Os sinais da economia mundial e da Bolsa brasileira, segundo José Rocha e Ruy Alves, os “filósofos do Condado”

Dupla foi convidada do episódio 181 do Stock Picker para debater os temas mais quentes e que andam mexendo com os mercados

Rafaella Bertolini

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Se você gosta de extrapolar a “caixinha” das análises, o episódio 181 do podcast Stock Pickers é um presente.  

Afinal, existem inúmeras técnicas para um processo de análise financeira, mas poucas possuem um caráter filosófico tão refinado quanto de José Rocha, gestor da Dahlia Capital, e Ruy Alves, Gestor Global Macro da Kinea Investimentos. 

De questões demográficas, ao que se espera com a proliferação da Inteligência Artificial até o cenário atual do Brasil, foram apenas algumas das pautas amplamente debatidas durante a entrevista. 

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Crescimento Global 

A preocupação com o crescimento econômico global é um alerta aceso. Nos últimos anos diversos fatores tiveram grande influência nessa questão, incluindo a pandemia, guerra, inflação e, agora, o processo de contração monetária.

O que os gestores, ou melhor dizendo, os “filósofos do condado”, esperam de maneira geral para 2023?

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Ruy Alves, acredita que, diferentemente de 2022, quando  a questão dos juros dominou a pauta, 2023 o leque vai se abrir. “A gente fala muito se é recessão, se não é recessão, mas quando olhamos friamente os números, a gente já não cresce direito desde a crise financeira [de 2008]. E, pós-Covid, as perspectivas de crescimento do mundo – principalmente pelo fator de produção – não têm substrato”. 

Ou seja, para o gestor da Kinea, a grande questão é que é impossível olhar para crescimento quando não se tem força de trabalho, “é como o Verstappen ter gasolina no carro, mas não ter o pneu”, exemplifica. 

José Rocha relembra que, antes da pandemia, já havia 3 grandes forças deflacionárias: encolhimento demográfico, dívida alta e a tecnologia impactando grandes potências, visto que “a velocidade de processamento dos computadores dobra a cada 18 meses, nos últimos 50 anos”, como relembra José. 

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Sendo assim, a pandemia acelerou o “potencial deflacionário” dessa combinação de fatores, e, para poder reequilibrar essa questão, foi preciso a realização do “maior estímulo monetário da história”. 

O saldo é que, após a reabertura, acabou por se ter mais estímulo do que forças deflacionárias, causando então a alta inflação. “É muito difícil imaginar, para períodos intermediários de tempo, de onde virá o crescimento”, afirma o executivo. 

Risco demográfico 

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Os gestores fortaleceram a preocupação com o crescimento demográfico e dedicaram um tempo da entrevista para falar exclusivamente sobre o assunto. “O maior risco é demografia, pois o mundo nunca teve crescimento negativo. A gente não sabe o que é demolir casas”, diz Ruy Alves.

“Economia tem que crescer, e como pensar em crescimento se você não tem fator de produção nas maiores economias mundiais? Tem capital de sobra e um ajuste de produtividade a ser feito dos investimentos que não geraram retorno algum”, complementa Ruy.  

“Até 2050 a população da China cairá pela metade, essa questão da China virar os EUA é muito difícil com metade da população desaparecendo. Será o declínio demográfico mais rápido da humanidade”, explica José. O executivo afirma que a China é só o exemplo acelerado, porém não isolado no mundo. 

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Inteligência artificial e geração de empregos  

Recentemente, muito ouvimos falar sobre inteligência artificial e os tantos debates sobre empregos que podem ser pedidos com seu avanço. Como deverá caminhar a sociedade diante desses novos paradoxos? 

Ruy Alves conta que há 10 anos ele estava tendo essa mesma conversa em um grupo de amigos. Hoje, o gestor acredita que a gente passa por momentos na sociedade em que o poder da tecnologia é superestimado. 

Para ele, a nossa vida mudou pouco com a  “aceleração tecnológica” e que, em termos de dinheiro, “a tecnologia está em todos os lugares, mas não está nos números”. 

“Antes dos computadores, desde a revolução dos combustíveis fósseis, o mundo crescia 2% per capita, passaram as eras de avanços techs e nós crescemos menos”, afirma. 

Um pouco de Brasil

Ainda sobrou tempo para falar sobre a economia brasileira, tanto do prisma macro quanto micro. 

Sobre bolsa, para José Rocha, muitos dos ativos são reflexos do juros – que estão altos. Logo, se a taxa arrefecer, com um cenário externo que vem colaborando, a bolsa está no nível mais barato dos últimos 25 anos. O câmbio está quase compatível com o de 2002. “O que precisa é o mínimo de sinalização positiva”, aponta, citando o cenário macro.

Já o gestor da Kinea está inclinado à avaliação de que a Bolsa está, sim, barata, mas com o atual nível de juros reais e ruídos políticos, assim deve permanecer. Para exemplificar, ele citou casos como Japão e Inglaterra, em que a Bolsa ficou “de lado” por décadas.

Os dois concordaram no ponto do estrutural de longo prazo do Brasil ser favorável. Afinal, o país tem água, energia barata e limpa, é produtor de alimentos e possui um grande mercado consumidor. O adendo de ambos é que, para atingir um bom resultado, é necessário “andar pelo caminho certo”.

Não para por aí 

Esses foram apenas alguns dos tópicos abordados ao longo de mais de 2 horas de entrevista. Para conferir esse papo valiosíssimo não íntegra, não deixe de assistir ou ouvir o episódio 181 do Stock Pickers.

Rafaella Bertolini

Editora de redes sociais do Stock Pickers e Do Zero ao Topo. Escreve reportagens sobre empreendedorismo, gestão, inovação e mercados para o InfoMoney.