Resultados da CSN animaram o mercado: mas o que esperar daqui para frente?

Analistas destacam bons resultados, mas seguem preocupados com alta alavancagem da companhia e possível compra dos ativos da ThyssenKrupp das Américas

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A CSN (CSNA3) divulgou o resultado do quarto trimestre de 2012 na última quinta-feira (28), reportando um lucro líquido de R$ 316,13 milhões. Mesmo com a queda de 60% frente ao mesmo período do ano anterior, o resultado superou de longe as projeções do mercado, em meio ao aumento no preço praticado de aço e do minério de ferro e também devido à reversão do imposto de renda no valor de R$ 144 milhões.

O resultado teve reflexo imediato na bolsa: as ações da companhia subiram 5,14% na última segunda-feira (1). No entanto, os analistas seguem cautelosos com a companhia, que não tem trazido muitos motivos para os seus acionistas comemorarem, já que do começo do ano pra cá, a ação CSNA3 acumula queda de mais de 20%; nos últimos 12 meses, a desvalorização supera os 40%.

Os fatores apontados para a maior parte das casas de análise incluem o aumento do risco de alavancagem, os volumes desapontadores de minério de ferro e o aumento das autuações fiscais. Assim, mesmo com os números acima do esperado, o cenário que se desenha para a companhia é de grandes desafios.

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Principal preocupação: oferta de ativos da ThyssenKrupp
Os analistas da Votorantim, Juliana Chu e Ricardo Schweitzer, ressaltam a preocupação em relação à potencial oferta pelos ativos da ThyssenKrupp America, reiterando a recomendação market perform (desempenho em linha com a média do mercado) para a companhia e com uma opinião de curto prazo negativa.

O Banco Espírito Santo possui uma visão mais otimista destacando, por sua vez, que esta possível operação de compra dos ativos da companhia alemã, mesmo afetando o desempenho das ações, é bastante improvável. A própria CSN afirmou que ainda não fez oferta vinculante para a compra da CSA

Fim da suspensão do IPI
Além disso, aponta o BES, a suspensão do aumento do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) sobre veículos e produtos de linha branca até o final de 2013, levando a uma demanda de aço mais forte no mercado doméstico que o inicialmente estimado. 

A Brasil Plural, por sua vez, destaca que os preços de aços planos estão finalmente subindo no Brasil, uma vez que há previsões de custos no País. No entanto, o analista Renato Antunes destaca que há um maior temor em relação ao fraco desempenho no embarque de minério de ferro em 2013.

A “novela” Usiminas
A reclassificação contábil de perdas com a participação da Usiminas (USIM3;USIM5) também contou negativamente no balanço, avalia a analista Karina Freitas, da Concórdia Investimentos, fazendo com que a CSN tivesse prejuízo de R$ 480,5 milhões. Sem isso, ela lucraria R$ 854 milhões.

De acordo com Karina, a relevante participação na Usiminas e a possível compra da CSA podem dificultar ainda mais a redução da alavancagem, que antevê encerrar 2013 com relação entre a dívida líquida e o Ebitda de 3 vezes – atualmente em 3,5 vezes. ”Ademais, apesar de expectativas melhores para a economia interna no ano, o mercado global de aço segue pressionado pelo excesso de oferta e custos elevados”, afirma a analista.

Veja o que disseram os analistas sobre o futuro da CSN:

Analista Principais comentários
Juliana Chu e Ricardo Schweitzer, da Votorantim Corretora “(…) continuamos cautelosos, uma vez que o principal fator para o melhor resultado no minério de ferro pode não ser sustentável, e ainda preocupamo-nos com os ativos da ThyssenKrupp America”
Renato Antunes, do Brasil Plural “Os preços de aço plano estão finalmente subindo no Brasil (…) No entanto, a maior preocupação é com o fraco desempenho de embarque do minério de ferro em 2013. (…) Olhando para frente, temos razões limitadas para acreditar que a tendência de alta dos preços irá continuar “
Marcos Assumpção, do Itaú BBA “Mantemos nossa visão cautelosa em relação à CSN, tendo em vista o aumento do risco de alavancagem, volumes de minério de ferro desapontadores (…) e aumento de autuações fiscais, na casa dos R$ 6 bilhões”
Karina Freitas, da Concórdia Investimentos “Enxergamos com bons olhos o resultado de siderurgia, que, apesar da elevação de custos, praticou preços superiores na comparação com o terceiro trimestre de 2012 (…) Porém, permanecemos cautelosos quanto às perspectivas para a CSN nos próximos trimestres. A companhia possui planos pouco claros, em nossa opinião, para suas estratégias societárias.”
Alexander Hacking, do Citi Research “Reiteramos venda para as ações da CSN, em meio às preocupações com a alavancagem, falta de um CFO (Chief Financial Officer), alocação de capital, visibilidade limitada na estratégia corporativa e risco com as fusões e aquisições”
Victor Penna, do BB Investimentos Um ponto que merece atenção é o grau de alavancagem da siderúrgica, que vem apresentando um movimento crescente nos últimos trimestres (…) Acreditamos que a alta de 5% nos preços dos produtos siderúrgicos no início do ano pode ajudar a impulsionar os resultados do primeiro trimestre, porém especulações a respeito do interesse da companhia nos ativos do grupo Thyssenkrupp devem continuar pressionando os papéis
Catarina Pedrosa e Felipe Machado, do BES “Nós reiteramos nossa recomendação de compra para as ações da CSN (…) Continuamos acreditando que as ações da CSN estão sendo muito afetadas pela possibilidade de que ela possa ser vencedora em uma oferta pelos ativos brasileiros e norte-americanos, o que vemos como improvável
Luiz Francisco Caetano, da Planner Corretora “A falta de visibilidade de retorno do investimento [na Transnordestina, de R$ 3,1 bilhões no ano] seguramente compromete a avaliação da empresa. Além disso, os investidores estão temerosos com efeito de uma possível compra da CSA”

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.