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Fim de um ciclo de crescimento… ou “a vaca foi por brejo”

O setor automotivo vive o fim de um ciclo de crescimento.
Por  Raphael Galante
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Desde o ano passado, em nossos posts, a gente sempre mencionava “a dureza” que o setor automotivo passará neste ano e nos próximos.

A questão aqui é que chegamos ao fim do segundo ciclo econômico do setor automotivo. Voltando para as aulas da faculdade de economia, sabemos que um ciclo econômico – em geral – é dividido em quatro fases: o boom; a recessão; a depressão e a recuperação.

Bom… se a gente não está na depressão, eu preciso começar a procurar outro emprego…

Um dos cenários que delimita o caminho que traçamos aqui na empresa é um pensamento dito por Keynes. Ele é mais ou menos o seguinte:

“… Ele (o analista de economia) deve estudar o presente à luz do passado com vista do futuro…”. Na verdade, o economista praticamente é uma mistura de historiador, matemático e filósofo -eu acrescentaria um pouco de cartomante também!

Neste conceito, vamos voltar ao passado – na história do setor automotivo – para explicar um pouco o hoje e também o amanhã.

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E, às vezes, a história nos ajuda um bocado! O setor automotivo está amargando resultados catastróficos. Mas, na verdade, estamos fechando o segundo ciclo de crescimento do setor. Ou seja, já passamos (num passado não tão distante) por momentos tão ruins quanto os atuais.

Vamos exemplificar e quantificar?

O primeiro ciclo do setor foi no início de 1993. Foi quando tivemos a saída do Collor, a URV (pré-Real) e a consolidação de uma série de fundamentos macroeconômicos. Foi aqui que aconteceu o nosso “boom”. As vendas de carros saíram de 1,045 milhão de unidades (1993) para 1,873 milhão em (1997), crescimento de quase 80% num período de cinco anos.

Na sequência, tivemos a nossa recessãodepressão, que foi do período de 1998 até 2002. O que tivemos nesse período? Bem, tivemos as seguintes crises (talvez possa ter esquecido alguma): Asiática, Russa, Mexicana, Maxi-desvaloração do Real, Energética (Apagão), 11 de setembro e a da Argentina (OK! Crise na Argentina é “café-com-leite”, mas eu tenho que mencionar). Saímos do nosso recorde de 1,873 milhão de carros vendidos e chegamos ao fundo do poço (depressão) em 1999 com volume de 1,157 milhão de carros vendidos. Retração de quase 40% num período de dois anos.

Andamos de lado neste período até o terceiro ano do mandato do sapo barbudo, onde nunca antes na história deste pais vendeu-se tanto carro.

Em resumo, o primeiro ciclo do setor automotivo teve duração de 13 anos. Condensando tudo num gráfico, ficaríamos assim:

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Somente no ano santo de 2006, quando tivemos 1,805 milhão de unidades vendidas, foi quando o setor voltou ao patamar de vendas do ano 1997.

Viram só?? Demorou “apenas” 10 anos para o setor voltar ao seu melhor resultado.

Já o segundo ciclo de crescimento do setor automotivo, iniciou-se – para nós – em 2006 e irá até 2019/2020, onde teremos, no período de 2016 a 2019/20, a recuperação para em seguida voltarmos ao nosso boom, isso é, considerando uma volta a bons resultados de vendas lá para 2021.

A diferença do primeiro para o segundo ciclo foi muito mais benéfica para a economia como um todo. O período de boom no primeiro ciclo foi mais curto (5 anos) do que a do segundo ciclo (7 anos). Da mesma forma que o período de: recessão-depressão-recuperação que durou 8 anos no primeiro ciclo, cairá para 6.

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As políticas macroeconômicas; estabilidade econômica além dos demais fatores de cunho político-econômico-social, mudaram a dinâmica do setor. Entre um ciclo e outro, ganhei dois anos de bonança e perdi dois anos de “Deus nos acuda”.

O gráfico abaixo, mostra como será o novo ciclo:

O grande ponto a ser trabalhado no final desse segundo ciclo e início do terceiro é: como se comportará o setor automotivo.

Como estamos na depressão, o momento é propício para todos se reinventarem. No primeiro ciclo, tivemos uma série de mudanças que foram ótimas para o setor. Uma delas que vigora até hoje foi a difusão do termo “seminovo” na venda de veículos usados. E a GM foi uma das que mais se destacaram com o lançamento do seu programa de veículos seminovos inspecionados (o SIGA) que vigora até hoje.

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Além disso, durante a “farra do boi” no início do segundo ciclo, as montadoras se rentabilizaram ao máximo! Como exemplo, temos a Ford (Ford é o nosso exemplo, mas serve para TODAS AS MONTADORAS), que teve um lucro (pre-tax) de US$ 2,1 mil por veículo vendido na média (período de 2006 até 2011). Depois disso, ela passou a ter uma operação deficitária. Para saber mais, leia aqui.

Aberrações do passado, como veículos com motorização 1.0 Turbo, ou os mais diversos veículos “pé-de-boi” foram abolidos ou execrados pelo consumidor.

O consumidor passou a ser o “chefe” das diretrizes das montadoras. Onde a sua opinião é que delimita o quão será bem-sucedida uma marca. O exemplo positivo é a nossa dupla nipônica Honda/Toyota, que está crescendo no meio da depressão.

Como projetamos no gráfico acima, o período 2015-2019 será de extrema dificuldade para todas. Mas alguns pontos são fatos. Por exemplo, nenhuma fábrica vai deixar o mercado brasileiro. Elas vão sofrer, um monte! Mas não irão sair. Como irão se comportar no próximo ciclo é a questão a ser respondida. Marcas voltadas para escutar o que o cliente quer (o seu mais valioso bem) irão se sair melhor. Focar-se na qualidade do produto será fator primordial. Quem conseguir trabalhar estes pontos com excelência, sairá na frente no início do próximo ciclo.

A resposta é fácil de saber. Bastar ver, quem vendia carros (Market Share) em 1997; 2006 e 2013, para notarmos quem ganhou e quem perdeu ao longo do tempo. Notaremos também, que quem ganhou, focou-se no conceito qualidade, levando este tema até mesmo a um conceito extremo (o que foi excelente para o consumidor).

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O grande problema são os outros pontos da cadeia. Do lado do pessoal de autopeças, não sei se eles aguentarão mais alguns anos de baixa rentabilidade, ou rentabilidade negativa. O cenário/prognostico não é muito favorável para eles. O mesmo para o setor da distribuição de veículos. O empresário que atua como concessionário, mês-após-mês está colocando cada vez mais dinheiro no negócio. Negócio esse que vai andar de lado pelos próximos 4-5 anos. Provavelmente, ocorrerá nos próximos anos, o fechamento de algumas centenas de concessionárias das mais diversas marcas. O lado positivo é que, ao final do ciclo, quem sobreviver estará muito apto a aproveitar o boom que virá. Eles estarão com processos mais enxutos e rentabilizando os demais departamentos da concessionária. Para saber mais clique aqui. Da mesma forma que veremos o surgimento de grandes grupos de concessionários, como ocorreu no final do primeiro ciclo.

O cenário não é positivo. Basta lembrar que as montadoras investiram alguns bilhões de dólares em novos projetos; fábricas e sistemas; imaginando um mercado na ordem de 5 milhões de unidades, volume este, que só alcançaremos na metade da próxima década. Ou seja, a concorrência aumentou em progressão geométrica!

Qualidade dos produtos e relacionamento com os clientes será a tônica do novo ciclo.

Ao final, como disse Churcill: “…entre mortos e feridos, salvaram-se todos!…”

 

Quer saber mais? Mande um e-mail para gente: contato@oikonomiaconsultoria.com.br

Raphael Galante Economista, atua no setor automotivo há mais de 20 anos e é sócio da Oikonomia Consultoria Automotiva

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