Após turbulência, Magazine Luiza surpreende mais uma vez: até onde vai a ação da varejista?

Ação da Magazine Luiza chegou a subir mais de 10% na esteira do balanço positivo e pode ter espaço para ter ainda mais altas - mas desafios seguem no radar da companhia

Lara Rizério

(Divulgação)

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SÃO PAULO – Um capítulo da conturbada história das ações da Magazine Luiza (MGLU3) parece ter se encerrado nesta segunda-feira (31). E, em meio a uma expressiva valorização, analistas se dividem: enquanto alguns avaliam que os papéis MGLU3 podem proporcionar ainda mais boas novas para os investidores daqui para frente, conforme destacaram analistas após a análise do balanço do terceiro trimestre de 2016, outros veem que a ação já atingiu o seu forte potencial de alta. 

Em uma disparada superior a 1.000% desde que atingiu a mínima em dezembro de 2015 (no ano, os ganhos são de cerca de 420%) – na esteira da crise econômica e balanços negativos -, a ação MGLU3 teve o seu rali ameaçado após chegar a cair entre os dias 25 e 26 de outubro cerca de 30%. Alguns analistas começaram a ver a ação como cara, além de sinalizar que o balanço do terceiro trimestre talvez não refletisse tamanho otimismo com o ativo.

Porém, em uma verdadeira “jogada de mestre” para recuperar a confiança do mercado, a Magazine Luiza antecipou a data de divulgação do resultado, passando do dia 7 de novembro para 31 de outubro, antes da abertura do mercado. Isso diminuiu os ruídos do mercado e fizeram as ações disparar 30,92% no dia 27 de outubro. (Saiba mais clicando aqui). 

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Pois bem. Com isso, a grande expectativa do mercado ficou para a divulgação do balanço da Magazine Luiza e se ele realmente iria atender as expectativas. E o resultado, revelado antes da abertura do pregão, superou as já exigentes expectativas dos analistas com a companhia. Nesta segunda, os papéis chegaram à máxima de 10,36%, a R$ 96,00, e caminham para fechar com ganhos superiores a 5%. 

A empresa registrou um lucro líquido de R$ 24,8 milhões no período, revertendo prejuízo de R$ 19,1 milhões registrado no mesmo período do ano anterior. Já a receita avançou 8,46% na comparação anual, para R$ 2,26 bilhões. O Ebitda teve alta de 63,4% no intervalo, totalizando R$ 180,4 milhões. As vendas nas mesmas lojas subiram 9,6% no trimestre. Na separação entre lojas físicas e comércio eletrônico, o crescimento foi, respectivamente, de 5,5% e 24,3%, “que representou o primeiro crescimento das lojas físicas desde o início da crise econômica”.

Em relatório, o BTG Pactual destaca que as vendas nas mesmas lojas, o crescimento das receitas impulsionado pelo e-commerce (crescimento de 22%) e a melhor performance nas lojas físicas foram bastante positivos.  

“Embora o crescimento do e-commerce não chegue a surpreender, desta vez, ele ainda foi muito mais forte do que o crescimento de 10,5% do mercado, explicado principalmente pelo (i) aumento do tráfego e vendas dos canais móveis; (ii) maiores vendas em mercados atendidos pelos nove centros de distrbuição regionais (totalmente integrado desde 2014); (iii) maior taxa de conversão e (iv) vendas mais fortes em novos canais (Época Cosméticos, Magazine Você, Clube da Lu e Quero de Casamento)”, apontam os analistas do BTG.

O BTG também destaca o melhor portfólio de vendas e a maior racionalização de preço em e-commerce e lojas físicas, assim como a redução dos custos gerais e administrativos. Desta forma, os analistas seguem com recomendação de compra para os ativos, introduzindo um novo preço-alvo para 2017, agora em R$ 96 por ação.

Porém, há quem esteja mais cauteloso com o papel, caso do BB Investimentos, que mantém recomendação equalweight (exposição em linha com a média do mercado), com preço-alvo para 2017 de R$ 100,00 por ativo. 

“Nossas perspectivas para o case de investimentos da empresa permanecem positivas, mas mantemos recomendação neutra. O abrandamento da atividade econômica prejudicou a empresa, mas também levou a uma completa reestruturação interna, levando a sua eficiência para um nível superior. Questões antigas, como o nível de endividamento da empresa, também parecem ter sido abordadas. Em nossa opinião, uma vez que o ambiente macroeconômico inicie um movimento de recuperação, reduzindo a pressão sobre emprego e de crédito, uma recuperação nas vendas de bens duráveis deve ser observadas. A penetração na população de muitos dispositivos eletrônicos e eletrodomésticos entre as famílias brasileiras ainda é baixo”, afirmam os analistas.

O BB Investimentos ressalta que a Magazine Luiza tem também duas importantes vantagens competitivas entre seus pares: (i) é atualmente a única varejista totalmente integrada no segmento de bens duráveis no Brasil e (ii) tem uma das poucas plataformas de e-commerce que são rentáveis. Porém, eles apontam: “acreditamos também que, ao longo de 2017, podemos ver oscilações importantes na participação da cotação, com os investidores aproveitando a oportunidade para fazer lucro”.

Além disso, em relatório, o Brasil Plural faz um alerta. Os analistas destacam a forte execução da companhia e os fortes ganhos, apontando que o preço das ações teve forte elevação na esteira de uma melhor posição de caixa e tendências positivas de lucro. Contudo, a volatilidade aumenta em meio a preocupações sobre os problemas fiscais que poderiam afetar a sua posição competitiva e o preço futuro. “Apesar da forte volatilidade dos preços de ações, acreditamos que o risco-recompensa é equilibrado e, portanto, reiteramos nossa classificação equalweight para o papel”.

O Brasil Plural destaca que parte dos fortes resultados  decorre da preservação dos benefícios fiscais através da “Lei do Bem”. “Em nossa opinião, praticamente todo o ganho de 230 pontos-base na margem bruta do ano passado deriva da isenção de PIS / COFINS na venda de smartphones e outros produtos de alta tecnologia, que não foram repassados aos consumidores. Alguns dos maiores players do mercado, como Via Varejo, Lojas Americanas e B2W ainda estão lutando para obter o mesmo benefício da Magazine Luiza. A não ser que seja revertida por decisão judicial, esta isenção deve ser válida até o final de 2018. No futuro, esperamos que essa vantagem possa ir embora ao ser estendida a todos os players ou ser retirada totalmente”, avaliam Guilherme Assis e Felipe Cassimiro.

Por outro lado, um gestor que não quis se identificar e acompanha a ação apontou que as ações da Magazine Luiza estão com os múltiplos mais baixos do que outros papéis do setor, o que mostra que a ação tem ainda mais espaço para subir. Ele ressalta que a relação entre o EV (Enterprise Value) e o Ebitda do papel está em cerca de 3,5 vezes, enquanto a média do setor é de cerca de 7 vezes. Ou seja: isso pode abrir mais espaço para a ação subir.  

 Desta forma, a Magazine Luiza segue sendo grande destaque na Bovespa e pode chegar aos R$ 100,00. Mas novos desafios devem seguir no radar da companhia. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.