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Real se valoriza com Trump e cenário interno

Dólar caminha para testar os R$3,00, que pode não ser o fundo do poço.
Por  José Faria Júnior
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

No dia 10 de janeiro comentei neste blog que “é muito importante destacar que o vice-presidente eleito, Mike Pense, disse na semana passada que Trump tem a intenção de cumprir as suas promessas de campanha”. E isto, de fato, está ocorrendo!

O que ocorreu nos dias seguintes foi uma recuperação do dólar contra o real, que se aproximou de R$3,25 no dia 16 de janeiro, em linha com a minha previsão que o dólar deveria se valorizar em direção a R$3,30.

Porém, no dia 17 de janeiro, postei blog com o título “Trump: nova estratégia?” e comentei: “o dia de hoje (17 de janeiro) está sendo marcado por diversos acontecimentos que mudam as expectativas iniciais.” E dois fatos foram destacados: o início da rolagem dos swaps que vencem em 01º de fevereiro pelo Banco Central (aliás, que rolou o volume total de USD 6,4 bilhões) e a entrevista de Trump para o Wall Street Journal, quando afirmou que o dólar está “muito forte”. E, nesta postagem, reafirmei que o dólar se encontrava em tendência de baixa contra o real e que deveria testar R$3,10. Dito e feito!

Entre os dias 17 e 30 de janeiro fiz recomendação pública de venda do dólar quando o mesmo estava próximo a R$3,20 (a recomendação pode ser consultada no link da InfoMoney: http://www.infomoney.com.br/mercados/cambio/noticia/6050591/governo-trump-emite-mais-sinal-que-pode-intervir-dolar-levar).

No dia 30 de janeiro destaquei em matéria para a InfoMoney (que pode ser consultada em: http://www.infomoney.com.br/mercados/cambio/noticia/6077957/motivos-que-explicam-queda-dolar-para-mesmo-dia-negativo-bolsa) motivos para a queda do dólar contra o real:

1-     Dado mais fraco do PIB do 4º trimestre dos Estados Unidos, divulgado no dia 27 de janeiro;

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2-     Continuação das captações externas, mesmo após a posse de Trump;

3-     Rolagem total dos swaps pelo Banco Central.

Abaixo atualizo o gráfico comparativo entre moedas publicado em postagens anteriores.

Data inicial: 31 de outubro de 2016, todas as moedas com base 100

Eleição de Trump: 08 de novembro de 2016

Reunião do FOMC: 14 de dezembro de 2016

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Data final: 30 de janeiro de 2017

Fonte: Wagner Investimentos

Conclusão: o real sofreu forte apreciação nos últimos dias, se descolando novamente do DXY e do australiano.

 

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E, o que esperar para os próximos dias?

Antes, vamos mostrar a agenda de eventos, que será bastante intensa nos próximos 3 dias:

 

Sobre Trump:

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Há mais dúvidas do que certezas. No momento, há uma grande confusão política após ele ter radicalizado nas regras de imigração e bloqueio de entrada no país de visitantes de 7 nações com predomínio mulçumano, fato que culminou com a demissão da Procuradora Geral e com protestos pedindo que a Inglaterra desmarque a visita oficial de Trump ao país. Além disto, as corporações americanas também protestaram. Até o momento, o mercado ainda acredita que muitas medidas de Trump são mais simbólicas, mas há dúvidas. Assim, o cenário é mais nebuloso.

 

Sobre os acordos comerciais dos Estados Unidos:

Os ataques do candidato Trump ao Nafta (Acordo de Livre Comércio da América do Norte) encorajou muitos americanos a votarem nele, mas é importante notar que o presidente Trump pisa em terreno muito perigoso dado o volume gigantesco do comércio com o Canadá e o México.

China, Canadá e México são os 3 maiores parceiros comerciais dos Estados Unidos e as trocas comerciais atingem anualmente algo em torno de USD 500 bilhões! Ou seja, o volume do comércio exterior dos americanos somente com o Canadá e com o México é superior a USD 1 trilhão. Para ter uma ideia melhor do que isto representa, o Japão é o 4º maior parceiro comercial com USD 180 bilhões e a Alemanha é o 5º maior parceiro comercial com USD 150 bilhões.

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Sobre o México: os Estados Unidos exportam USD 200 bilhões e importam USD 270 bilhões, com déficit estabilizando na faixa de USD 70 bilhões nos últimos anos.

Resumo: os números são muito grandes e Trump deverá criar problemas tão grandes quanto estes números.

 

Sobre o FOMC:

FOMC é o Comitê de Política Monetária do Federal Reserve (Fed). Ou seja, é o equivalente ao nosso Copom. Este Comitê é composto por 7 membros do Board e 5 membros de regionais. Board são os membros que ficam na sede do Fed, em Washington. Além disto, o Fed conta com 12 regionais e os membros se revezam no Comitê, sendo que o representante da regional de Nova York tem assento fixo e o cargo de vice-presidente do Comitê. Assim, é natural que todo ano ocorra a troca de 4 membros regionais no Comitê.

Abaixo indico os membros que saíram e o seu viés sobre política monetária:

Assim, é possível que o Comitê adote tom menos favorável a alta dos juros este ano. Se isto ocorrer, os juros das Treasuries e o dólar perdem força, o que é positivo para a apreciação do real. E, os dados dos últimos dias não são encorajadores para indicar alta dos juros. Vamos aguardar, mas esta é uma possibilidade.

O contraponto a este visão mais benigna do FOMC é que há somente 5 membros do Board atuando, ou seja, há 2 vagas em aberto. Assim, Trump pode nomear dois novos nomes a qualquer momento e é pública a sua desavença com Janet Yellen (Presidente do Fed), que tem mandato até fevereiro de 2018.

 

Sobre o Brasil:

Se o cenário atual de alta das commodities, do petróleo, do Ibovespa e do S&P500 e de queda dos juros futuro no Brasil permanecer em meio a fraqueza/estabilização do DXY e dos juros das Treasuries, o real tende a se beneficiar e deverá continuar se apreciando contra o dólar devido a:

1-     Expectativa do acordo sobre a dívida do Estado do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul (lembro que depende das Assembleias destes Estados aprovarem medidas altamente impopulares);

2-     Corte da Selic em ritmo mais forte que o previsto pela média do mercado, fato que poderá nos brindar com um PIB mais elevado, talvez acima de 1,0%;

3-     México e países asiáticos têm grandes plataformas de exportação de produtos industriais para os Estados Unidos e Trump promete criar algum tipo de barreira comercial. Assim, o Brasil tende a ser menos prejudicado do que estes países por depender menos do comércio exterior, fato que deixa o País mais atrativo entre o conjunto dos emergentes;

4-     Expectativa de aprovação de reformas no Congresso;

5-     Comentários na semana passada de Ana Paula Vescovi, secretária do Tesouro Nacional, sobre a possibilidade do país voltar a ter grau de investimento no próximo ano. Mesmo que esta previsão otimista não se materialize, tudo indica que teremos elevação da nossa nota de rating. O risco país está hoje na faixa de 250 bps (o equivale a um seguro de crédito de 2,5% ao ano) e notas melhores de rating devem reduzir este risco tranquilamente pela metade, deixando o Brasil mais atrativo para os investidores estrangeiros e deixando as captações das empresas mais baratas;

6-     Fluxo de captações das empresas ainda robusto em fevereiro;

7-     Repatriação II, que deverá começar em breve e com potencial de regularização de USD 30 bilhões.

 

Conclusão:

Apesar das grandes incertezas com Trump e com o cenário interno (não podemos desprezar os grandes riscos políticos que podem trazer muita volatilidade ao mercado e que foram comentados em postagens anteriores), o dólar/real deve continuar em tendência de baixa. O teste do R$3,10 está em curso e a cotação caminha em direção a R$3,00. Esta queda não deve ser linear e, assim, alta em direção a faixa de R$3,20 sugere venda.

O que incomoda no momento é a bolsa nos Estados Unidos em patamar recorde em meio a baixa aversão ao risco, ou seja, qualquer desapontamento levará a um movimento de fuga para a qualidade (leia-se: venda de bolsa e compra de ativos seguros como Treasuries, dólar, yen e ouro).

E, fundo do poço para o dólar? Ainda é cedo para estimar, mas pode ir para baixo de R$3,00.

 

Até a próxima semana!

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