectiva da América Latina, e acreditamos que um potencial de alta provavelmente será limitado no curto prazo, e motivado principalmente por uma redução nas taxas reais e redução dos riscos negativos”, afirmam Carvalho e Valle.

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Confira abaixo os principais motivos para o jogo ter virado a favor para o Brasil – e o que está pesando contra:

Sete riscos que caem ao mesmo tempo…

1 – É improvável um racionamento de energia elétrica em 2015

De acordo com o ONS (Operador Nacional do Sistema) a armazenagem de água nos reservatórios do país aumentou 10 pontos percentuais desde o início de março, acima da média histórica de 8 pontos percentuais, provavelmente reduzindo o risco de racionamento de energia elétrica em 2015, na opinião dos estrategistas.

Contudo, apesar dessa surpresa positiva, a armazenagem de água ainda totaliza 33% da capacidade máxima, bem abaixo da média histórica para abril de 74%. A estação da seca começa em maio, e a armazenagem de água costuma baixar até novembro.

“Nosso cenário básico é de uma racionalização de energia e não de racionamento. Como a armazenagem é baixa, pelos padrões históricos, planejamos avaliar frequentemente o risco de racionamento por meio da evolução da armazenagem de água, e tiraremos nosso foco das precipitações e passaremos para a queda esperada no consumo de energia em reação ao aumento de quase 50% nas tarifas. De acordo com alguns artigos acadêmicos, essa queda pode chegar a cerca de 5%”, destacam Carvalho e Valle. 

2 – Risco político deve ser reduzido durante o trimestre

A incerteza quanto ao cenário político deve ser reduzida devido à decisão recente da Presidente Dilma Rousseff de colocar o PMDB como encarregado das negociações políticas entre a administração e o Congresso e também considerando o apoio aparente dos ministros Joaquim Levy e Nelson Barbosa para o desenvolvimento de relacionamentos com o Congresso, estando abertos a pontos de negociação de controvérsias.

 Segundo o HSBC, um teste importante nesse campo será o apoio do Congresso ao aperto fiscal, obtido pela aprovação de medidas lançadas pela equipe econômica da Presidente Dilma, e também pela não ameaça ao ajuste com a aprovação de questões negativas. Uma data limite importante é 2 de junho, apontam eles, quando o Congresso precisa aprovar duas medidas provisórias, incluindo mudanças no seguro-desemprego, bônus salariais e benefícios de pensões.

3 – Petrobras pode divulgar suas demonstrações financeiras auditadas de 2014

A Petrobras anunciou que seu Conselho planeja se reunir em 22 de abril para revisar suas demonstrações financeiras auditadas de 2014. Os estrategistas destacam que, com a divulgação dos resultados auditados antes de junho, a Petrobras evitaria ter que pagar mais de US$ 50 bilhões para seus portadores de bônus (que poderia ser um grande problema para o Tesouro Nacional) e poderia evitar ser rebaixada pelas agências de classificação de risco para um status “junk”.

“Acreditamos que a publicação das demonstrações financeiras auditadas de 2014 da Petrobras seria uma boa notícia no nível macroeconômico. Entretanto, a alternativa de a empresa não divulgar essas demonstrações poderia causar uma deterioração significativa no ambiente macroeconômico do país, em nossa opinião”, afirmam.

4 – Real no nível esperado

Para o HSBC, o risco de uma desvalorização adicional do Real durante 2015 parece ter diminuído significativamente, uma vez que o dólar tem sido negociado recentemente em torno de R$ 3,10- 3,20, um nível próximo à projeção da equipe de estratégia de câmbio do HSBC para o final de 2015 de R$ 3,20.

Assim, eles veem risco de baixa limitado para investidores em ações em decorrência do lado da moeda. “Como esperamos que o setor industrial esteja à frente da recuperação do PIB no final deste ano, a desvalorização do real será crucial para estimular a substituição de importações e as exportações, melhorando assim a confiança dos empresários do setor industrial. Uma forma de a administração da Presidente Dilma ajudar a manter o Real em torno desse nível seria administrar o estoque de swaps cambiais (US$ 114 bilhões aproximadamente)”.

5 – Ajuste da política macroeconômica em andamento

A equipe econômica da presidente Dilma Rousseff já fez mais em termos do ajuste macroeconômico do que os estrategistas do HSBC esperavam. “Considerando todas as medidas que já foram anunciadas e o crescimento do PIB em 2015 de -1,2%, a equipe de economia do HSBC projeta o superávit primário em 1,0% do PIB em 2015, contra -0,6% do PIB no ano passado, o que já representaria uma recuperação relevante”, afirmam.

Além disso, a equipe da presidente ainda tem diversas alternativas em termos de possíveis medidas adicionais de aperto fiscal. Por exemplo, o ministro da Fazenda Joaquim Levy anunciou uma reversão no imposto PIS/COFINS da receita financeira das empresas em 2 de abril. Essa medida entrará em vigor em agosto e, de acordo com as estimativas do governo, pode trazer um adicional de R$2,7 bilhões em receita apenas em 2015.

“De qualquer modo, não cremos que as taxas de longo prazo já estejam precificando essa expectativa de uma melhoria relevante na política macroeconômica. Acreditamos que isso possa acontecer depois de bons resultados fiscais sequenciais, possivelmente no final do segundo trimestre de 2015”, ressaltam.

6 – Surpresas negativas na inflação estão perdendo força

índice de inflação IPCA subiu rapidamente, passando de 6,4% em dezembro para 8,1% em março. A equipe de economia do HSBC espera que atinja um pico próximo a 8,5% no meio de 2015. “O que é mais importante para os investidores, a nosso ver, é que a inflação já parece estar muito próxima a seu pico, provavelmente reduzindo o risco de surpresas negativas nesse campo”, afirmam.

7 – Aumentos da taxa Selic parecem próximos do fim

Desde o início do ciclo de aperto em outubro do ano passado, o Copom (Comitê de Política Monetária), do Banco Central aumentou a taxa Selic em 175 pontos-base, passando de 11,0% para 12,75% agora. A equipe de economia do HSBC projeta um aumento final de 50 pontos-base na reunião de agosto, levando a um pico de 13,25% na taxa de juros.

Mas, destacam, mesmo se o ciclo de aperto for estendido para a reunião de junho do Copom, o final do ciclo parece estar no horizonte. “Portanto, esperamos que a discussão sobre a política monetária em breve passe a ser sobre quando e em que nível o Copom irá cortar a Selic”, afirmam.

… mas a expectativa é de que um risco importante se prolongue

1. A temporada de divulgação de resultados deve causar estimativas do consenso mais realistas para o ano

“Como cremos que a projeção do consenso para o crescimento dos resultados de 2015 é excessivamente elevada, esperamos que venham mais notícias negativas do que positivas na temporada de divulgação dos resultados do primeiro trimestre de 2015”, afirmam, destacando que os resultados serão anunciados entre 23 de abril e meados de maio.

De uma perspectiva de estratégia de ações, eles veem riscos para o crescimento do PIB esperado em 2015, em direção a queda de 2,0% em comparação às projeções do consenso de contração de 1,0%, avaliação esta fundamentada pelo recente desempenho dos índices de confiança e pelo mercado de trabalho.

Com isso, para evitar surpresas negativas nos resultados, os estrategistas mantêm a cautela a respeito de setores como nomes cíclicos industriais, construtoras, alternativas de consumo e small caps em geral, por conta das revisões para baixo no crescimento econômico. Por outro lado, estão mais otimistas a respeito de setores como rodovias pedagiadas, shopping centers, instituições financeiras e pagadoras de dividendos (por exemplo, linhas de transmissão de energia elétrica), tendo em vista as notícias sobre os ajustes na política macroeconômica. Por mim, em meio à desvalorização do real, eles mantêm opinião favorável sobre exportadores não tradicionais, como papel e celulose, produtores de carne bovina e exportadores industriais.

Confira abaixo a carteira estratégica do HSBC:

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.