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Aquisição bilionária de “irmã gêmea” pode levar à transformação da Natura – para pior

Analistas não viram com bons olhos proposta de compra da The Body Shop pela Natura - e apontam desafios que a companhia enfrentará
Por  Lara Rizério
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

SÃO PAULO – A perspectiva de uma expansão global com uma marca já bastante consolidada e uma grande expectativa de transformação após períodos bastante difíceis para a companhia. Expectativa de elevação da receita em 45% e multiplicação do número de funcionários em mais de três vezes. A proposta de 1 bilhão de euros da Natura (NATU3) pela britânica The Body Shop teria tudo para ser positiva para a companhia brasileira, certo?

No início do pregão, parecia que sim: as ações da Natura abriram com alta, chegando a avançar 2,65%. Porém, minutos depois, a virada veio com força e os papéis passaram a cair mais de 3%. 

Este desempenho vem em linha com a avaliação de boa parte dos analistas sobre os grandes riscos com a potencial compra. Por um lado, o UBS ressalta: a aquisição proposta é o maior passo adotado pela empresa para acelerar a sua estratégia de diversificação de marca, geográfica e de canal de vendas. “Vemos um forte encaixe cultural entre as empresas com foco em produtos de alta qualidade, naturais e sustentáveis”. Em linha com isso, em teleconferência, a gestão da Natura afirmou que a empresa e a Body Shop são “gêmeas idênticas”; A expansão também seria grande: após a compra, a Natura chegaria a 3,2 mil lojas físicas e 17 mil colaboradores (ante cerca de 5 mil funcionários hoje). O faturamento alcançaria R$ 11,5 bilhões, uma alta de 45%.

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“Com o tempo, se a lucratividade do The Body Shop se normalizar, a exposição ao Brasil poderá diminuir. A partir de um ângulo de diversificação estratégica, esta transação poderia ajudar, atenuando parcialmente o impacto do mercado interno no preço”, afirmam os analistas do UBS.

Porém, os riscos estão se sobrepondo e muito aos benefícios. Em abril, quando os rumores começaram, o Credit Suisse apontou para as dificuldades de integração e potencial aumento na alavancagem. Na época, as informações divulgadas pela Bloomberg eram de que as propostas pela The Body Shop eram de US$ 856 milhões – e a proposta da Natura é a um valor bem superior a isso. 

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Além disso, vale destacar que, nos últimos anos, a companhia britânica tem enfrentado dificuldades, em meio ao acirramento da concorrência e fraco desempenho no mercado britânico. Em 2016, a rede registrou queda de 4,8% nas vendas, a € 920,8 milhões de euros.

Enquanto o UBS ressalta que os números da The Body Shop estariam fracos uma vez que ela não recebeu a atenção esperada. Assim, ela poderia ter uma melhor gestão nas mãos de um proprietário como a Natura. Por outro lado, há também muitas dúvidas sobre como a companhia vai gerir uma grande quantidade lojas no exterior tendo pouca (ou quase nenhuma) expertise sobre o assunto. A Natura, em um movimento de mudança, inaugurou a sua primeira loja física no Brasil apenas em abril do ano passado, justamente por passar um momento bastante complicado em meio ao avanço de outras marcas no mercado de venda diretas e a resistência de parte do público ao modelo de compra por catálogo. Atualmente, são apenas sete unidades abertas. 

“O negócio parece caro e complexo, uma vez que a Natura não tem experiência em gerenciar grandes operações e precisará colocar bastante esforços para realizar o turnaround da companhia, que vem perdendo margens desde 2013”, afirma Giovana Scottini, analista da Eleven Financial. 

Assim, são três os pontos destacados como negativo se o negócio se concretizar, aponta o JPMorgan: I) a transação deve diluir em cerca de 20% o lucro por ação da Natura no primeiro ano, assumindo que o pagamento será totalmente financiado a 100% do CDI; desta forma, a perspectiva é de o lucro continue pressionado nos anos seguintes após a aquisição, em meio aos esforços para aumentar a lucratividade das operações; ii) neste sentido, como já destaca acima, a Natura tem histórico limitado no varejo e precisará implementar uma reviravolta na The Body Shop, que está mostrando tendências de rentabilidade decrescentes e iii) a integração pode ser uma importante distração para a mudança e as iniciativas de diversificação de canais que ocorrem em seu negócio principal.

Oportunidade ou mau negócio?

 Por outro lado, para quem quer ver o lado positivo, a expansão no número de lojas será superior a três mil, existe uma alta adesão entre os produtos da Natura e da companhia britânica. Além disso, há quem destaque o movimento bem sucedido da Natura ao adquirir a australiana Aesop – porém, vale ressaltar, a Aesop tem uma escala bem menor e é focada em segmento premium. 

Desta forma, os temores do mercado apontam que a Natura, na sua ânsia de mudar, pode dar um passo maior do que a sua perna, comprometendo a sua alavancagem e tirando o foco do que realmente importa para ela. Com isso, os analistas reforçam um cenário de bastante cautela e mantém, em sua maioria, recomendação equivalente à venda para os ativos. É o caso do JPMorgan (preço-alvo de R$ 27,00), UBS (preço-alvo de R$ 28,00) e Santander (preço-alvo de R$ 29,00).

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Para o Brasil Plural, no longo prazo, o negócio pode ser uma boa oportunidade para a Natura, pois diversificará seus canais de vendas e trará exposição aos mercados desenvolvidos, equilibrando a presença da Natura em mercados emergentes e poderia levar a um financiamento mais barato. Porém, no curto prazo, a perspectiva é de que a Natura possa se transformar – para pior. 

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Lara Rizério Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.

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