Expectativa de alta de Dilma no Datafolha derruba Ibovespa; dólar sobe 0,9%

Em meio à euforia com a Copa do Mundo, expectativa é de que haja pelo menos manutenção nas intenções de voto para a presidente; exportadoras driblam perdas e disparam

Lara Rizério

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SÃO PAULO – O dia caminhava para ser de calmaria no mercado brasileiro, com os investidores, assim como na véspera, aguardando o resultado da pesquisa eleitoral Datafolha para tomarem decisões mais contundentes. No entanto, durante as últimas horas de pregão, o Ibovespa acentuou suas perdas, puxado pelas ações dos bancos e da Petrobras (PETR3, R$ 16,09, +0,25%PETR4, R$ 17,12, -0,41%), ofuscando os fortes ganhos das exportadoras. Nesta quarta-feira (2), o índice fechou em queda de 0,27%, a 53.028 pontos. O giro financeiro da Bovespa foi de R$ 5,90 bilhões.

A expectativa é de que o novo Datafolha, cujo levantamento termina hoje, mostre uma reação de Dilma nas intenções de voto, assim como a registrada no Ibope do último dia 19, quando a presidente mostrou estabilidade. E um dos motivos é a Copa do Mundo, que é apontada como um fator positivo para a presidente, já que o evento está sendo bem sucedido e é visto como um sucesso. De acordo com o analista político da MCM Consultores, Ricardo Ribeiro, o levantamento deve indicar estabilidade ou aumento das intenções de voto na presidenciável petista. O próprio PT estaria esperando a alta de Dilma no próximo levantamento.

Os sinais de Dilma Rousseff nas pesquisas têm levado, desde março, a uma alta das ações e vice-versa, uma vez que uma boa parcela liberal dos investidores está se mostrando mais resistente às medidas intervencionistas do atual governo na economia nacional. O mercado vê negativamente as intervenções do atual governo em alguns setores da economia e que se reflete principalmente na estatal. Assim, quanto menor a chance da reeleição de Dilma, mais animado o mercado parece ficar.

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Além da Petrobras, os bancos também acentuaram as perdas nos instantes finais do pregão, com destaque para o Banco do Brasil (BBAS3, R$ 24,52, -1,68%), Itaú Unibanco (ITUB4, R$ 31,56, -1,62%) e Bradesco (BBDC3, R$ 32,28, -0,34%BBDC4, R$ 31,93, -0,31%). Na semana passada, a nota do Banco Central reduziu a sua estimativa de crescimento do estoque de crédito nos bancos privados nacionais neste ano a 6%, frente aos 10% esperados até então, ao mesmo tempo em que manteve a projeção de expansão de 17% para os bancos púbicos. Além disso, preocupam o mercado as expectativas de elevação da inadimplência no Brasil e a reação dos bancos de elevação dos spreads.

Outro fator a chamar a atenção nesta sessão foi o dólar, que fechou com fortes ganhos de 0,88% ante o real, cotado a R$ 2,2243 na venda – em sua maior alta em um mês -, acompanhando as mudanças do Banco Central na atuação sobre o mercado cambial. O mercado espera que a autoridade monetária passe a realizar apenas 77% de seu programa de rolagem de swap esperado, deixando os outros 23% vencer, conforme apontou o analista-chefe da Guide Investimentos, Luis Gustavo Pereira.

Com uma menor atuação do BC, espera-se que a moeda americana se acomode em um patamar mais elevado do que mais próximo dos R$ 2,20 em que a divisa caminhou durante bastante tempo. Além disso, o momento frágil da economia brasileira contribui para que aumente a tendência de valorização do dólar. Desta forma, na contramão do dia negativo para a maior parte das ações do Ibovespa, as exportadoras de commodities, com destaque para Usiminas (USIM5, R$ 8,11, +4,65%), CSN (CSNA3, R$ 9,66, +3,43%) Vale (VALE3, R$ 30,44, +2,66%VALE5, R$ 27,20, +2,03%) e Fibria (FIBR3, R$ 22,30, +4,06%), foram as que mais comemoraram. Vale lembrar que, com a moeda americana apreciada em relação ao real, as empresas brasileiras têm a possibilidade de se tornarem mais competitivas no cenário internacional e acumularem ganhos maiores.

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Além das mudanças do governo brasileiro, o analista-chefe da Leme Investimentos, João Pedro Brugger, ressalta o forte fluxo de capital destinado para o Brasil desde março, quando investidores se sentiram atraídos por uma relação custo/benefício mais favorável a eles, e diz que espera um maior arrefecimento neste sentido. Somado a isso, os dados positivos do emprego nos Estados Unidos e as expectativas de elevação na taxa de juros antes do esperado pode atrair investimentos hoje alocados nos emergentes, sobretudo no Brasil. Para analistas consultados pela Bloomberg, a economia verde-amarela pode ser uma das mais vulneráveis a uma virada de fluxo de investimentos.

As maiores baixas, dentre as ações que compõem o Índice Bovespa, foram:

 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 MMXM3 MMX MINER ON 1,83 -3,68 -56,43 4,70M
 CIEL3 CIELO ON 44,00 -3,59 +36,54 238,32M
 LIGT3 LIGHT S/A ON 21,14 -2,94 +5,21 10,83M
 ELPL4 ELETROPAULO PN N2 10,27 -2,84 +14,82 9,49M
 BVMF3 BMFBOVESPA ON 11,25 -2,77 +3,37 90,26M

As maiores altas, dentre os papéis que compõem o Índice Bovespa, foram:

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 Cód. Ativo Cot R$ % Dia % Ano Vol1
 USIM5 USIMINAS PNA 8,11 +4,65 -42,93 73,02M
 FIBR3 FIBRIA ON 22,30 +4,06 -19,35 33,18M
 CSNA3 SID NACIONAL ON 9,66 +3,43 -32,82 53,66M
 SUZB5 SUZANO PAPEL PNA 8,58 +3,37 -5,64 23,87M
 GOAU4 GERDAU MET PN 16,08 +2,81 -30,51 11,15M

As ações mais negociadas, dentre as que compõem o índice Bovespa, foram:

 Código Ativo Cot R$ Var % Vol1 Vol 30d1 Neg 
 PETR4 PETROBRAS PN 17,12 -0,41 488,58M 549,93M 37.404 
 VALE5 VALE PNA 27,20 +2,03 472,25M 297,79M 37.325 
 ITUB4 ITAUUNIBANCO PN ED 31,56 -1,62 246,15M 310,93M 16.663 
 CIEL3 CIELO ON 44,00 -3,59 238,32M 116,56M 12.306 
 BBDC4 BRADESCO PN EDJ 31,93 -0,31 199,34M 253,38M 13.125 
 VALE3 VALE ON 30,44 +2,66 166,37M 100,63M 12.889 
 BBAS3 BRASIL ON 24,52 -1,68 165,34M 155,10M 22.087 
 ABEV3 AMBEV S/A ON 16,00 -0,19 147,87M 159,53M 24.300 
 BBSE3 BBSEGURIDADE ON 32,50 -1,66 136,59M 126,56M 11.474 
 KROT3 KROTON ON 60,26 -2,02 131,16M 101,52M 10.114 

* – Lote de mil ações
1 – Em reais (K – Mil | M – Milhão | B – Bilhão) 

Outros destaques
Enquanto isso, os dados de produção industrial reportados pelo IBGE também chamam a atenção: que recuou 0,6% em maio sobre abril, registrando queda de 3,2% sobre um ano antes.

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Atenção ainda às novas sinalizações de política monetária no Brasil. No fim da tarde de ontem, o Banco Central divulgou uma entrevista de seu presidente Alexandre Tombini para um órgão de comunicação interna da instituição. Tombini deixou claro que a atual revisão para baixo do cenário de crescimento mundial em nada se compara ao quadro de 2011, quando a erupção da crise europeia era iminente e a economia americana não conseguia sustentar sucessivos resultados favoráveis, conforme ressalta a LCA Consultores, e descartando uma queda da Selic.

Além do cenário nacional, o mercado também segue atento aos EUA: nesta sessão, foram divulgados os dados do ADP Employment, registrando a criação de 281 mil vagas no setor privado em junho, acima do esperado pelo mercado. O indicador é uma prévia do relatório de emprego, que será revelado amanhã. Cabe lembrar que, na próxima sexta-feira, os mercados estarão fechados em Wall Street devido ao feriado de Independência dos EUA. Hoje, a sessão foi morna para os três principais índices acionários do país, com o Dow Jones liderando os ganhos ao registrar variação positiva de 0,12% no período.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.