Kepler Weber: “temos que nos preparar para momento de vacas magras”

Em entrevista ao podcast da Rio Bravo Investimentos, o vice-presidente da companhia, Olivier Colas, fala sobre o pesadelo da logística no País e bom momento do agrobusiness nos últimos anos

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Dois movimentos opostos com forte impacto no agrobusiness têm mexido com as percepções das empresas do setor para o cenário. Em entrevista concedida ao podcast da Rio Bravo InvestimentosOlivier Colas, diretor vice-presidente da Kepler Weber (KEPL3), criticou o pesadelo da logística no País e destacou o bom momento do agronegócio nos últimos anos. Segundo ele, com a sequência de boas produções no campo, um momento de mais dificuldades no setor no futuro pode ocorrer.

“A gente está entrando agora no quinto ano de mercado super bem orientado, que é geralmente inédito na área agrícola. E 2014 está parecendo também que vai ser um bom ano, então a gente tem que se preparar para um momento de vacas magras. A atividade agrícola é uma atividade cíclica e, volta e meia, nós temos que ter ciclos baixos e temos que ter, nesse momento, o menor custo possível. Então a nossa meta não é só investir para a capacidade, mas também para reduzir o nosso ponto de equilíbrio”, afirmou Colas.

Apesar disso, o executivo ainda aposta em ao menos 4 anos de alta para a companhia se o cenário não sofrer alterações significativas. “Nós temos 3 drivers que sustentam a demanda pelo nosso produto: preço das commodities, tamanho da safra e, talvez hoje o mais importante, a taxa de juros que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) oferece para financiamento dos equipamentos. Se esses três componentes se mantiverem, nós temos quatro anos bons pela frente, definitivamente. Se você tira um desses elementos, podemos ter um ano menor. Se tira dois elementos, um ano catastrófico”, destacou o diretor vice-presidente da Kepler Weber, empresa cujos principais produtos vendidos são equipamentos para armazenagem de grão.

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Problemas de infraestrutura amenizam boom
Em detrimento ao bom momento do setor agrícola brasileiro, que contribuiu para a forte alta na receita da Kepler Weber – um salto de R$ 290 milhões em 2009 para R$ 490 milhões em 2012 -, a carência na infraestrutura do País parece limitar os ganhos de um boom que poderia ser ainda mais expressivo em comparação com os países concorrentes.

Colas ilustrou a situação dando o exemplo com a história de um produtor de grãos de Sorriso (MT), que teria que escoar sua produção de caminhão por 2 mil km – o que custaria algo em torno de US$ 120,00 por tonelada – e, depois pagar entre US$ 60,00 e US$ 70,00 para transportá-la via navio para a China – um dos maiores consumidores. Enquanto isso, nos países concorrentes, o custo logístico de escoamento da produção até os portos deve variar entre US$ 20,00 e US$ 40,00.

“O campo padece de bastante handicap se olhado com os competidores do Brasil, que podem ser Argentina, Estados Unidos e até a China, o custo de escoamento, o custo logístico no Brasil está extremamente alto e tira grande parte dessa riqueza que é criada no Brasil pelo campo”, argumentou o executivo.

Concorrência mais voraz
Dado o forte crescimento do setor nos últimos anos, o executivo fala que a concorrência no agrobusiness é uma das mais vorazes do mercado. “O setor agrícola é, talvez, o mais capitalista que nós temos. Onde o pessoal realmente investe as tripas e faz provas de espírito empreendedor. Eu diria que hoje eu não ficaria surpreso que tenha uma série de concorrentes da Kepler lá fora. E isso eu estou falando de concorrentes muito mais expressivos do que aqueles que nós temos aqui no Brasil, que queiram entrar nesse mercado”, apontou.

Ainda assim, não há projeções de saturação no setor – ao contrário, o executivo enxerga forte potencial para os negócios do campo no Brasil. “Hoje o mercado brasileiro é o mercado mais interessante no mundo para quem quer investir em armazenagem. Estados Unidos é um grande mercado, mas ele não cresce. Então quando você olha onde tem um mercado que cresce, com estado de direito, com práticas capitalistas estabelecidas, é o Brasil”, afirmou o diretor vice-presidente da Kepler Weber, Olivier Colas.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.