Siderúrgicas patinam na Bolsa e têm o pior desempenho entre todos os setores

Com quedas de Usiminas, CSN e Gerdau, siderúrgicas têm série de pregões ruins nos últimos dias; Quatro das seis ações que mais caíram no ano foram do setor

Equipe InfoMoney

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SÃO PAULO – Com a economia brasileira crescendo pouco e previsões cada vez piores para a expansão do PIB neste ano, a indústria como um todo tem patinado. Mas quem tem sofrido mesmo em 2014 são as siderúrgicas, que além das dificuldades de aumentar as vendas no mercado externo ainda enfrentaram um ano de câmbio mais baixo e desaceleração na China, saturando o mercado internacional.

Os números são preocupantes: das seis ações que mais caíram em 2014 no Ibovespa até agora, quatro são de companhias do setor: Usiminas (USIM5), queda de 60,59%, CSN (CSNA3), 43,53%, Gerdau (GGBR4), 38,59% e Gerdau Metalúrgica (GOAU4), 42,10%. 

O resultado do terceiro trimestre da Usiminas, divulgado na semana passada, foi considerado decepcionante pela maior parte do mercado. A empresa fechou o terceiro trimestre com prejuízo de R$ 24 milhões, sofrendo com a queda de 12% nas vendas de aço por todo o setor, segundo dados do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço. Além do quadro doméstico, a Usiminas também sofreu com um impacto cambial de R$ 164 milhões.

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Quem também apanhou no trimestre foi a Gerdau, que viu seu lucro cair 59,2% ante o mesmo período de 2013. Segundo Victor Penna, analista da BB Investimentos, “o resultado da Gerdau continua sendo pressionado pelo recuo da demanda no mercado interno e América Latina, versus performance positiva por parte dos EUA”. Para se adaptar à situação, a saída foi cortar custos mesmo: a companhia reduziu de R$ 2,4 bilhões para R$ 2,1 bilhões o plano de investimentos previstos para 2014.

“Após a Copa do Mundo, se esperava uma recuperação que não aconteceu”, disse Penna. Para ele, a fraqueza do mercado dificulta o aumento das receitas do setor. Produção de bens de capital e bens duráveis caíram, bem como a produção total de veículos, grandes compradores de aço, que teve um tombo de 10% contra 2013 segundo dados da Anfavea. 

Com isso, as companhias não conseguem aumentar as vendas nem o preço, e, como se não bastasse, a estagnação da economia global também aumenta a concorrência no setor, já que empresas do mundo todo se voltam ao mercado externo para obterem maiores receitas. “Se o mercado lá fora está ruim, o excesso de capacidade é muito elevado, e às vezes as empresas desovam aqui a preços baixos”, explica o analista.

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O problema do dólar em patamar mais baixo durante a maior parte do ano (ficando abaixo dos R$ 2,30 de março a setembro), já não existe mais com as últimas altas. Contudo, as siderúrgicas continuam com dificuldade de vender seu produto tanto aqui quanto lá fora.

Minério
Uma saída possível para as siderúrgicas diante desse cenário desalentador é a exportação do minério bruto, como analistas do Credit Suisse pontuaram. “As empresas [siderúrgicas] não devem ter outra alternativa a não ser aumentar exportações, incluindo de produtos semi-acabados a uma provável margem negativa”, disseram em entrevista à Reuters. O problema é que 
nem nisso o cenário tem sido favorável.

Depois de ser o motor do crescimento da economia global na primeira década do século XXI, a China começou desacelerar. O gigante asiático cresceu 7,3% no terceiro trimestre desse ano, uma taxa invejável, não fosse a menor do país desde 2009. Com isso, o que também chegou ao menor patamar desde 2009 foi o preço do minério de ferro, que já chegou a cair para US$ 77,50 nas primeiras semanas de outubro.

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Para Victor Penna, uma melhora expressiva na situação das siderúrgicas só irá acontecer durante o segundo semestre de 2015 caso o governo faça ajustes para colocar novamente a economia nos eixos. “Acho que as siderúrgicas e a indústria nacional têm que se voltar para o mercado nacional, investindo onde há mais retorno. Elas têm que cortar custos e despesas operacionais para elevar parte das margens”, afirma.

Apesar disso, ele faz a ressalva de que a Usiminas, por exemplo, “não consegue mais extrair ou diminuir muito custo”, o que se refletiu no balanço da empresa. Ou seja, quanto antes mudanças acontecerm no cenário doméstico, para que o PIB brasileiro volte a crescer, melhor será para as produtoras de aço.