Ex-professor de Harvard avisa: bolsas vão passar por maior crise desde 1929

As medidas tomadas pelo Fed para evitar uma recessão podem provocar, como efeito colateral, uma recessão ainda mais forte

Felipe Moreno

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SÃO PAULO – Terry Burnham, ex-trader do Goldman Sachs e ex-professor de Harvard, chamou a atenção para mais um ponto: o mercado acionário está prestes a passar por um derretimento. Atualmente, o Dow Jones, um dos mais importantes índices norte-americanos, está levemente acima dos 15.000 pontos, mas Burnham diz que é mais fácil que ele atinja os 5.000 pontos do que os 20.000 pontos.

E Burnham destaca que graças ao “cérebro de lagarto” dos investidores, ninguém vai perceber o crash – até que ele ocorra. Em entrevista à rede de televisão norte-americana PBS – que foi repercutida pelo portal MarketWatch – o ex-professor sinalizou que alguns investidores tem comparado o rali das bolsas norte-americanas neste ano com o rali que ocorreu 1928, pouco antes do estouro da crise de 1929. E que as medidas tomadas pelo Fed para evitar uma recessão podem provocar, como efeito colateral, uma recessão ainda mais forte.

A maior bolha da história, nas palavras de Burnham, deve fazer com que as bolsas mundiais passem por um derretimento mais forte que em 2000 e 2008. “Nosso cérebro de lagarto nos faz comprar ações depois que elas já subiram e nos cegam para a óbvia realidade”, alerta o ex-trader e ex-professor, alertando para o fato de que o grande público não vê esse tipo de movimento até que seja tarde demais.

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Cérebro de lagarto pode atrapalhar
Ele se refere a parte primitiva, virada para o instinto de sobrevivência, do cérebro, que ele julgar ser a responsável por movimentos irracionais em seu livro “Mean Markets and Lizards Brains: How to Profit from the New Science of Irrationality” (Mercados complicados e Cérebros de Lagarto: como lucrar com a nova ciência da irracionalidade, ainda sem tradução para português).

De acordo com ele, o cérebro é desenhado para lembrar de padrões e repeti-los de tempo em tempo – algo que ajudou na nossa evolução. “Se você jogasse uma lança de uma certa forma e conseguisse caçar sua comida, como a jogaria na próxima vez? Da mesma forma. O mesmo algorítmo se repete para ações”, alerta o professor – dizendo que é por conta disso que temos ciclos de alta e baixa na bolsa.

Burnham tem “certeza absoluta”
Mas Burnham lembra que há pessoas ainda otimistas com a bolsa, como Jeremy Siegel, autor do livro “Ações no Longo Prazo” e Warren Buffett, o melhor investidor do último século. “Estou tomando riscos em fazer essa previsão? Sim, posso ficar para sempre com o apelido ‘Sr. Dow Jones 5.000 pontos'”, afirmou em entrevista.

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Mas ao menos, Burnham diz que não se importa com esse nome: ele tem confiança absoluta que o mercado despencará, assim como em 2008, 2000 e 1929. “Eu não estou premeditando o Dow Jones aos 5.000 pontos pelo fato de ter alcançado os 15.000 pontos. Eu tenho dito que a economia norte-americana está indo para um desastre desde antes da crise de 2008”, destacou. 

3 pilares para o desastre
Ele acredita em três motivos para um desastre nos próximos meses. Primeiro, uma taxa de poupança quase nula, gastos excessivos e dívida no limite. “Como nação, não temos nenhuma poupança, nenhuma proteção em crises”, diz o professor.

A política fiscal deficitária e o afrouxamento da política monetária só pioram a situação, avalia o professor: para ele, o Fed não vai salvar a economia. “O dinheiro fácil do Bernanke fortaleceu o setor bancário para especular, não para promover o crescimento econômico verdadeiro, enquanto fiscalmente não podemos nos endividar até a prosperidade, isso é ridículo”, diz.

Além disso, a falta de habilidade dos investidores pessoas físicas em “cronometrar” o mercado. “Nossos cérebros de lagarto limitam nossa habilidade de investir racionalmente, somos pensadores no curto prazo. Compramos alto e vendemos baixo”, finaliza o ex-professor de Harvard.

Mas Burnham destaca que há outras “vozes da razão”, pessoas que estão tão descrentes quanto ele: Bill Gross, presidente da Pimco – uma das maiores gestores de renda fixa do mundo -, Jeremy Grantham, grande investidor, Nassim Taleb, o autor do “Cisne Negro”, Nouriel Roubini, o homem que previu a crise de 2008, Marc Faber, célebre investidor suíço e David Stockman, ex-diretor de orçamento de Ronald Reagan.