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Uma nova Vale está surgindo – e a grande vencedora na Bolsa será a sua holding

Acionistas aprovaram reorganização societária da mineradora - e a ação da Bradespar deve ser a maior beneficiária desse movimento por uma melhor governança corporativa
Por  Lara Rizério
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

SÃO PAULO –  Na última terça-feira, a Vale (VALE3;VALE5) realizou a tão esperada assembleia de acionistas sobre a reorganização societária da companhia. Com essa aprovação, analistas do Santander apontaram que a mineradora está “um pouco mais perto de se tornar uma verdadeira corporação”, enquanto o Bank of America Merrill Lynch ressaltou que uma “nova Vale está chegando”. 

Os sete itens da assembleia foram aprovados – e são os seguintes: i) conversão voluntária de ações preferenciais classe “A” em papéis ordinários na relação de 0,9342 ON por cada ação PNA; ii) alteração do estatuto social para adequá-lo às regras do novo mercado; iii) versão do patrimônio da Valepar para a Vale; iv) ratificação da nomeação da KPMG para proceder à avaliação do patrimônio líquido da Valepar; v) laudo de avaliação do patrimônio líquido da Valepar; vi) incorporação da Valepar pela companhia, com a emissão de 1.908.980.340 novas ações ordinárias em substituição às 1.716.435.045 ações ordinárias e 20.340.000 ações preferenciais de emissão da mineradora atualmente detidas pela Valepar, que serão extintas em decorrência da referida incorporação; e vii) a consequente alteração do caput do Artigo 5º do estatuto social da companhia.

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Mas o que significa a aprovação de todos esses itens? Conforme apontam os analistas de mercado, este foi um passo histórico para aumentar a transparência e a governança corporativa – algo que foi refletido fortemente nos papéis na sessão da última terça-feira (27), apesar de amenizarem os ganhos durante a sessão, com a maior cautela do mercado em meio à crise política. Com isso, os analistas de mercado destacaram em relatórios consideram todo esse movimento isso muito positivo, pois pode potencialmente reduzir a intervenção do governo, melhorar a transparência, criar um único veículo de investimento líquido e aproximar a ação frente a seus pares globais. 

A aprovação do novo acordo de acionistas da Vale já era algo esperado há algum tempo pelo mercado em meio ao vencimento do outro acordo, em abril de 2017. A proposta de um novo acordo ocorreu no final de fevereiro, o que animou e muito os investidores (veja mais detalhes acessando o Insight do dia 20 de fevereiro de 2017). 

Mas, mais do que a Vale, outra ação sai como a vencedora com o denominado “acordo dos sonhos” da mineradora. Trata-se da holding da companhia, a Bradespar (BRAP4), que viu os seus papéis subirem até 7% na véspera e avançarem quase 3% nesta sessão. Aliás, os papéis BRAP4, após dispararem 200% no ano passado, registram o terceiro maior ganho de 2017 entre as ações do Ibovespa. Com o acordo de acionistas avançando, a perspectiva é de que o desconto atual entre as ações da Bradespar e da Vale (finalmente) se estreite. 

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Cabe lembrar que o desconto entre a holding e a controladora vinham aumentando ou diminuindo nos últimos meses de olho no acordo de acionistas. Entre o final de 2015 e o começo de 2016, as ações BRAP4 passaram a ser negociadas com um forte desconto em relação às da Vale, justamente por conta das preocupações sobre a renovação do acordo de acionistas da Valepar. Os investidores temiam que uma eventual não renovação do acordo para o bloco de controle poderia levar à “reestatização” da companhia. Isto ocorreria com os fundos de pensão estatais assumindo o controle acionário da mineradora, em detrimento dos sócios privados Bradesco (BBDC4) e a japonesa Mitsui. Contudo, os temores foram diminuindo após o impeachment da presidente Dilma Rousseff (e a expectativa de um governo mais pró-mercado com Michel Temer), trazendo um novo acordo que diluísse os riscos de interferência governamental. 

Entre muitos rumores de idas e vindas, os itens do acordo (pró-mercado) foram anunciados em fevereiro para serem votados no final deste mês. Porém, nas últimas semanas, o desconto entre Bradespar e Vale voltou a abrir, dando sinais de que o mercado via uma alta probabilidade do acordo não vingar – temor esse que diminuiu com a aprovação dos itens em assembleia do dia 27. 

Assim, como o acordo está avançando, a perspectiva é de que a ação da Bradespar seja a maior beneficiada com a decisão da véspera. “A ação está atualmente sendo negociada com um desconto de 26%, acima dos 20% históricos. Como sua estrutura corporativa ficará simplificada, tornando-se um veículo de investimento único e direto na Vale, o desconto poderá estar mesmo abaixo da média histórica. Assumindo um desconto de 15%, as ações ainda teriam que superar os papéis da Vale em 15%”, apontam os analistas Felipe Hirai e Karel Luketic, do Bank of America Merrill Lynch. 

O BTG aponta ainda que o atual desconto é injustificado, o que leva a uma perspectiva mais positiva para os papéis BRAP4 do que para as próprias ações da Vale com esse acordo, o que pode reduzir o desconto para entre 10% e 15%. Os analistas ressaltam que seguem cautelosos com a Vale, principalmente por ela ser um “call de minério”. E, justamente por isso, a Bradespar ainda parece ser a melhor forma de obter exposição à commodity. O Santander ainda faz uma comparação e ressalta que, a cada redução de 100 pontos-base no desconto da holding, cria-se um potencial de alta de 2% na BRAP4, todo o resto mantido constante.

Próximos passos

A indicação de que a reestruturação da Vale será concluída aumentou em meio ao padrão de voto dos acionistas preferencialistas, conforme destaca a Citi Corretora. A conversão das ações requer a adesão de
pelo menos 54,09% dos detentores de ações PN nos próximos 45 dias e os votos de ontem mostram que ela será aprovada. Na assembleia, a conversão voluntária foi aprovada com 68,21% de votos das ações preferenciais – e 78% das ordinárias -, que serão os papéis que deverão aderir à operação. Além disso, o quórum da assembleia foi o maior dos últimos dez anos, equivalente a 85% do capital social da empresa.

Com a elevação dos padrões de governança corporativa da Vale, os analistas Bruno Giardino e Renato Mariuchi, do Santander, ressaltaram que pode provocar uma redução do desconto da Vale em relação aos pares globais. “De fato, de acordo com as estimativas do consenso, a Vale é negociada a um FV/EBITDA de 2018 de 3,7 vezes, representando um desconto de 38% para os pares”, apontam.  Também importante, os analistas do Santander esperam que o CEO Fabio Schvartsman apresente um plano estratégico de longo prazo para a Vale em agosto, após a conclusão de sua avaliação sobre a situação da empresa.

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Mesmo com a melhora de governança corporativa e a avaliação de que a Vale está virando uma verdadeira corporação, os analistas divergem sobre a Vale. Enquanto o BofA e o Citi recomendam a compra da ação, Santander e BTG Pactual possuem recomendação de manutenção para os ativos. 

Do lado positivo, o BofA aponta que, além da nova estratégia estudada por Schvartsman, a companhia está negociando a um minério descontado a US$ 50 a tonelada, versus a cotação do spot a US$ 60 a tonelada. “Esta nova Vale, com uma nova estrutura corporativa, deve ser ainda mais enxuta. Ou seja, focada em retornos, com ambições de crescimento, mas com menor alavancagem”, apontam os analistas. Por outro lado, o BTG aponta que a Vale é um veículo de investimentos que depende principalmente de uma única variável, a cotação do minério de ferro. E sobre isso, eles ainda seguem em alerta, mantendo o call de que a commodity ficará no patamar de US$ 50 a tonelada em 2018 e atribuindo ainda uma alta probabilidade de que os preços 
cheguem na casa dos US$ 40 em algum ponto do segundo semestre. 

Entre percepções otimistas e pessimistas para a ação da Vale, os analistas ressaltam que a companhia está evoluindo. E quem se sairá beneficiada será principalmente a Bradespar. 

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Lara Rizério Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.

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