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Dinheiro é o killer app do Bitcoin

Qual é a melhor aplicação do Bitcoin? Qual o seu uso mais atrativo? Essas são perguntas frequentes dos entusiastas de tecnologia envolvidos com a criptomoeda.  E qual projeto fará o Bitcoin decolar e alcançar o mainstream? Essa preocupação, os venture capitalists têm bem presente. Até a revista britânica The Economist, em um artigo publicado na semana passada, entrou no debate ao afirmar que “os usos possíveis abundam, mas o killer app ainda está faltando”. Então, qual será o killer app do Bitcoin? Muitos não sabem a resposta a essa questão, mas ela é bem mais simples do que parece. Indo direto ao ponto: o killer app do Bitcoin é o dinheiro. É o dinheiro digital. Ou dinheiro eletrônico peer-to-peer, como o próprio Satoshi Nakamoto cunhou.
Por  Fernando Ulrich
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Qual é a melhor aplicação do Bitcoin? Qual o seu uso mais atrativo? Essas são perguntas frequentes dos entusiastas de tecnologia envolvidos com a criptomoeda.  E qual projeto fará o Bitcoin decolar e alcançar o mainstream? Essa preocupação, os venture capitalists têm bem presente. Até a revista britânica The Economist, em um artigo publicado na semana passada, entrou no debate ao afirmar que “os usos possíveis abundam, mas o killer app ainda está faltando”.

Então, qual será o killer app do Bitcoin? Muitos não sabem a resposta a essa questão, mas ela é bem mais simples do que parece. Indo direto ao ponto: o killer app do Bitcoin é o dinheiro. É o dinheiro digital. Ou dinheiro eletrônico peer-to-peer, como o próprio Satoshi Nakamoto cunhou.

Para encontrar o killer app do Bitcoin, não precisamos quebrar a cabeça desenvolvendo as mais mirabolantes aplicações para a tecnologia. O uso mais revolucionário e mais disruptivo é precisamente como dinheiro, como um ativo monetário independente de qualquer terceiro de confiança.

Com o advento da internet, um e-cash (dinheiro eletrônico) era o que ainda faltava, e-cash era o killer app ausente, como anteviu o famoso economista Milton Friedman, em uma entrevista de 1999. “A internet será uma das principais forças para reduzir o papel do governo”, previu Friedman, “E a única coisa que falta, mas que logo será desenvolvido, é um ­e-cash confiável”.

A internet potencializou a comunicação entre os indivíduos, facilitando a livre troca de informações sem depender de intermediários. Um dinheiro eletrônico P2P tem o potencial de aumentar a liberdade para realizar qualquer tipo de troca na sociedade.

Inegavelmente, o Bitcoin não se restringe a apenas dinheiro eletrônico. E as possibilidades que essa inovação trará ao nosso mundo são inúmeras. Muitas das quais nem podemos prever neste momento. Mas há várias que já estão sendo exploradas por empreendedores e programadores.

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Qualquer serviço que dependa de um registro, público ou privado – como transferência de ações, escrituração de bens imóveis, certificação documental, etc. –, tende a ser uma janela de oportunidade para o uso da tecnologia de livro-razão distribuído como o blockchain. As perspectivas são tão impressionantes que já há diversas empresas buscando desbravar esse território e atraindo investimentos do Sillicon Valley. Em artigos futuros tratarei especificamente de algumas das inovações do mundo Crypto 2.0.

Mas embora seja verdade que a invenção do Bitcoin permitirá infindáveis usos da tecnologia, nenhuma aplicação é tão onipresente como o dinheiro, o meio de troca. Nenhuma aplicação é tão impactante, capaz de perturbar e desestabilizar setores tão fundamentais a qualquer economia moderna, como a produção de moeda e os sistemas bancário e de pagamentos.

Dinheiro é o bem mais importante de uma economia. É o bem mais demandado, é o bem mais líquido, é o bem que está presente em metade das transações econômicas. Compramos com dinheiro. Vendemos por dinheiro.

O senso comum costuma atribuir ao dinheiro a causa de todos os males. Em realidade, sem o dinheiro, a sociedade como hoje existe seria inconcebível. Dinheiro é um meio de troca, é o grande facilitador dos intercâmbios realizados no mercado. É ele que permite a divisão do trabalho, possibilitando que cada produtor se especialize naquilo que melhor produz. O aprofundamento da divisão do trabalho aumenta a produtividade da economia e a capacidade de poupança, que, por sua vez, viabilizam o investimento e o acúmulo de capital. A constante multiplicação do capital acumulado significa que a economia cresce e prospera e que, assim, a sociedade cria riqueza e é capaz de melhorar o padrão de vida dos seus cidadãos.

Dinheiro não é um mal; é, na verdade, o bem fundamental em qualquer economia minimamente complexa. Tivéssemos que voltar ao escambo, nossa economia não seria capaz de alimentar mais do que um punhado de famílias. Em definitivo, o dinheiro é uma das instituições mais essenciais de uma civilização; é o bem que torna possível a cooperação social em larga escala.

Dessa forma, toda agressão contra a moeda gera consequências gravíssimas no funcionamento da economia. A falsificação e a depreciação da unidade monetária, historicamente um privilégio de soberanos e governos, geram efeitos perniciosos na sociedade, impedindo uma cooperação social tranquila. A intervenção estatal na moeda como hoje a conhecemos não é diferente. O monopólio de emissão de moeda e o sistema bancário cartelizado pelo próprio governo são responsáveis por grande parte dos problemas econômicos enfrentados pela sociedade moderna.

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Quem subestima o uso monetário do Bitcoin ou não entende o quão essencial é a moeda para uma economia ou desconhece o quão nocivo é o controle estatal do dinheiro. Talvez as duas coisas. E isso faz com que a invenção de Satoshi seja tão mais extraordinária.

Façamos um experimento mental. Se a tecnologia do blockchain houvesse surgido primeiramente em outra indústria – na de serviços notariais, por hipótese –, já teria sido um feito notável. Mas se algum programador visionário propusesse que a tecnologia fosse usada para criar um sistema distribuído de dinheiro eletrônico, ele seria, muito provavelmente, taxado de lunático e sonhador.

Mas, contra todas as probabilidades e os mais incrédulos, foi justamente isso o que ocorreu. Satoshi Nakamoto não somente propôs tal sistema, como também o criou e o lançou, legando ao mundo uma invenção cujas implicações são de arrepiar.

Que fique claro: não menosprezo os outros usos e as diversas inovações que a tecnologia do blockchain proporcionará. Até mesmo porque as outras aplicações elevam ainda mais o valor do Bitcoin, pois muitas dependem diretamente da segurança e robustez do blockchain. Mas em termos de funcionalidade, o killer app é a sua própria função original: um sistema de dinheiro eletrônico peer-to-peer.

Em termos de adoção, porém, o que fará o uso do Bitcoin explodir poderá ser a próxima crise financeira, em plena gestação pelos principais bancos centrais do mundo. Em outubro de 2008, após estouro da Grande Crise Financeira deste século, a tecnologia do Bitcoin estava a recém sendo testada e refinada. Hoje, já há milhões de dólares investidos e a infraestrutura da indústria está sendo bem desenvolvida. Quando a próxima crise vier, a tecnologia estará ainda mais consolidada e pronta para servir como uma válvula de escape à instabilidade financeira do sistema monetário vigente.

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Bitcoin significa a disrupção do dinheiro.  É a evolução da moeda. A tecnologia, contudo, é muito mais do que apenas dinheiro. Isso é verdade. Mas o uso monetário é muito maior e mais revolucionário do que qualquer outro uso que possa ser dado ao Bitcoin. 

Fernando Ulrich Fernando Ulrich é Analista-chefe da XDEX, mestre em Economia pela URJC de Madri, com passagem por multinacionais, como o grupo ThyssenKrupp, e instituições financeiras, como o Banco Indusval & Partners. É autor do livro “Bitcoin – a Moeda na Era Digital” e Conselheiro do Instituto Mises Brasil

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