Fed é otimista com economia dos EUA e bolsas despencam: isso faz sentido?

Economia dos EUA melhor sinaliza que redução do programa de estímulos será antecipada, assim como aumento de juros, o que aumenta sinalização de menor dinheiro para os mercados

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Mais uma vez, a reunião do Fomc (Federal Open Market Committee) guiou as expectativas dos mercados nesta sessão. Nas últimas semanas, os mercados esperavam que o Federal Reserve diminuísse o atual ritmo de compra de títulos, no valor de R$ 85 bilhões por mês, o que levou a um forte fluxo de capitais dos mercados emergentes e levando a uma forte baixa dos índices acionários. 

O Fomc manteve o programa de compra de títulos para a economia norte-americana e sinalizou, além disso, projeções mais otimistas para o PIB (Produto Interno Bruto) e para o mercado de trabalho dos Estados Unidos para 2014. Entretanto, mesmo com estas indicações “unindo o melhor dos dois mundos” não foi bem recebida pelos mercados internacionais e, principalmente, pelo Brasil.

O Ibovespa, benchmark da bolsa brasileira, que já registrava queda de cerca de 1% antes da divulgação do comunicado do Fomc, diminuiu as perdas logo após o evento. Entretanto, após dois minutos, com uma leitura mais calma do comunicado, o índice passou a despencar e fechou com queda de 3,18%, a 47.893 pontos, no menor patamar desde abril de 2009, quando o índice se recuperava da crise de 2008.

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Mas o que levou a esse movimento? A continuidade do programa de estímulos animou os investidores num primeiro momento, uma vez que um dos maiores temores é de que o Fed reduzisse o seu ritmo de compras de títulos e mais dinheiro saísse das economias emergentes. Assim, por ora, o Federal Reserve optou por manter os dois programas de estímulos: a compra de títulos hipotecários em US$ 40 bilhões por mês e de títulos de dívida norte-americanos em US$ 45 bilhões.

Porém, a expectativa é que um dos dois programas seja eliminado em breve, ainda mais levando em conta as expectativas mais positivas para a economia norte-americana, uma vez que o Fed acredita que a taxa de desemprego atingirá 6,5% já em 2014, e não em 2015, como previamente estipulado, abrindo espaço para a redução dos programas de estímulos. Para determinar o fim dos estímulos, o Fed deverá levar em conta as suas duas funções: garantir o máximo de emprego com inflação próxima de 2%. 

Com isso, em entrevista coletiva após o Fomc, o presidente do Federal Reserve, Ben Bernanke, disse que pode iniciar o corte do programa de estímulo à economia norte-americana, conhecido como Quantitative Easing III, no final deste ano, se as perspectivas para inflação e desemprego se mostrarem corretas. 

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Numa leve melhora em suas projeções, as autoridades projetaram que a taxa de desemprego pode atingir 6,5% em 2014 e, para este ano, entre 7,2% e 7,3%, frente os atuais 7,6%, enquanto a inflação avançará apenas 0,8% a 1,2% em 2013, e entre 1,4% e 2,0% no próximo. 

Recuperação econômica dos EUA: boa ou ruim?
Assim, a recuperação da economia norte-americana se revela uma faca de dois gumes: enquanto ela significa uma retomada do gigante econômico mundial, também sinaliza que o capital barato dos últimos anos passará a ficar cada dia mais escasso com o fim mais próximo do programa de estímulos – mesmo que o seu encerramento não seja tão em breve assim.

Além disso, como ressalta o analista da UM Investimentos, Gabriel Ribeiro, o elemento de incerteza continua pairando sobre os mercados, uma vez que ainda não há uma sinalização clara de quando ocorrerá efetivamente a redução dos estímulos econômicos pelo Fed e sim apenas uma sinalização de que ele seria abreviado caso os números nos EUA apresentem-se bons. Com isso, as próximas sinalizações importantes serão feitas pelos presidentes regionais da autoridade monetária.

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Porém, a melhora econômica não poderia sinalizar que os EUA estariam finalmente no rumo de um crescimento mais consistente, o que impulsionaria a economia mundial? Ribeiro destaca que, mesmo com o sinal de crescimento maior, a economia norte-americana vem apresentando números mistos e não está muito vigorosa, o que ainda leva o mercado a manter o ceticismo frente à consistência do crescimento econômico do país. 

Volatilidade deve continuar
Segundo a LCA Consultores, “a ‘estratégia de saída’ do Fed será um dos temas mais importantes do debate econômico mundial em 2014. As incertezas relacionadas ao timing e à velocidade de sua implementação certamente deverão trazer períodos de marcante volatilidade aos mercados globais”.

Entretanto, segundo os economistas da consultoria, esses períodos de volatilidade tendem a ser passageiros – sobretudo porque a “estratégia de saída” do FED tende a ser implementada em resposta à consolidação de um cenário mais positivo para a maior economia do mundo – e não em função de um aumento abrupto do risco inflacionário, que exigiria uma postura mais reativa da autoridade monetária. 

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Neste cenário, a LCA Consultores avalia que a política monetária deve ser conduzida de maneira cautelosa e transparente a um patamar mais condizente com o nível neutro. Para eles, isso implica uma elevação do juro básico norte-americano para a casa de 4% ao ano. Este processo levaria todo o ano de 2015 e provavelmente se encerraria em 2016, aponta. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.