Diante do possível fim do QE3, Marc Faber ironiza: “obrigado, Bernanke”

Em publicação em seu blog, investidor suíço critica programa de estímulo adotado pelo banco central norte-americano, embora ele tenha lucrado com a injeção de dólares na economia

Felipe Moreno

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SÃO PAULO – A tão aguardada reunião do Federal Reserve que pode trazer sinalizações sobre uma possível retirada do programa de compras mensais de títulos públicos norte-americanos, o QE3 (Quantitative Easing 3), terminará nesta quarta-feira (19) às 15h (horário de Brasília). Mesmo que ninguém saiba o que Ben Bernanke irá pronunciar ao mercado, o megainvestidor suíço já se adiantou e preparou um “agradecimento especial” ao presidente do Fed.

Em publicação feita em seu blog na última terça-feira, entitulada “I should thank Bernanke” (eu devia agradecer o Bernanke, na tradução livre), Faber mostra-se agradecido pela enorme quantidade de dinheiro impresso pelo banco central norte-americano após o agravamento da crise do “subprime”, fato que vem impulsionando os mercados de ações de países desenvolvidos desde 2009.

“Eu sou beneficiário dessas políticas, deveria agradecer o sr. Bernanke. Mas não posso aprovar isso como economista e observador social”, destaca Faber. 

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Na opinião de Faber, a “grande impressão de dinheiro” para sustentar os “Quantitative Easings” não entra na economia de maneira ordenada e não eleva a atividade econômica e os preços dos ativos conjuntamente. “Essa política cria enormes excessos em alguns países e algumas classes de ativos”, alerta o suíço, que se tornou famoso no mercado por prever a estagnação japonesa da década de 1990.

O QE começou em novembro de 2008, com o Federal Reserve comprando US$ 600 bilhões em títulos de dívida lastreados em hipotecas – programa que foi expandido até atingir US$ 2,1 bilhões em junho de 2010. O programa foi parado em junho daquele ano, mas recomeçou em agosto com compras de cerca de US$ 30 bilhões.

Logo depois, em novembro daquele ano, foi inaugurado o QE2 – que consistiu também na compra de títulos de dívida e durou até meados de 2012. Foi aí que começou o QE3, no dia 13 de setembro de 2012, com a compra US$ 40 bilhões por mês – além de US$ 45 bilhões do “Operação Twist”, totalizando um estímulo de US$ 85 bilhões por mês. Ao contrário do QE1 e QE2, que tinham prazos estipulados por Bernanke, o QE3 não tinha uma data definitiva, tendo como validade a percepção de que a economia norte-americana começasse a caminhar com as próprias pernas.

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Críticas aos programas
Ele lembra que foram enormes impressões de dinheiro que derrubaram o mercado acionário em 1999 e 2000, logo depois do índice de ações norte-americano Nasdaq dobrar em um ano, e também que criou a bolha do subprime de 2008. Agora, ele salienta que o dinheiro está “fluindo” para os ativos de alto nível, tais como ações, títulos de dívida, artes, vinhos, jóias e mercado imobiliário de alto padrão. “Os leilões de artes estão tendo vendas recordes, os preços das propriedades imobiliárias estão subindo forte”, diz o investidor.

Mas para ele, essa impressão de dinheiro não atinge os pobres, já que começa a fluir diretamente para quem é mais risco. “Isso leva a uma crescente disparidade de riquezas, a maioria perde e a minoria perde”, conclui Faber.