Suzano tinha tudo para “brilhar”, mas foi a pior ação do Ibovespa em maio: o que aconteceu?

Ações SUZB3 amargaram a "lanterninha" do benchmark da bolsa em meio a uma combinação de queda do preço da celulose e ânimo na reta final do mês com agenda de reformas, o que fez o dólar zerar os ganhos registrados no mês

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Mês conhecido por ser de forte aversão ao risco nos mercados (vide a expressão “sell in may and go away”), maio sempre foi visto com cautela pelos agentes. Afinal, nos últimos 25 anos, o Ibovespa só havia subido no período em 8 ocasiões.

Com isso, mal começou o mês e os investidores já foram em busca de proteção para enfrentar o período, ainda mais levando em conta o cenário bastante complicado para a aprovação de reformas no Brasil, o que também levaria a um impacto no mercado de câmbio com uma perspectiva de alta do dólar frente o real. 

Neste ambiente, para quem estivesse de olho em uma opção de investimento no mercado acionário, as ações da Suzano (SUZB3) apareciam como uma alternativa interessante. Afinal, boa parte da receita da companhia é de exportação – ou seja, quanto mais o dólar subisse, maior seria o impacto positivo para essa linha do balanço. Além disso, trata-se de uma empresa bem gerida e com boas perspectivas de crescimento em meio à fusão com a Fibria. 

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Contudo, contrariando as expectativas, a Suzano foi a pior ação do Ibovespa no mês de maio, com baixa de mais de 21%, e decepcionando muitos investidores, enquanto o benchmark da bolsa subiu 0,7%. A explicação para que isso aconteça é o forte movimento de queda dos preços do celulose, um movimento parecido com o ocorrido no final do ano passado – e que corrobora a tese é de que não adianta tudo parecer a favor da companhia se a cotação da commodity não ajudar. 

Uma combinação de fatores levou ao enfraquecimento do preço da celulose nos mercados internacionais. Em primeiro lugar, esteve o aumento da oferta com diversas companhias elevando a sua capacidade de produção sem que houvesse um aumento da demanda corresponde para tanto, uma vez que a procura pela commodity não apresenta grandes mudanças no curto prazo.

Para dirimir esse impacto, a Suzano buscou diminuir a oferta estocando o produto e cortando produção, mas isso não se provou suficiente – ainda mais levando em conta o ambiente mais negativo para a economia mundial, com as revisões constantes para baixo para o crescimento do PIB global e a elevação das tensões comerciais entre EUA e China. Conforme destacam Thiago Lofiego e José Cataldo, analistas do Bradesco BBI, os níveis de estoque da Suzano no primeiro trimestre de 2019 estavam em 3 milhões de toneladas no início de maio, 1,5 milhão acima do normal. 

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“A não ser que haja uma recuperação mais forte da demanda, o processo de desmonte do estoque provavelmente será longo”, aponta a equipe de análise, apontando que isso limitaria os preços de celulose. No início de maio, o Bradesco BBI reduziu a recomendação dos papéis SUZB3 de compra para neutra e, na última quinta-feira, revisaram novamente as estimativas, reduzindo o preço-alvo para os papéis de R$ 50 para R$ 39 (um potencial de alta de 21% frente o fechamento desta sexta) ao também reduzir as estimativas para os preços da celulose. 

A celulose hardwood, de fibra curta e produzida pela Suzano, teve o preço esperado reduzido de US$ 675 para US$ 640 a tonelada para 2019 e de US$ 740 para US$ 700 em 2020, com os estoques a níveis historicamente altos e a demanda por celulose não conseguindo se recuperar na Ásia e ainda sem brilho na Europa. Para efeito de comparação, no final do ano passado, o preço da celulose estava acima dos US$ 700 (ou seja, um valor 9,4% maior). Atualmente, a celulose é negociada a US$ 654 a tonelada na China.

Outro fator destacado para o menor ânimo com o setor é a entrada da temporada de verão no Hemisfério Norte, que é um período de demanda por celulose sazonalmente mais lento, conforme destaca Humberto Meireles, sócio da gestora Vinland Capital. O gestor tem uma visão negativa para os papéis SUZB3 e avalia que é difícil que haja uma recuperação dos ativos antes do fim do verão. Assim, pelo menos até lá, os papéis devem seguir pressionados. 

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Mas, além do noticiário sobre a empresa, a companhia ainda acabou sendo preterida pelo mercado em meio ao rali do final do mês de maio, que fez com que o Ibovespa subisse mais de 6% desde meados do mês, enquanto o dólar praticamente zerou os ganhos registrados no início do período.

Isso aconteceu em meio à percepção de que o Congresso passou a assumir o protagonismo na aprovação das pautas econômicas, aumentando as chances de uma reforma da Previdência mais robusta, sendo seguida pelas manifestações do último dia 26 que colocaram a agenda de austeridade fiscal nas ruas de forma positiva, algo bastante incomum – e que animou o mercado. O dólar, que no dia 20 chegou a bater os R$ 4,12, fechou o mês na casa dos R$ 3,92, uma baixa de quase 5% no período e zerando os ganhos registrados ao longo da primeira quinzena do mês. 

Assim, se a Suzano já não era uma boa opção nos momentos de alta do dólar em meio à queda do preço da celulose, ela acabou sofrendo ainda mais com a recuperação do real. 

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Tendo isso em mente, Meireles ressalta: para quem quer ter um ativo para proteção na carteira em períodos de turbulência, pode ser mais interessante investir diretamente em fundos cambiais do que empresas que, a princípio, ganham com o dólar em alta, mas que podem ser afetadas por outros fatores, como é o caso da Suzano.

No curto prazo, para a Suzano, as estimativas não são positivas, conforme ressalta também o Bradesco BBI, que possui uma visão mais construtiva para o papel só a partir de 2020. A normalização da demanda continua a ser o caso-base que, combinado com um crescimento mais limitado da oferta, pode levar os preços da celulose de volta aos US$ 700 a tonelada. 

Na China, a demanda pode ser impulsionada com fatores estruturais como uma maior renda disponível com o aumento da urbanização e uma preocupação crescente com sustentabilidade. Porém, por enquanto, o noticiário é bastante desafiador para a Suzano – o que tornou a máxima “sell in may and go away” uma verdade para a própria companhia, ao contrário do que muitos poderiam pensar. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.