Suzano: por que a ação caiu tanto enquanto o dólar não parou de subir?

A máxima que valeu para a Suzano durante todo o ano não está se provando mais verdadeira nesses últimos meses

Lara Rizério

Setor de papel e celulose (Shutterstock)

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SÃO PAULO – Qual ação comprar na Bolsa em momentos de incerteza para a economia brasileira? Durante boa parte do ano, a resposta mais óbvia foi a Suzano (SUZB3) em meio à lógica de que, por ser uma empresa exportadora, ela se beneficiaria fortemente (e automaticamente) de uma alta do dólar. 

Somado ainda ao fato de que é uma empresa com bons fundamentos e que conta com um ótimo caminho pela frente em meio à fusão com a Fibria (FIBR3), ela seria um hedge natural em meio a cenários mais nebulosos. Com isso, os papéis chegaram a subir 192% no ano, atingindo os R$ 54 em setembro e sendo de longe a maior alta do Ibovespa no período, virando uma verdadeira “estrela” da Bolsa. 

Desta forma, até como seria de esperar, a Suzano não teve um desempenho positivo durante o período eleitoral ao registrar perdas de 23% em outubro, mês das eleições e em que o mercado já antecipava uma vitória de Jair Bolsonaro, considerado o preferido do mercado no segundo turno em meio ao discurso pró-reformas. No período, o Ibovespa subiu 10,2%, enquanto o dólar teve queda de 8%, cotado a R$ 3,7283.

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Porém, nem mesmo a recuperação recente da divisa americana pós-eleição, chegando no patamar dos R$ 3,90 também de olho no cenário internacional, nem as incertezas sobre as reformas no próximo governo fizeram com que as ações SUZB3 se animassem na Bolsa. Elas chegaram a ter um alívio nas últimas duas sessões de novembro logo após a autoridade da concorrência da Europa aprovar a combinação de seus negócios com a Fibria, o último passo para a fusão. Porém, logo os papéis voltaram a registrar forte queda na Bolsa e, em um pouco mais de três meses, os ativos já caíram 34%.

A explicação para esse movimento ocorre uma vez que um fator que até então não estava pesando para a companhia passou a ganhar forte destaque, especialmente nas últimas sessões, fazendo com que analistas e gestores revisassem as suas perspectivas para os números da companhia. Trata-se da forte queda dos preços de celulose com a incertezas com a economia chinesa. Até o começo do terceiro trimestre, o cenário era de estabilidade para a commodity, o que fez com que a Suzano passasse a refletir mais o câmbio – mas isso mudou. 

Na última terça, os preços de celulose de fibra curta, material produzido pela Suzano, tiveram a maior queda do ano, com baixa de US$ 29,51 a tonelada, para US$ 706,90 a tonelada, após terem caído US$ 13,78 a tonelada da semana passada. A queda, por sinal, é generalizada: os preços de fibra longa também recuaram em US$ 6,66 a tonelada, para US$ 803,21 a tonelada, enquanto as cotações na Europa também registraram forte desvalorização.

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Esses movimentos de queda de um dos principais insumos se sobrepuseram ao desempenho do dólar, relembrando o mercado de que a tese de investimento da Suzano não é simplesmente algo que dependa apenas do ponto de vista macro. 

E, enquanto algumas casas de análise veem a ação como barata em meio à forte queda recente, a falta de visibilidade sobre os preços da commodity leva a uma perspectiva ainda pessimista para as ações da companhia, de acordo com os sócios da gestora Vinland Capital, Humberto Meirelles e Paulo Castilho. 

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“Nós temos uma visão negativa para a ação, não exatamente para a companhia, mas muito mais pela forma como enxergamos o ciclo de commodities. Com a queda dos preços, a ação vai para baixo, independentemente do valuation, uma vez que aumenta a incerteza sobre a geração do caixa da empresa, o que leva a uma antecipação do desempenho em Bolsa”, avalia Meirelles.

Desta forma, com poucas perspectivas de uma recuperação no curto prazo para os preços das commodities, ainda mais levando em conta os temores por conta da guerra comercial com grande potencial para impactar a atividade econômica chinesa, a expectativa é de pressão para a Suzano apesar da já expressiva queda dos ativos. “Com a commodity caindo sem uma visão clara de quando a baixa vai parar, este é um momento para estar fora [do papel]”, avalia Meireles, que ressalta que o câmbio é importante, mas a combinação entre o desempenho da moeda brasileira e da celulose é o mais importante. 

Reversão do cenário? Sem grandes expectativas

Para Meireles, a reversão desse cenário pessimista se daria com um ajuste dos estoques para a commodity, que atualmente estão altos, além de uma coordenação melhor de oferta entre os produtores, que pode levar a uma influência maior nos preços. Do ponto de vista macro, uma perspectiva de melhora na atividade na China e a redução do risco da guerra comercial podem ser fatores que levariam a uma recuperação da celulose e, consequentemente, dos ativos da Suzano.

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Mas, por enquanto, a visibilidade da ocorrência desses eventos é bastante baixa, o que faz com que os gestores não olhem no momento para os ativos. Eles ressaltam ainda que, para quem quiser se expor em câmbio, ações que são impactadas pela divisa americana não são a melhor opção e sim se posicionar diretamente na moeda. 

Porém, é importante destacar a visão positiva do mercado para a Suzano no médio prazo, principalmente com a visão de sinergias importantes (e bilionárias) a partir da fusão com a Fibria, além de um mercado ainda movimentado para a sua commodity principal, mesmo com as projeções para crescimento da demanda mais conservadoras. No curto prazo, no entanto, a palavra de ordem é cautela com a Suzano. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.