Machismo no trabalho: veja os sinais de que você passa por isso

Em profissões e áreas onde predominam homens, mulheres são subestimadas e chegam até a sofrer abuso sexual

Júlia Miozzo

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SÃO PAULO – Na teoria, homens e mulheres devem ser tratados como iguais. Na prática, não é bem assim que as coisas acontecem – situação que se acentua quando se fala de mercado de trabalho. Tem-se a ideia de que algumas profissões são predominantemente “masculinas”, tal como as posições mais altas nas empresas e cargos de maior responsabilidade.

“Perante a lei, homens e mulheres são iguais. Constitucionalmente, não pode existir nenhum tipo de discriminação, mas ela claramente existe”, comentou a advogada Thamires Cappello. “Essa discriminação, que já consiste no próprio machismo, varia desde uma cantada até, por exemplo, ameaças de mandar a mulher embora”, disse.

A advogada ainda comentou que uma situação comum é a de represália, que muitas vezes impede que a mulher faça a denúncia de ter sofrido abuso moral ou abuso sexual – por medo de ser mandada embora ou de ter seu nome manchado. É uma situação mais comum do que se imagina e, em alguns casos, pode até ser levada à Justiça.

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Quer saber se você sofre machismo no trabalho? Esses podem ser alguns indícios:

1. A gravidez é tratada como um problema – ou vira piada
“As profissões que tendem a ser masculinizadas têm um assédio explícito quanto à maternidade. Podem ser brincadeiras e comentários que restringem a maternidade ou até mesmo demissão quando a funcionária volta à empresa após a licença maternidade”, explicou a economista e pesquisadora de gênero Itali Pedroni. A recente história envolvendo a marca de roupas femininas Maria Filó, na qual o dono comentou que não iria contratar mais mulheres porque elas engravidam, se encaixa nessa situação.

A mulher deve ter todos os direitos de maternidade, incluindo a licença-maternidade de 120 dias remunerada e estabilidade no trabalho – ou seja, não rescisão de contrato – desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto. “Caso a mulher seja mandada embora neste período, ela tem o direito de reintegração à empresa e indenização”, comentou Thamires.

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2. Você é frequentemente questionada de sua capacidade
É comum que isso aconteça desde a seleção de currículos para uma vaga, mas ainda de maneira discreta. Se você é rebaixada por sua capacidade frente a outros homens de sua equipe, ouve “brincadeiras” que questionem sua capacidade de realizar alguma atividade ou que te coloquem como inferior, esse é seu caso. Essa é uma situação também comum entre mulheres.

“Mesmo que sempre aleguem que seja uma brincadeira, as piadinhas com TPM, questões hormonais, qualquer questão que subestime a mulher, já é algo que não cabe mais. Nós classificamos isso como assédio moral, que é o tipo de assédio que ataca o psicológico de uma pessoa. Nesse caso, nós temos pedidos de indenização e rescisão indireta – ela vai ter os mesmos direitos que teria se fosse demitida”, comentou Thamires.

3. Você e outras mulheres são alvos de piadas de cunho sexual
Alguns “elogios” podem parecer ser apenas elogios, mas vão além: são comentários que, muitas vezes, possuem uma conotação sexual – e é isso que constitui o abuso sexual. “Qualquer comentário que diga respeito ao corpo de uma mulher, que a valorize pela sua aparência, que torne isso um critério, ou até mesmo uma cantada de um superior pode ser abuso sexual. O ápice dele é quando existe contato físico, mas ele também pode ser muito discreto”, explicou Thamires.

Algumas pessoas podem alegar que a mulher deu liberdade para tal ou até mesmo que houve provocação, mas, em boa parte dos casos, não é o que acontece: “aqui a gente vê uma objetificação da mulher”, disse Thamires.

4. O dress code é requisito e objetificante
Em empresas machistas, a forma que as mulheres se vestem é muito mais importante para o desenvolvimento de suas carreiras do que as vestimentas masculinas – uma mulher não é bem vista se não se veste da forma “certa”. “As mulheres sempre têm que se impor por sua aparência. ‘Ela se veste elegantemente? Então ela é uma boa líder’, é esse o pensamento”, explicou a advogada. “E nesse caso também pode ter uma conotação sexual”, finalizou.

Além disso, é comum encontrar trabalhos que objetifiquem mulheres. Em áreas de vendas, por exemplo, é costume pedir para uma mulher se vestir de maneira mais “atraente”, com roupas mais curtas por exemplo, para agradar o cliente (homem) e fechar um negócio. 

5. Você é comparada a um homem como “elogio”
“O empregador geralmente tem uma expectativa para cada gênero, então é comum que espere que o homem tenha uma capacidade maior e crise uma barreira para a mulher, isso acontece muito em áreas específicas. Dizer que você ‘trabalha como um homem’ não é um elogio – é, de novo, um caso em que a mulher é rebaixada. E, ainda assim, pra alcançar o nível de um ‘homem’, ela tem que trabalhar três vezes mais do que ele”, explicou Itali. “Já vi casos em que mulheres alcançaram a liderança e ainda assim têm uma sensação de não pertencimento, pois são pouquíssimas as mulheres nesses cargos”.