Em dias sem Bovespa, monitorar ADRs é uma boa referência para investidores

2012 mostrou que quem não acompanhou mercado de ADRs quando BM&FBovespa esteve fechada perdeu boa oportunidade para antecipar movimentos de ações

Lara Rizério

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SÃO PAULO – No próximo dia 25, aniversário de São Paulo, a BM&FBovespa não realizará operações de renda variável. Entretanto, mesmo durante os feriados em que os mercados acionários estão fechados, muitos investidores não se desligam do cenário de ações. Se no Brasil não há referências ou se elas não se tornam explícitas devido ao não funcionamento da bolsa brasileira, o fato de algumas empresas estarem inseridas no mercado internacional de ações, principalmente as blue chips, pode funcionar como um termômetro.

Dentre os mercados acionários que os investidores brasileiros devem se atentar, está o norte-americano, que possui bastante liquidez e que tem diversas empresas sediadas no Brasil listadas em suas bolsas. Estas companhias possuem ADR (American Depositary Receipts), que são os recebios que representam ações de empresas não sediadas nos Estados Unidos.

Atualmente, empresas como a Vale (VALE3;VALE5), Petrobras (PETR3;PETR4), Embraer (EMBR3), Eletrobras (ELET3;ELET6) e Pão de Açúcar (PCAR4), dentre outras, possuem ADRs listados nas bolsas de lá, que podem ditar os rumos dos mercados e servir como um bom referencial para o que vai acontecer no Brasil nos períodos posteriores. 

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Feriados também são bons referenciais 
Em 2012, justamente em dois dias de feriados nacionais, os papéis de grandes companhias brasileiras tiveram fortes oscilações no mercado internacional. No dia 7 de setembro, feriado de Independência do Brasil, os ADRs da Vale listados na NYSE (New York Stock Exchange) registraram forte alta, refletindo as aprovações anunciadas na China de mais de US$ 150 bilhões em 60 projetos de infraestrutura para estimular a economia. 

As ações VALE3 e VALE5, que já vinham em alta na véspera do feriado, tiveram valorizações de 3,68% e 2,82% para as primeiras e de 2,96% e 2,68% para os últimos nos dias 10 e 11 de setembro, nas sessões posteriores ao feriado.

Além dos ativos da Vale, os ADRs da Eletrobras também se destacaram em dia de feriado. Em meio ao cenário ruim para as elétricas no final de 2012, os ativos da companhia tiveram forte baixa durante o feriado de 15 de novembro, após a companhia anunciar que perderia cerca de R$ 10 bilhões anuais caso as concessões de energia fossem antecipadas sobre as condições estabelecidas pelo governo. 

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Nas sessões seguintes, dos dias 16 a 22 de novembro, os papéis ELET3 acumularam queda de cerca de 40%, enquanto as ações preferenciais classe B registraram desvalorização de quase 54%. 

Atenção aos fatores internos…
“É bastante importante acompanhar os mercados de ADRs quando a bolsa nacional está fechada, principalmente no caso das blue chips, que possuem maior representatividade no exterior”, avalia o analista da Amaril Franklin, Eduardo Machado. Ele ressalta que, em muitos casos, o investidor pode antecipar a compra e venda de ativos quando o mercado acionário nacional voltar a funcionar. 

Além disso, Machado ressalta que, mesmo em feriados, o governo brasileiro pode fazer pronunciamentos importantes que podem afetar bastante o mercado, assim como grandes empresas. “Os ADRs de empresas que são bastante afetadas por medidas do governo devem ser especialmente acompanhadas, uma vez que diversos pronunciamentos políticos podem ser feitos, independentemente de ser ou não feriado”, avalia.

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…ou externos
Entretanto, não são somente as decisões internas que podem mexer com os papéis das companhias brasileiras lá fora. Como normalmente, enquanto é feriado no Brasil, é um dia normal no exterior, os ativos das companhias brasileiras são influenciados por fatores importantes que acontecem no mercado internacional e que serão repercutidos na BM&FBovespa após o feriado.

Este foi o caso da Vale durante o feriado de 7 de setembro, em que decisões econômicas do outro lado do mundo acabaram afetando os ADRs. Vale ressaltar ainda que as grandes empresas nacionais, muitas delas pertencentes ao setor de commodities, devem receber uma atenção especial, já que elas são as que sofrem mais com o desenrolar dos acontecimentos externos, dada a maior ligação com o mercado internacional. No caso da Vale, por exemplo, o que acontece na China é fundamental para o movimentos dos papéis.

Como acompanhar?
Uma boa referência para acompanhar as empresas brasileiras no mercado de renda variável, mesmo quando eles estiverem fechados, é o Dow Jones Brazil Titans 20, índice de ADRs negociados na Nyse. Eles servem como referencial das maiores e mais líquidas ações brasileiras que possuem ADRs, negociados nos EUA.

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Vinte ações são selecionadas para o índice, dos mais diversos setores, com base em parâmetros como capitalização de mercado e volume médio de negociação. Este índice foi calculado pela primeira vez em 4 de outubro de 2004. Dentre as companhias que fazem parte do índice, além da Vale, Petrobras, Eletrobras, Embraer e Pão de Açúcar, Telefônica Brasil (VIVT4) e Tim Participações (TIMP3), do setor de telecomunicações. Do setor de energia e saneamento, também compõem o índice os ADRs da Cemig (CMIG4), da CPFL Energia (CPFE3) e da Sabesp (SBSP3). 

No setor bancário, constam as maiores do setor, como o Bradesco (BBDC4), Santander Brasil (SANB11) e Itaú Unibanco (ITUB4). De commodities, gás e materiais básicos, além da Vale, estão listadas os papéis da Gerdau (GGBR4), CSN (CSNA3), Ultrapar (UGPA3) e Fibria (FIBR3). BRF (BRFS3) e Ambev (AMBV4) estão incluídas no setor de alimentos e bebidas, enquanto a Gafisa (GFSA3), do setor imobiliário, completa o índice. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.