Por que era impossível antecipar o fracasso da OGX no IPO

Gestor da Bahia relembra janela de IPOs, 2007 e do fracasso da OGX

Equipe Stock Pickers

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Depois de alguns episódios diversificando nossa carteira com temas variados, no Stock Pickers #72 voltamos ao assunto que faz nossos corações baterem mais forte: ações. E resolvemos fazer isso abordando um tema que está diariamente no noticiário especializado do Condado e que marca o começo da história de qualquer empresa na bolsa: IPO.

Com o IPO (Initial Public Offering, ou Oferta Pública Inicial), as ações de uma empresa começam a ser negociadas livremente na bolsa e qualquer um, apenas com capital e um home broker, pode se tornar acionista. Não é preciso conhecer os donos, jogar golfe com banqueiros e nem ir no cartório para conseguir fechar o negócio.

No mercado, de tempos em tempos, é comum existir momentos com um volume atípico de pedidos de registro de oferta primária. Na lista costuma haver grandes sucessos, como a Localiza, e fracassos retumbantes, como o da OGX (de quem vamos falar abaixo).

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Estamos agora vivendo um desses momentos. A última vez que tantas ofertas primárias haviam acontecido em um mesmo ano havia sido em 2007, antes do estouro da crise do subprime. Naquele ano 64 IPOs foram realizados, e nosso convidado, Gustavo Daibert, da Bahia Asset, lembra bem daquela fase na qual se especulou que até o Parque da Xuxa iria para a Bolsa.

“Ex-post, olhando histórico, acaba sendo muito mais fácil emitir opinião sobre as coisas. Olhando agora, algumas coisas claramente estavam fora de preço e algumas coisas eram muito piores do que a gente enxergava naquela época. Quando você se coloca de volta naquele momento e tenta mergulhar no ambiente que estava a sua volta, não é tão fácil. Até porque você tinha muito menos conhecimento no passado do que você tem hoje”, diz Daibert.

E, realmente, depois que uma bolha estoura, ou ocorre uma crise, é fácil ver, depois, os sinais que já existiam. Um caso emblemático dessa época de IPO (mas que não ocorreu em 2007) foi o da empresa OGX, uma das empresas do então multibilionário Eike Batista.

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OGX: agora é fácil falar

O IPO da OGX, empresa de exploração de petróleo do Eike, foi, sem sombra de dúvidas, um sucesso. Naquela época, com uma captação de R$ 6,7 bilhões, a um preço de R$ 1.131,00 por papel, ocupou o topo da lista dos maiores IPOs do país.

“OGX não era óbvio. Como era um negócio de alto risco, sempre terá pessoas dizendo que vai dar errado e outros dizendo que vai dar muito certo. Mas, se você analisar friamente, como um analista, estávamos num ambiente em que o petróleo estava batendo, exatamente no IPO da OGX, um pouco menos de U$ 50 e vários analistas diziam que o petróleo iria passar de U$ 200 e que ia ter falta de petróleo no mundo. A empresa era basicamente a única alternativa à Petrobras para se investir em petróleo no Brasil”, comentou Daibert.

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Para montar seu time, a OGX fez uma estratégia de captação de talentos da Petrobras muito forte. Trouxe muitas pessoas boas para dentro da empresa e montou um time fortíssimo. Além disso, entrou em rodada de concessão de blocos que pareciam muito bons à época.

“O bloco é basicamente um quadrado no mar que tem potencial de exploração de óleo e que você tem alguns riscos e alguns dados. E as pessoas que tinham feito aquilo [analisar pontos de exploração] nos últimos trinta anos, na Petrobras, estavam no OGX. Tinha gente muito boa, ativos muito bons, amparados por uma estrutura de capital de um bilionário e com petróleo apontando para U$ 200”, analisa o gestor da Bahia.

Levando em consideração que a precificação de uma reserva de petróleo depende do preço do petróleo, se o petróleo fosse para U$ 200 as reservas da empresa seriam bem diferentes Dependendo do preço do petróleo, a viabilidade econômica dos barris muda totalmente.

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“Projetar o preço do petróleo é uma das tarefas mais difíceis na análise de investimentos. Para quem via a empresa na época, não era algo óbvio dizer que valia zero. Inclusive era quase impossível alguém falar que valia zero”, relembra o gestor da Bahia.

Outro fator importante em relação ao case OGX ressaltado pelo Gustavo no episódio foi o trabalho de relacionamento entre a empresa e os investidores.

“Uma empresa que está vindo a mercado precisa explicar para o investidor o que ela faz para o investidor entender minimamente e colocar o dinheiro. E eles fizeram um trabalho de ‘catequização’ na época muito bem feito. O sell side da época era fenomenal. Os melhores analistas do mercado estavam no setor de petróleo e ensinaram para o mercado o que eram reservas, o que eram recursos, como se trabalha um modelo pensando em cenários de distribuição de probabilidades.”

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O sonho acabou

“É muito difícil separar o quanto você conhece do quanto você não conhece, porque você faz um estudo muito grande para entender uma coisa e depois de um mês aprendeu infinito por cento do que você sabia, que era zero”, afirma Daibert.

E essa questão, para o gestor, acabou fazendo com que o mercado não enxergasse que ainda sabia pouco sobre o negócio, porque muitos saíram do zero em nível de conhecimento do setor do petróleo e aprenderam muito, mas não era o suficiente para analisar corretamente a empresa e seu ambiente.

Após o início das operações, as expectativas de produção foram bem abaixo do esperado pelos investidores e, além do maior IPO da Bolsa até então, a OGX protagonizou também o maior fracasso do mercado de capitais brasileiro neste século.