O que veio de tão ruim no balanço da Ultrapar? Não adianta perguntar no Posto Ipiranga

Resultado do Ipiranga foi visto como satisfatório, mas a Oxiteno e a Extrafarma decepcionaram e levaram a questões sobre o ritmo de recuperação da companhia

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Mais uma vez, a Ultrapar (UGPA3) decepcionou. Os investidores, que já esperavam resultados do quarto trimestre de 2018 poucos expressivos para a dona do Ipiranga, Oxiteno, Extrafarma (entre outros), ficaram surpresos com os números fracos da que já foi um dia exemplo de resiliência no mercado acionário. Com isso, os papéis registraram queda de até 7,35% na mínima da sessão desta quinta-feira (21), para fecharem em queda de 4,92%, a R$ 52.

Apesar da alta de 28,9% no lucro líquido atribuído aos acionistas controladores no último trimestre de 2018, a queda foi de 24,6% em 2018, para R$ 1,15 bilhão. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) ajustado foi 6,5% abaixo do esperado pelo consenso de mercado no trimestre, para R$ 829,6 milhões. 

De acordo com a XP Research, as principais diferenças dos resultados frente às expectativas da equipe de análise refletiram a performance abaixo do esperado na Oxiteno (divisão de petroquímicos) e na Ultragaz. 

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A margem Oxiteno foi impactada negativamente pela apreciação do real, ficando em US$ 130 a tonelada, além dos menores volumes, enquanto o Ebitda da Ultragaz foi impacto tanto pelos menores volumes quanto pelas menores margens.

Conforme ressaltam os analistas, no campo positivo, esteve a Ipiranga (negócio de distribuição de combustíveis), que registrou sólidos resultados com melhora de margens (Ebitda por metro cúbico de R$ 92,3 em linha com nossa estimativa) e expansão de volumes com alta de 2,9% para o diesel e alta de 4,8% para o combinado de gasolina e etanol.

Porém, mesmo o Ipiranga, destaque positivo no balanço, gerou muitas controvérsias. Os analistas do Credit Suisse, por exemplo, apontaram que as expectativas do mercado estavam altas para uma melhora na margem do Ipiranga em meio ao aumento do spread dos preços das bombas e a tendência de conseguir abocanhar uma maior participação do mercado. Porém, a margem de R$ 92 o metro cúbico veio 4% abaixo do esperado pelos analistas do banco suíço. 

“Apesar de ser uma melhora em relação ao trimestre anterior, isso foi reflexo de uma queda na despesa de vendas [e não de um aumento dos volumes, por exemplo]. Esse resultado pior deve levar os investidores a questionarem o ritmo da recuperação”, avalia o Credit.

Enquanto isso, o Morgan Stanley reforça que a Extrafarma continuou a ser um empecilho para a recuperação da Ultrapar, o que também afetou o humor do mercado com relação à Ultrapar. 

Nesse cenário, também há controvérsias sobre o que esperar os papéis da companhia. O Morgan ressaltou que continua cauteloso com o setor dado o aumento da concorrência, mas continua tendo preferência da Ultrapar frente a BR Distribuidora no segmento de distribuição de combustíveis.

Já o Bradesco BBI aponta que o valuation “não é uma pechincha” e mantém recomendação neutra para o ativo, dado o ambiente ainda desafiador para margens de distribuição, apesar da recuperação trimestral. 

O Credit Suisse ressalta que, do lado positivo, o destaque acabou ficando com a geração de caixa, que levou a uma redução da dívida líquida em R$ 1 bilhão. Contudo, a empresa precisa melhorar o resultado operacional para chegar à projeção de margem Ebitda de R$ 110 o metro cúbico em 2019 e levar o valuation para a média histórica de 10 vezes a relação entre o EV (valor da empresa) e o Ebitda. 

Já a XP avalia que, mesmo com uma visão geral negativa sobre os resultados da Ultrapar no trimestre em meio ao quadro econômico desafiador que prejudicou a performance do grupo, as expectativas são positivas. ” Acreditamos em uma melhora dos resultados da empresa em linha com a recuperação macroeconômica, mesmo que lenta e gradual. Por esta razão, mantemos nossa recomendação de compra para as ações da Ultrapar, com preço-alvo de R$ 60 por ação”, aponta.

 Desta forma, após mais um mais balanço fraco, a Ultrapar terá mais uma oportunidade de se redimir e apresentar melhores números em 2019 com um cenário de recuperação mais forte da economia brasileira. Mas será preciso mais do que um bom desempenho do Ipiranga para que isso aconteça. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.