Ibovespa tem maior queda desde setembro com rumor de imposto e cenário externo

Índice cai 4% diante da possibilidade que dividendos sejam taxados e os juros sobre capital próprio sejam extintos; cenário externo cai com rebaixamento de rating do Japão

Equipe InfoMoney

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SÃO PAULO – O Ibovespa teve um dia de sell-off que acabou resultando na sua pior queda desde 29 de setembro nesta segunda-feira (1) com rumor de que o governo pode encampar um projeto de lei que tem como base a tributação de dividendos e a extinção dos juros sobre capital próprio. A preocupação se somou a um cenário externo difícil por conta do rebaixamento do rating do Japão enquanto o cenário doméstico também não anima.

O Ibovespa fechou em queda de 4,47%, a 52.276 pontos, a última vez que o índice fechou com baixa maior do que 4% foi em 29 de agosto deste ano com pesquisa Datafolha mostrando a presidente Dilma Rousseff (PT) muito a frente dos adversários Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB). Na ocasião, a queda foi de 4,52%.

O desempenho é bem pior que das bolsas norte-americanas, já que os três principais índices de lá – Dow Jones, Nasdaq e S&P500 – marcavam queda entre 0,2% e 1,2%. Já o dólar comercial fechou com queda de 0,51%, a R$ 2,5579 na compra e R$ 2,5586 na venda. O volume negociado foi de R$ 7,491 bilhões.

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Juntamente, ações de peso do índice aceleraram as perdas nesta tarde, como Petrobras (PETR3, R$ 11,51, -5,27%; PETR4, R$ 12,32, -3,75%), bancos – Banco do Brasil (BBAS3, R$ 27,68, -6,64%), Itaú Unibanco (ITUB4, R$ 36,98, -4,16%) e Bradesco (BBDC3, R$ 36,55, -4,22%; BBDC4, R$ 37,49, -5,23%) – e Vale (VALE3, R$ 22,22, -4,64%; VALE5, R$ 19,20, -4,00%).

O motivo pelo mau humor do mercado é o projeto de lei, de autoria do deputado Renato Simões e do ex-deputado Ricardo Berzoini, ambos do PT, que propõe que os dividendos pagos pelas empresas sejam tributados enquanto o juros sobre capital próprio (JCP) seja extinto. Atualmente, a lei 9.249/95 isenta os dividendos recebidos pela pessoa física, já que a empresa paga os impostos sobre o lucro antes de calcular o valor a ser distribuído. Assim, se o investidor tiver que pagar o imposto sobre o dividendo, o governo estará cobrando duas vezes o IR sobre o mesmo ganho.

Já os juros sobre o capital próprio são tributados em 15%. Mas quem paga é o investidor – as empresas que distribuem JCP só retêm o dinheiro e o repassam para a Receita Federal (retenção na fonte). Os JCP, na verdade, são um incentivo tributário para as empresas porque os valores são retirados da base de cálculo do IR e da CSLL – cuja alíquota somada costuma ser de 34%. Tanto que, desde que foram criados em meados da década de 1990, os JCP têm funcionado como uma arma de planejamento tributário pelas empresas, que distribuem juros aos acionistas, que pagam 15% de IR, enqunato a empresa evita pagar 34%.

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A vantagem dos JCP é tão grande que a Receita Federal teve que criar limitações para sua distribuição. Então as empresas só podem distribuir 50% do lucro ou da reserva de lucros em JCP e também não podem pagar um valor superior ao patrimônio líquido multiplicado pela TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo, usada pelo BNDES como taxa de juros na maioria de seus empréstimos de longo prazo).

Radar doméstico
Além disso, por aqui, o mercado refletia resultados do setor público e da dívida bruta, que foram mais um balde de água fria para a confiança dos investidores no futuro da economia brasileira. O superávit primário obtido por Governo Central (Banco Central, Previdência e Tesouro Nacional) somado a Estados, municípios e estatais excluindo-se Eletrobras e Petrobras foi de R$ 3,719 bilhões em outubro, o menor resultado para o mês desde o início da série histórica, em dezembro de 2001.

A relação entre a dívida líquida do setor público não financeiro com o PIB também avançou de 35,9% para 36,1%. É o maior percentual desde março de 2012.

Diante desses números, a meta de superávit de 1,2% do PIB proposta pelo novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy e considerada factível pela maior parte do mercado e dos economistas se torna cada vez mais difícil. Um ajuste fiscal com corte nos investimentos e aumento dos impostos, trazendo uma redução ainda maior na expansão da economia também fica mais provável.

Outro dado preocupante é o PMI dda indústria medido pelo HSBC. O índice ficou em 48,7 pontos em novembro. O PMI mostra expansão quando os números vêm acima de 50 e contração quando vêm abaixo disso.

O relatório Focus divulgado pelo Banco Central esta manhã também explicita outro problema. A relação entre exportações e importações se reduziu muito nos últimos tempos e analistas já preveem resultado zero na balança comercial. Números de taxa Selic e IPCA se mantiveram idênticos em 11,5% e 6,43% respectivamente. Já a projeção para o crescimento do PIB foi novamente cortada de 0,2% para 0,19% em 2014 e de 0,8% para 0,77% em 2015.

Destaques
Além do mau humor do mercado em meio às preocupações sobre a economia mundial e rumores negativos sobre dividendos, as ações da Petrobras (PETR3; PETR4) caíram forte também com a queda dos preços do petróleo após reunião da OPEP decidindo manter produção do combustível. Além disso, a CPI mista da Petrobras marcou para amanhã uma acareação entre o ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa e do ex-diretor da Área Internacional da companhia Nestor Cerveró.

No último dia 18, após a oposição se articular com integrantes da base aliada, a comissão aprovou uma série de requerimentos de convocação de envolvidos no escândalo de corrupção e ainda decidiu quebrar os sigilos bancário, fiscal e telefônico do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, entre 1º de maio de 2005 e 20 de maio deste ano.

A BM&Bovespa (BVMF3, R$ 9,91, -5,98%) sofreu com a maior fuga de pessoas físicas do mercado de ações dos últimos 16 anos. Até 25 de novembro, a parcela dos pequenos investidores na BM&FBovespa era de 13,9% – se terminar 2014 dessa forma, será o menor nível anual desde 1998, quando foi de 12,3%. O maior motivo para a debandada do pequeno investidores desse mercado foi a maior volatilidade apresentada pela Bolsa este ano com o chamado “rali eleitoral”.

Destaque também para as ações da Vale (VALE3; VALE5), que foram afetadas negativamente por dados menores que o esperado na China. A leitura final do HSBC PMI situou-se em 50, enquanto o PMI oficial foi de 50,8 para 50,3 em outubro e abaixo das expectativas de 50,6. Lembrando que o gigante asiático é o maior comprador do minério da companhia.

As maiores baixas, dentre as ações que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano
 GOAU4 GERDAU MET PN 11,97 -7,85 -47,88
 TIMP3 TIM PART S/A ON 11,49 -7,78 -4,16
 MRFG3 MARFRIG ON 6,05 -7,49 +51,25
 PDGR3 PDG REALT ON 1,03 -7,21 -43,09
 ELET6 ELETROBRAS PNB 7,20 -6,74 -16,70

Nenhuma ação que compõe o Índice Bovespa fechou em alta.

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram:

 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1
 PETR4 PETROBRAS PN 12,32 -3,75 686,10M
 ITUB4 ITAUUNIBANCO PN ED 36,98 -4,16 578,62M
 BBDC4 BRADESCO PN 37,49 -5,23 363,95M
 PETR3 PETROBRAS ON 11,51 -5,27 304,79M
 VALE5 VALE PNA 19,20 -4,00 287,90M
 ABEV3 AMBEV S/A ON 16,01 -4,99 283,10M
 BBAS3 BRASIL ON 27,68 -6,64 226,02M
 ITSA4 ITAUSA PN ED 10,02 -4,25 217,69M
 BRFS3 BRF SA ON 65,40 -1,51 212,49M
 BVMF3 BMFBOVESPA ON 9,91 -5,98 182,06M

* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão) 

Cenário externo
A queda no iene e preços menores de commodities ajudaram as ações japonesas, com o índice Nikkei contrariando a tendência e fechando em alta de 0,75%, próximo à máxima de sete anos. Os preços do petróleo alcançaram mínimas de cinco anos, sem conseguir encontrar um piso mesmo diante da maior queda em 2 anos e meio na semana passada, depois que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) não cortou a produção em face ao excesso de oferta.

“Eles (Opep) podem sobreviver a US$ 60 por barril, mas esse preço derrubaria boa parte da concorrência – muito do petróleo de xisto dos Estados Unidos – como também adiaria firmemente investimentos no crescimento de capacidade futura”, disseram analistas da ANZ, em nota.

Piorando ainda mais o cenário das commodities, dados da indústria da China sugeriram que o crescimento está desacelerando no país, cuja demanda tem sustentado os preços das commodities há anos.

Além disso, mineradoras como Anglo American e Fresnillo também tiveram quedas de mais de 4 por cento com a baixa no preço do ouro e da prata na segunda-feira de manhã. Os eleitores suíços rejeitaram propostas para reforçar as reservas de ouro do país em um referendo no domingo, o que reforçou a queda dos metais.

Houve também um crescimento mais lento do que o esperado no setor de manufatura da China. A leitura final do HSBC PMI situou-se em 50, enquanto o PMI oficial foi de 50,8 para 50,3 em outubro e abaixo das expectativas de 50,6.

(Com Reuters)